28 de set. de 2008

ERIK

Minhas(meus) queridas(os) fãs do Gerry:

Há pouco tempo atrás, a Pati me pediu para postar a minha versão para a continuação do Fantasma da Òpera, que fiz baseada no filme maravilhoso, encenado pelo Gerard Butler como protagonista. Assim, para animar um pouco o nosso blog coletivo, resolvi iniciar com o primeiro capítulo no dia de hoje. Sei que a maioria já deve ter lido anteriormente lá no Orkut, mas se tivermos novos leitores, espero que a minha versão agrade a todos. Eu escrevi esta continuação algum tempo depois de ler "O Fantasma de Manhatan", do Frederick Forsythe. Apesar dele ser um escritor excelente, na época achei que ele não tinha conseguido realizar um grande romance e, modestamente achei que poderia escrever algo mais interessante. Voces me dirão se consegui ou não...

ERIK

Novamente em fuga. De volta aos esgotos. Mais uma vez, rejeitado. Christine me abandonara definitivamente. Tinha esperanças que ela ficasse comigo, mas seu amor por Raoul era maior. Devia saber que ela não trocaria o belo visconde por um deformado como eu. Ela não merecia o meu amor. Em nosso único beijo pude perceber que ela faria qualquer coisa para salvar seu amante. Eu podia entender agora. O amor nos faz cometer loucuras. Agora, seguiria meu caminho. Começaria do zero, mais uma vez. Esta era a minha vida, minha sina, meu destino. Quando poderia dar sossego a minha alma atormentada? De tudo que aconteceu, levara uma lição...nunca mais colocaria alguém acima de mim mesmo. Tudo que conseguira ao longo dos anos, perdidos numa só noite, por causa de uma mulher. Uma mulher...Christine...
Ouvi as vozes dos soldados ao longe. Gritos de pavor vindos das ruas, acima de mim. O calor das chamas. Podia senti-lo, queimando toda a beleza daquele teatro magnífico, que por tantos anos fora meu lar. Um lar de sombras, de noite eterna, mas um lar.
De repente, ouvi em forte estrondo e alguns destroços caíram sobre mim. Entre as pedras que desabavam, enfraquecidas em suas ligas, pelo fogo, havia estacas de madeira. Uma delas, precipitou-se rapidamente sobre minhas costas, cravando-se em minha carne, provocando uma dor intensa. Devo ter perdido os sentidos naquele momento, pois não lembro de ter visto mais nada depois disso. Não sei quanto tempo ali fiquei, deitado, naquelas ruelas fétidas , subterrâneas, até recuperar a consciência. Levantei-me e continuei minha fuga. Agora, sentia muita dor. Minha camisa estava colada ao corpo. Não pelo suor ou pela água, mas por sangue, que fora perdido em grande quantidade. Sentia-me fraco. Precisava sair daquele lugar, antes que alguém me encontrasse. Todos deviam estar ansiosos por encontrar este “ser maligno, deformado, homicida sanguinário”. Ninguém sentiria compaixão por mim, nem ouviria minhas explicações. Nada explicaria aquela violência e aquela raiva contida numa só pessoa. Talvez Christine compreendesse. Vi nos olhos dela que sim. Outra pessoa já tinha entendido este meu lado. Não podia esquecê-la. Madame Giry. Annie Giry. Minha salvadora. Talvez...Quem sabe ela não pudesse ajudar-me agora. Seria ela capaz de arriscar-se novamente por mim? Depois de tudo que ocorrera naquela noite?
Ao encontrar uma saída para o ar livre, cobri-me com minha capa. A máscara que usava ficara perdida no meio dos escombros. Para onde Annie e sua filha poderiam ter ido? Seu lar também fora destruído. Lembrei que, certa vez, ela havia falado na casa de um irmão em Monmartre, próxima a Sacré-Couer Talvez tivesse ido para lá, até encontrar um lugar definitivo. Segui em sua direção. Lembrei do endereço. Não era difícil de achar. Com dificuldade, andei, esgueirando-me pelas ruas de Paris, como facínora perseguido que era. Cerca de quase duas horas depois, estava lá. Havia uma fraca lamparina acesa. Procurei a porta dos fundos. Consegui abri-la com facilidade. Entrei silenciosamente, indo na direção da luz. Num instante, ouvi vozes femininas, sendo que uma estava chorando. Era Meg. Pareciam estar sozinhas. Não queria assustá-las.A dor nas costas estava incomodando muito. Tropecei num pequeno tapete, não visualizado no escuro.
_ Quem está aí? – perguntou a voz conhecida.
Ela pegou um pesado candelabro que estava sobre a mesa e levantou-o no ar, pronta para desferir um golpe no intruso oculto nas sombras da sala.
_ Sou eu, Annie! Erik! - Minha voz saía fraca. Perdia as forças rapidamente.
_ Erik! Meu amigo! O que houve com você?
Ela ainda me considerava seu amigo. Era uma pessoa especial. Tinha muito a aprender com ela. Desperdiçara meu tempo com vingança e um amor tolo, ao invés de prestar atenção a quem tinha algo de valor a ensinar. Talvez fosse tarde demais para isso.
_Annie, me perdoe. A culpa foi toda minha. Fui um estúpido. Deveria ter morrido naqueles subterrâneos. Só agora vejo que você tinha razão.
_ Erik.! O que aconteceu? Você está sangrando muito.
_ Mamãe! Nós não podemos ajudá-lo! Ele está sendo perseguido pela polícia. Se souberem que o ajudamos, seremos presas como cúmplices!
_Cale-se, Meg! Não foi assim que a ensinei! Ajude-me aqui, agora!
Com muito esforço, conseguiram levantar-me do chão e levar-me até um pequeno sofá, onde, após despir-me da capa e de minha camisa, puderam ver um ferimento cortante, amplo, com uma séria hemorragia.
_ Meg, traga-me água quente, panos limpos , agulha de bordar e uma linha de algodão. Rápido!
_ Melhor deixar que eu morra. Já prejudiquei muita gente.
_ Cale-se, você também, Erik. Agora vou dar um jeito neste ferimento. Não quero vê-lo morrer dentro de minha casa, na frente de minha filha. Assim que você estiver recuperado, poderá fugir e tentar refazer a sua vida. Agora, temos de pensar numa maneira de diminuir a dor que você irá sentir quando eu tiver de costurá-lo.
Falando isso, foi a cozinha, onde pegou uma garrafa de conhaque. Fez-me beber vários goles. Em pouco tempo já estava tonto. Não estava acostumado a beber tanto.
Meg voltou com o pedido da mãe. O ferimento foi limpo e logo, ela fazia o seu trabalho de costureira. Durante o procedimento, desmaiei. Não só pela dor, mas por estar fraco demais com a perda de sangue.

