28 de fev. de 2009

Encontro Noturno

Capítulo 4


_ Ah! Assim está muito melhor. Está linda...para a nossa reunião de negócios. Quando me perguntarem sobre quem era a bela dama ao meu lado esta noite, poderei dizer que era a minha assessora de publicidade. Aposto que sua clientela vai aumentar rapidamente.
_ Imagino o tipo de cliente que você vai me arranjar – disse Sophia, com um belo sorriso nos lábios, sentindo-se lisonjeada e feliz com a troca de vestuário. Ele afinal tinha razão. Uma publicitária como ela devia saber que a aparência também é importante também nos negócios, apesar de imaginar que não era este o intuito de Stefan.

Conduzida cortesmente por ele até o carro estacionado diante de seu edifício, partiram para o requintado restaurante paulista. Ela já havia estado lá com Paulo, uma vez, no dia em que ele sugeriu que fossem morar juntos. Depois de serem acomodados pelo maitre e retirados seus pedidos de jantar, Sophia fez questão de iniciar a demonstração do que conseguira nos três últimos dias para a projeção da Galeria Paole. Sob o olhar atento de Stefan, ela começou a explanar suas idéias promotoras do centro de arte. O entusiasmo dela parecia tomar conta dele também.
_ Claro que tudo isto terá um custo. Um alto custo. O uso de horários nobres na TV são caríssimos.
_ Isto não é problema. Apenas faça o seu orçamento e me apresente. Apreciei muito o seu entusiasmo com respeito ao meu local de trabalho. Não tinha noção do potencial para o sucesso que uma pequena galeria de arte poderia ter. Não me enganei a seu respeito, Sophia.
_ Muito obrigada. Espero que consigamos atingir todos estes objetivos iniciais. Eu acredito que sim. São Paulo é um grande centro cultural no Brasil e na América Latina. Temos muito espaço para novidades neste meio. Não quero que se decepcione comigo, isto é, com meu trabalho – sentiu o rubor subir a sua face.
Ele sorriu, buscando tocar a mão de Sophia que descansava sobre a mesa, ao lado de seu prato.
_ Tenho certeza de que você não me decepcionará...nunca.
Ao sentir aquele toque, Sophia retirou a mão rapidamente, como se ferro em brasa a tivesse tocado.
Ele se manteve em silêncio, que foi quebrado pela chegada do garçom trazendo uma garrafa de champagne, para surpresa de Sophia que não ouvira Stefan fazendo este pedido. Será que ficara tão entusiasmada com sua explanação que não viu seu acompanhante falando com o mâitre?
Diante da expressão dela, Stefan adiantou-se:
_ Para comemorarmos nosso feliz encontro profissional e brindarmos um futuro próspero...
Elevou sua taça em direção à Sophia, que imitou seu movimento e, tocando suas taças de leve, fazendo-se ouvir o suave tilintar do cristal, falou, olhando-a com carinho indisfarçável:
_ Cheers...
_ Cheers – respondeu ela, sem poder fugir daquele olhar magnetizante.
Ao baixar das taças, Stephan perguntou, mantendo seu olhar fixo sobre ela:
_ Conte-me um pouco sobre você...O que a levou a ser publicitária? Sua família?...
_ Acho que você deve ter uma vida mais interessante que a minha. Não creio que as minhas histórias mereçam atenção.
_ Tudo que se relacione a você me interessa muito...
Ao ver a expressão de contrariedade de Sophia, ele remendou sua frase:
_... Afinal quero conhecer melhor a minha promotora. Gosto de conhecer bem as pessoas com quem trabalho.
_ Eu posso lhe mandar o meu currículo por e-mail, se desejar - contestou Sophia, zombeteiramente.
