30 de set. de 2008

ERIK - VII Capítulo

Saí de casa, ainda atordoado com a notícia da morte do “Fantasma”. Por outro lado, sentia-me aliviado por aquela história ter chegado ao fim. A certeza de que ele desaparecera para sempre da vida real, talvez o fizesse sumir de nossos pesadelos e temores mais profundos. Christine voltaria a ser somente minha.
Teria de partir para Calais no dia seguinte, se quisesse chegar a tempo de encontrar o tal Paul Marback. Precisava falar com as autoridades responsáveis pelas buscas, ainda hoje, e obter a permissão para enterrá-lo nos subterrâneos da Ópera, que já se encontrava em obras de restauração. Acabei decidindo pedir ajuda ao Marquês de Cluny, meu amigo, que mantinha ótimas relações com os funcionários da Justiça parisiense. Tinha certeza que ele conseguiria ajudar-me nesta empreitada.
Cheguei a sua casa logo após o almoço. Fui recebido efusivamente:
_ Meu caro Raoul! O que o traz à minha presença tão prematuramente após nosso jantar de ontem? Christine está bem? Melhorou de sua indisposição?
_ Ah, sim, obrigado. Ela está bem. Na verdade, vim até aqui para pedir-lhe ajuda numa situação muito delicada que surgiu hoje pela manhã.
_ Sente-se, meu amigo. Conte-me o que houve.
Sentei em uma poltrona a sua frente, na sala de fumar.
_ Aceita um? – falou, oferecendo-me um charuto.
_ Não, obrigado, Claude.
Enquanto ele iniciava a sua cerimônia de cortar, acender e dar uma bela baforada em seu charuto, comecei a contar-lhe os motivos de minha visita:
_ Em nosso jantar de ontem, havíamos comentado sobre o fato de ainda não ter sido capturado o causador da grande tragédia do ano passado.
_ E?
_ Pois hoje, recebemos a confirmação de que ele está morto. Seu corpo chegará em 5 de Abril, no porto de Calais.
_ Tem certeza disso?
_ Absoluta.
A partir daí, passei a relatar-lhe sobre a carta que Christine recebera e o seu conteúdo. Não sabia dizer quais provas seriam dadas para comprovar o fato, mas estaria em Calais no dia marcado para verificar a veracidade disto tudo.
_ Mas existem alguns problemas, meu caro Claude. Neste sentido é que precisarei da sua ajuda.
_ Quais problemas?
_ O falecido exige ser enterrado nos subterrâneos da Ópera.
_ Como assim, exige?
_ Um último desejo.
_ Mas, um criminoso não tem esse direito – ele estava indignado.
_ Claude, agora, lhe falando como amigos que somos, gostaria que relevasse este pedido e conseguisse a permissão para tal.
_ Porquê?
_ Por Christine. Ela está muito abalada com o que ocorreu. Como você sabe, ele foi seu professor de canto. Apesar de ser um louco, ele representou uma fase importante de sua vida. Ela acreditava que ele era um anjo enviado por seu pai, para ajudá-la após sua morte. Não podia saber da mente insana que estava por trás disso.
_ Pobre Christine. Eu entendo. Bem, vou fazer o possível. Por Christine e por você, meu bom amigo. Ela não pode incomodar-se no atual estado em que se encontra. Temos que pensar no seu herdeiro. A minha pobre Dauphine não conseguiu me dar filhos, apesar de ter sido uma esposa maravilhosa. Fique tranqüilo, Raoul. Nós vamos conseguir que o último desejo do crápula seja realizado. Não por ele, mas por sua família.
_ Fico extremamente grato por sua compreensão, Claude.
_ Você parte para Calais amanhã, eu presumo?
_ Sim. São dois dias de viagem de carruagem. Quero estar lá quando o corpo chegar.
_ Bem, assim que você retornar, avise-me, que eu estarei com tudo preparado para dar um fim a esta história lamentável.
_ Estarei em eterno débito com você, Claude.
Nos despedimos com um caloroso aperto de mãos. O Marquês de Cluny sempre tinha sido um verdadeiro amigo. Sabia que poderia confiar nele numa hora como esta. Naqueles tempos, ainda era uma boa coisa ser nobre. A revolução não conseguira acabar totalmente com alguns privilégios.
Agora que conseguira resolver meu problema, sentia-me melhor. Melhor seria quando visse o “Anjo da Música” enterrado, definitivamente.
Já na rua, depois de minha visita, fui até um café próximo a Sainte-Chapelle. Fiquei degustando uma taça de conhaque, relembrando todos os momentos que passara desde o reencontro com Christine, na Ópera, até os momentos em que vimos Erik pela última vez, no meio das chamas. Como gostaria de acreditar que tudo voltaria ao normal.
À tardinha, ao voltar para casa, encontrei Christine com melhor aspecto, carinhosa como sempre, mas ansiosa para saber se tinha conseguido permissão para o enterro.
_ Não se preocupe, querida. Tudo vai ser como ele pediu. O marques de Cluny me garantiu que conseguirá a permissão.
_ Ah, Raoul, muito obrigada. Sei que é duro para você vivenciar tudo isso, mas agora este assunto estará encerrado.
_ Você jura? Acredita realmente nisso?
_ Claro. Você duvida disso?
_ Não sei, Christine. Às vezes sinto que os seus pensamentos vão para o seu “Anjo da Música”. Sinto-me sozinho.
_ Você está imaginando coisas, Raoul. Eu te amo muito. Nunca duvide disso.
Ela aproximou-se de mim e abraçou-me, repousando a cabeça de cabelos longos e cacheados em meu peito. Ah! Como eu amava aquela mulher. Seria capaz de qualquer coisa por ela.
_ Amanhã parto para Calais, pela manhã. Espero estar de volta em cinco dias. Melhor não falar com ninguém sobre isso. Não sei como Claude vai conseguir estes favores ou com quem. Assim, é melhor manter o sigilo. Está bem?
_ Está bem.
Daquela noite até o momento de minha partida, na manhã seguinte, não tocamos mais no assunto Erik.

Um comentário:

Lucy disse...

Afffffffff... Não tem jeito, o Raoul é muito carinhoso, delicado, mas dá uma vontade de mandá-lo ir catar coquinhos...

Fazer o que, ele que não espere que uma gerrymaníaca torça por ele... impossível!

Mas ele se deu bem: casou com a Christine, vai ter um herdeiro - tudo o que o nosso Fantasma gostaria...

Queria que o Erik fosse feliz assim...

Beijinhos