Acordei. Estava deitado em uma cama, com lençóis limpos. Meu peito encontrava-se enfaixado com gazes brancas. A dor recomeçara. Não conseguia mexer-me. Ainda estava fraco.
_ Bom dia! Como está meu paciente? Sobreviveu ao meu trabalho de açougueiro? Trouxe-lhe um caldo de galinha quentinho, para recuperar suas forças.
_Annie...Como vou poder agradecê-la por tudo que está fazendo por mim?
_ Ficando bom logo, para poder ir embora daqui - falou sorridente.
_ Erik, falando sério, o seu ferimento foi bem profundo. Você tem que repousar, pois ele pode sangrar de novo. Não tente fugir. Você está seguro aqui.
_ E o seu irmão?
_ Ele faleceu há cerca de seis meses. Deixou-me esta casa como herança, pois não tinha herdeiros.
_ Eu não sabia. Porque não me contou?
_ Você estava muito envolvido com os seus planos e com a sua pupila. Não quis incomodá-lo.
_ Annie, eu sinto que tudo isto que aconteceu mudou o meu modo de pensar. Parte daquele ódio que eu sentia deu espaço para outros sentimentos. Se eu conseguir sobreviver a tudo isto, vou embora para outro país, tentar recomeçar minha vida, de outra maneira.
_ Erik, como é bom ouvir isto! Já é tempo de você deixar o passado de lado. Você é um homem muito inteligente e talentoso. Não pode deixar que um simples defeito físico atrapalhe sua vida. Você sabe que pode contar comigo...Sempre.
_ Eu sei, Annie, e sou profundamente grato a você.
Mais uma noite de sonhos terríveis me aguardava. Sempre a perseguição era o tema principal. Era perseguido por sombras demoníacas, ávidas por meu sangue. Por minha cabeça. Às vezes, Christine surgia do nada. Por vezes queria ajudar. Via suas delicadas mãos tentando alcançar-me ou puxar-me para fora da escuridão. Outras vezes, ela surgia unida às sombras ou a Raoul, vociferando contra mim. A sensação de morte iminente era quase real.
Ao final, acordava banhado em suor e com as têmporas latejantes.

2 comentários:

Ligia Bento disse...

Primeirona!
Ro, eu ainda não tinha lido a sua fic sobre a continuação de "POTO"!
Maravilhosa! Esse povo tinha que descobrir você, com esse seu talento do outro mundo!
Não demore a postar, estarei esperando cada pedaçinho da sua história!
Sr. Webber tinha que ler isso!
Bjim♥

Lucy disse...

Ai, se o começo já é assim tão bom!
Tadinho Rô, meu peito já ficou pequenininho com toda essa dor do nosso Erik, essa tristeza.
Vc conseguiu relatar muito bem a saída dele do teatro e tudo o que se passa na nossa cabeça num momento desses como o que ele estava vivenciando, com uma riqueza deslumbrante de tantos pormenores!
Só um detalhe: já que o Erik estava disposto a mudar de país, deveria vir para o Brasil!!! (rsrsrss).
Beijinhos