30 de set. de 2008

ERIK - VI Capítulo



Um ano já se passara. Nenhuma notícia de Erik. O reinício tinha sido difícil. Esperava que ele tivesse conseguido recompor sua vida. Pelo menos não tinha sido capturado. Meu trabalho atual não era dos mais gratificantes, mas eu continuava atuando junto a espetáculos de dança. Conseguira um emprego no Folies Trévise, um teatro de variedades, onde realizavam operetas, óperas cômicas e audições musicais. Nada que se comparasse com a Ópera, mas muitos políticos eram atraídos para lá. Não só pelas óperas em si, mas pelas dançarinas. Eu atuava como coreógrafa e ensaiava as meninas. Terminava meu trabalho e ia embora. O que elas faziam depois dos espetáculos não me interessava. Não pretendia me envolver com estes “problemas”. Parece que, antes do final do ano, o nome do teatro seria modificado. Estavam pensando em algo como Folies Bergère. Queriam melhorar a qualidade das apresentações. Talvez melhorasse meu salário também.
Quanto a Meg, resolveu abrir uma pequena escola de balé para crianças. Esvaziamos o primeiro andar da casa que meu irmão deixara, colocamos barras nas paredes e voilà. Ali, ela passava a tarde a dar aulas às filhas dos comerciantes do bairro. Com isso, conseguia complementar nossa renda. Precisávamos sobreviver.
Quantas mudanças a partir daquela noite. Quantos perderam seus empregos. Meg e eu havíamos tido muita sorte em ter onde morar e por ter conseguido formas de sustentar-nos.
A reconstrução da nova Ópera já saíra dos planos e começava a manifestar-se na restauração das estruturas antigas. O incêndio havia sido controlado a tempo, poupando as fundações e a estrutura principal de teatro. Um arquiteto desconhecido de nome Charles Garnier assumira o comando dos trabalhos. Ainda tinha esperança de um dia voltar a reassumir meu antigo emprego. Quem sabe?
De novo perdida em pensamentos. Mon Dieu! Vamos trabalhar, mulher! Já estava na hora de ensaiar aquelas tresloucadas do Folies.
Saí para a minha caminhada diária de quase três quilômetros para chegar ao trabalho. Não podia dar-me ao luxo de pegar um coche. Considerava aquilo como um aquecimento antes dos ensaios. Já não tinha mais tanto medo da volta, em torno das 23 horas, pois já era conhecida nas redondezas e os malandros do bairro me respeitavam.
Ao voltar para casa, estava tão cansada que nem tive ânimo para comer qualquer coisa, apesar de Meg ter deixado meu prato pronto. Minha querida filha. Sempre tão prestativa e companheira.
No dia seguinte, pela manhã, enquanto estava arrumando nossos quartos, ouvi a voz de Meg, chamando por mim:
_ Mamãe, chegou uma carta para a senhora.Parece que é da Inglaterra?
_ O quê? – desci as escadas correndo e, por pouco não tropeço nos últimos degraus.
_ Olhe, mamãe! De quem será? Algum admirador secreto que a conheceu no Folies?
_ Olha o respeito comigo, menina! Onde já se viu?
Peguei o envelope e fiquei tentando imaginar quem teria escrito. Será que finalmente eu teria notícias de meu amigo?
_ Abra, mamãe! Estou curiosa!
_ Calma... – cuidadosamente, abri o envelope e comecei a ler seu conteúdo.
Bastaram poucos segundos de leitura para que minhas lágrimas viessem à tona. Uma grande tristeza abateu-se sobre mim. Não era o tipo de notícia que eu esperava.
_ O que houve, mamãe? Porque está chorando? Quem escreveu?
Não conseguia encontrar palavras para responder a minha filha, por isso deixei-a ler a carta.
Ele finalmente tinha encontrado paz. Parece que, pelo menos tinha feito um amigo. Paul Marback. Quem seria ele? Pedia para encontrar-se comigo assim que chegasse a Paris.
Precisava encontrar Christine. Erik desejava que estivéssemos juntas durante o funeral.
Será que ela já sabia do ocorrido? Como ela reagiria a esta notícia? Provavelmente com alívio.
_ Erik...ele morreu. Ah, mamãe, sinto muito. Sente-se aqui. Vou buscar um copo de água para a senhora.
_ Ele queria ser enterrado sob o teatro. Como vão conseguir isto? O prédio está em obras. Preciso falar com Christine – Tomei um gole da água que Meg me oferecia.
_ Coitado. Pelo menos não viveu seus últimos dias dentro de uma prisão infecta.
_ Tem razão, minha filha.
Enxuguei minhas lágrimas. Nunca mais falara com Christine, desde que ela se tornara Viscondessa de Chagny. Evitara procurá-la para não fazê-la sofrer mais com recordações. Ela devia estar tentando esquecer o passado. Mas, agora...Teríamos de nos reencontrar pela memória de Erik. Como reagiria Raoul?
Dezenas de pensamentos vieram atordoar-me a cabeça.
_ Mamãe, fique descansando aqui. Deixe que eu preparo nosso almoço. Logo as crianças vão estar chegando para a aula. A senhora vai trabalhar?
_ Claro, filha! Imagine! Não posso me dar ao luxo de ficar chorando por um amigo em casa. Vai ser bom trabalhar para distrair-me um pouco desta dolorosa notícia.
_ Então, fique sentadinha aqui, enquanto preparo algo para comermos. Está bem?
_ Claro, meu anjo. Obrigada.
Beijei suas mãos e ela saiu em direção à cozinha.
Ali fiquei. Sentada, inerte, tentando imaginar o que teria acontecido com Erik desde a sua saída de minha casa até este triste desfecho. Como teria conhecido o senhor Marback?
Talvez Christine soubesse mais detalhes. De repente, veio uma vontade incontrolável de chorar. Chorei baixinho para não incomodar Meg. Chorava por Erik, por Christine, por minha filha, por mim.
À tarde, fui trabalhar. Pelo menos, enquanto ensaiava com as dançarinas, esqueci por alguns momentos da carta.
Naquela noite, mal consegui pegar no sono, apesar do cansaço. Ao levantar pela manhã, sentia a cabeça pesada e o corpo todo dolorido. Tinha de aprontar-me para procurar Christine. Como seria o nosso reencontro?
Meg insistiu em ir comigo ver a antiga grande amiga. Apesar de não achar conveniente, devido à motivação que nos levava a fazer aquela visita, permiti que ela fosse.
Logo após um breve café da manhã, seguimos as duas rumo ao nobre bairro Champs-Elysées, onde moravam os Viscondes de Chagny.


Um comentário:

Lucy disse...

Vixe, coitada dela, receber tão triste notícia por carta...

Ficar imaginando por tudo o que Erik passou durante toda a sua vida, seu sofrimento pelo escárnio dos outros, sua luta pelo amor de Christine... todas essas coisas vêm à nossa cabeça, numa hora dessas...

E ela ali, tão amiga, mas ao mesmo tempo, tão impotente. Fez o que pôde por ele, o ajudou muito da melhor forma como podia, mas a gente sempre fica achando que o mundo é muito injusto...

Vou ali pegar o meu lencinho...

Beijinhos