_ Prefiro o conhecimento olho-a-olho. Não gosto destas modernidades como a Internet. Não uso computadores.
_ Talvez tenha que repensar sobre isto. É um excelente meio de comunicação. Bem, o que posso lhe dizer é que terminei meu curso de Publicidade há cerca de oito anos atrás. Trabalhei em várias agências conhecidas, como a do Olivetto, por exemplo, e depois de batalhar muito, resolvi me associar com uma grande amiga, também publicitária, e fundar nossa própria agência. Isto aconteceu há três anos e, em razão de árduo trabalho e dedicação quase exclusiva, conseguimos ter o relativo sucesso que temos hoje. Mas ainda falta trilhar um longo caminho para alcançar os melhores do ramo.
_ Você é muito ambiciosa. Não acha que o lado emocional também é importante?
_ Você parece minha sócia falando – respondeu sorrindo – Aprendi a perseguir os meus objetivos com garras e dentes. Aprende-se isso já na faculdade. Depois somos jogados neste mercado selvagem que é São Paulo e, então, ou lutamos ou somos apenas mais um na pobre multidão, mendigando por um espaço.
_ Você é muito jovem para ser tão amarga. Não acha?
_ Acho que você se dará muito bem com minha sócia, a Carol. Vocês tem o mesmo discurso em relação a mim.
_ E o seu noivo, também pensa assim?
_ Nós somos parecidos nesta maneira de pensar. Ele também está atrás de seus objetivos profissionais, que não são humildes.
_ Imaginei...
_ Por que?
_ Para deixá-la sozinha num fim de semana , deve ter um bom motivo ...profissional. Tem certeza que ele está trabalhando?
_ Como assim? Claro que está! – de repente ela se deu conta que estava começando a se abrir demais para aquele desconhecido e ele, por sua vez, começando a intrometer-se onde não devia.
_ Desculpe-me. Não quis ser intrometido. Mas se eu fosse o seu noivo, não a deixaria só desta maneira.
_ Acho melhor encerrar o nosso encontro agora. Já que você aceitou minhas idéias, preciso começar a pô-las em prática. Posso mandar um contrato na segunda-feira para que você assine. Caso discorde de algum ponto, é só entrar em contato conosco. Creio que tem o meu cartão com nossos telefones, não?
_ Acalme-se. Você não pretende trabalhar ainda esta noite. Pretende? Eu estava planejando levá-la para dançar um pouco.
_ O quê? Dançar? – ela estava surpresa com a nova proposta de Stefan – Não acho que isto seja adequado.
O olhar dele era por demais perturbador. Repentinamente, sentiu uma vontade enorme de estar entre seus braços e dançar com seu corpo colado ao dele. Lutava contra este desejo absurdo, quando ele se fez ouvir:
_ Sophia, do que você tem medo? Vamos sair apenas como amigos. Nada demais. Faz muito tempo que não tenho uma companhia feminina para sair à noite. Por favor... Nós podemos ser amigos, não?
A voz calorosa e rouca dele penetrava na mente de Sophia, embriagando-a, quase a obrigando a ceder ao pedido dele.
_ Olhe, Stefan, podemos ser amigos sim. Talvez até possamos sair para dançar...Mas em outra ocasião. Não hoje – quase mudou de idéia ao ver o rosto dele entristecer, mas manteve-se firme.
_ Está bem, Sophia. Você tem razão. Vou desacelerar. Não há razão para pressa. Teremos muito tempo para nos conhecermos e sermos... amigos.
_ Obrigada, Stefan.
Ele ergueu a mão, chamando a atenção do garçom e pedindo a conta. Aparentemente havia aceito bem a negativa de Sophia ao seu convite.
Deixaram o restaurante e, em poucos minutos, ela estava diante de seu prédio. Ele fez questão de descer do carro para abrir a porta.
_ Pode mandar o contrato para que eu o assine na segunda feira. Vou ficar esperando. Por favor, me mantenha informado sobre os seus progressos na campanha.
_ É claro...Boa noite, Stefan.
Antes que ela pudesse virar-se na direção da entrada do edifício, ele segurou sua mão e, delicadamente, pousou os lábios em seu dorso, beijando-a suavemente, provocando um tremor de prazer em Sophia.
_ Boa noite – respondeu, olhando-a intimamente.
Ele esperou que ela ficasse segura, atrás dos portões de ferro de seu edifício, para dar partida no carro e desaparecer na penumbra das ruas.
Ao entrar em seu apartamento, olhou para a secretária eletrônica, na esperança de que houvesse algum recado de Paulo, que pudesse ocupar seus pensamentos com outra coisa que não fosse a imagem e a voz de Stefan. Foi até a cozinha, tomou um copo de água e resolveu ir para a cama. A noite estava abafada, quente. Vestiu uma camisola fina de algodão e deitou-se, esperando que o sono a ajudasse a esfriar a cabeça e...o desejo. Pensou em ligar para Paulo. Talvez se ouvisse a sua voz... Mas desistiu, com medo de incomodá-lo. Talvez já estivesse dormindo. Ligaria na manhã seguinte. Rolou entre os lençóis durante muito tempo. Quando estava quase pegando no sono, sentiu o mesmo perfume estranho, excitante e másculo, já seu conhecido. Teve medo de abrir os olhos. Sentiu a aproximação de alguém e sentiu-se paralisada. Não conseguia mexer um músculo. Foi ouvir seu nome, sussurrado por uma voz conhecida, que a fez estremecer. Conseguiu abrir os olhos e deparou-se com o vulto de Stefan...Dentro do seu quarto? Como era possível? Como ele entrara lá? Ele estava ao lado da cama, estendendo sua mão para ela, com um sedutor sorriso. Sophia buscou por sua voz, mas as palavras não saíam. Sua garganta petrificara. O chamado de Stefan era irresistível.
_ Sophia, venha...Vamos dançar. Está uma noite perfeita para isso.
Com facilidade inesperada, ela conseguiu erguer-se do leito e elevou a mão direita na direção da mão que a chamava. Sentiu uma incandescência percorrer todo seu corpo ao sentir o toque de Stefan. Ele a ajudou a levantar-se e aproximou-se um pouco mais. Ela podia sentir o hálito quente e ofegante daquele homem. Podia sentir o desejo fluindo entre eles. Sentiu sua cintura cingida pela mão ampla e forte, puxando-a na direção do elegante vulto. Então uma sensual dança foi iniciada, mantendo seus corpos muito próximos, bem como os rostos quase colados. Apesar de não haver música, Sophia sentia-se quase flutuar, inebriada com aquela presença. Não pensava em mais nada. Apenas deixava-se levar pelo clima de sedução que pairava no ar. Logo, as mãos de Stefan deslizavam da cintura para as costas e nádegas dela. Ondas de arrepios cruzavam o íntimo de Sophia. Seu corpo preparava-se para receber aquele estranho, ansiosamente. De olhos fechados, ofereceu-lhe os lábios, sedentos por um beijo longo e apaixonado. Pode sentir o leve toque dos lábios de Stefan, seguido por sua voz a segredar:
_ Não tenha pressa...Você será minha, mas ainda devemos esperar...
De repente, sua presença esvaneceu-se e apenas uma aragem de verão acariciou-a.
Abriu os olhos e constatou que estava sozinha, caída entre os travesseiros da cama. Mais um sonho... O que estava acontecendo? O dia já estava amanhecendo. Sophia deitou-se novamente, ainda sob o efeito das emoções de seu sonho.

27 de fev. de 2009

Encontro Noturno

Capítulo 3


Já faziam mais de 10 minutos que Sophia tentava conseguir um táxi, mas ainda não tivera sorte. Não se dera conta que o tempo passara tão rápido. Já era quase 21 horas. Começou a ficar com medo. Tentou ligar de seu celular para uma empresa de táxi conhecida, mas ninguém atendia. Enquanto estava na galeria, o tempo havia mudado. Nuvens cinzentas e espessas haviam tomado seu lugar no céu poluído e a tempestade de verão era inevitável. Quando começou a sentir os primeiros pingos grossos da chuva, viu uma Mercedes conversível, preta, com a capota fechada, parar diante dela, no meio fio, buzinando. O vidro elétrico foi aberto e ela pode ver o motorista. Era Stefan.
_ Vamos! Entre aqui antes que fique encharcada.
“Será que ele é sempre autoritário assim?”, pensou, enquanto entrava a contragosto dentro do carro, cuja porta já tinha sido aberta.
_ Eu lhe disse que não seria fácil pegar um táxi a esta hora, nesta rua. Você é sempre teimosa assim? – perguntou, com os lábios mostrando um sorrisinho irônico.
_ Eu não tinha percebido que já era tão tarde. Não queria lhe dar este trabalho – ela falava tentando não olhá-lo nos olhos.
_ Eu tinha um compromisso e tinha de sair de qualquer jeito. Portanto não está me dando trabalho algum. Apenas um prazer...
“Porque ele tem de ser tão sedutor?”
_ É melhor me dizer o seu endereço, caso contrário serei obrigado a levá-la ao meu compromisso... – disse ele alargando ainda mais seu sorriso.
_ Pensei que pudesse ler meus pensamentos... – murmurou ela, sem querer.
_ Vou tentar manter a sua privacidade – disse ele, olhando em frente.
_ Como? – perguntou ela surpresa.
_ Vai me dar o seu endereço ou não? – ele continuava divertindo-se muito com a conversa.
Ela acabou por rir, pensando em como estava sendo idiota, agindo daquele jeito. Acabou por dizer o nome da rua e o número de seu prédio.
_ Desculpe. Você deve estar pensando que sou meio doida.
_ Não estou pensando nada – ele agora olhava para a rua, cuidadoso com o trânsito a sua frente.
Após alguns minutos de silencio, ele perguntou:
_ Seu noivo não fica preocupado com você andando sozinha por esta cidade?
_ Não. Ele sabe que sei me cuidar muito bem.
_ Sabe mesmo? – continuou sem olhar para ela – Esta cidade é muito perigosa para uma mulher como você ficar andando por aí desacompanhada.
_ De que século você veio? Temos que trabalhar e enfrentar estes riscos do dia-a-dia, homens ou mulheres.
Ele se calou e assim, em silencio, permaneceram até chegarem ao prédio onde Sophia morava. A chuva já tinha parado e dela só sobraram as poças de água refletindo o brilho das luzes da rua.
_Bom...Muito obrigada pela carona.
_ Foi um prazer, como já disse antes – disse, cravando seu olhar sobre ela, deixando-a sem palavras.
Sophia abriu a porta do carro e saiu forçando-se a não olhar para trás, pois ainda sentia o olhar penetrante de Stefan sobre ela.
Quando conseguiu fechar a porta atrás de si e sentir-se “segura” dentro de seu apartamento, sentou-se em seu sofá e começou a perguntar-se o que estava acontecendo com ela. Sempre fora tão segura em relação aos homens, nunca deixando as emoções tomarem conta, conseguindo lidar perfeitamente com clientes que jogassem charme sobre ela, como era inevitável em alguns casos. Mas com Stefan tinha sido diferente. Ele não tentara nada, pelo menos não diretamente. Mas ele conseguira mexer com ela, de uma maneira totalmente inesperada, deixando-a sem ação, controlando a sua vontade. Marcara uma reunião de negócios em pleno sábado à noite! E ela permitira! O que ele estava pensando? Daria um jeito de marcar outro dia. Daria a desculpa de que o noivo havia chegado de viagem e que teriam um jantar inadiável com a família dele. É...Faria isso.
Tomou um banho, comeu uma das refeições congeladas que tinha para emergências no freezer e resolveu dormir mais cedo. Pegou um livro, mas seu pensamento fugia para a Galeria Paole. Não eram exatamente pensamentos a respeito do seu trabalho, mas dirigidos ao dono da galeria.
A muito custo conseguiu pegar no sono. Naquela noite não foi “incomodada” por sonho algum.


_ E então, como foi de reunião com o nosso pintor? – perguntou Carol assim que encontrou com Sophia no dia seguinte.
_ Normal...
_ Só isso? Quero detalhes, amiga!
_ A galeria é muito bonita, apesar de ainda estar terminando uma reforma na casa antiga onde ela está instalada. O “nosso pintor” é muito talentoso e seus quadros são muito interessantes. Combinamos de nos encontrar para que eu mostre o que criei para a campanha de divulgação.
_ Só isso? E ele? Como é? Muito chato, muito velho? – Carol não conseguia esconder sua curiosidade sobre Paole.
_ Nem chato nem muito velho. Normal ... – falou Sophia escondendo da amiga sua verdadeira opinião sobre Stefan Paole.
_ Assim...Normal... Isto é descrição que se faça de alguém? Você costumava descrever melhor seus clientes.
_ Está bem, Carol... Ele é um homem elegante, educado, surpreendentemente fala quase sem sotaque, e... muito culto – queria encerrar logo aquela conversa – Satisfeita?
_ Ele é bonito ou feio? Solteiro? Você sabe que é isto que eu quero saber. Você já está praticamente casada. Eu ainda estou na corrida. Quem sabe não aparece um cliente interessante e... Sei que você não gosta de misturar trabalho e vida pessoal, mas está cada vez mais difícil de arranjar um namorado.
_ Você não tem jeito, Carol. Ele é, digamos, bastante atraente. – disse, lembrando das sensações que Stefan havia provocado nela.
_ Ah, então você vai ter que apresentar a ele a sua sócia aqui, logo, logo – Carol estava excitadíssima com a perspectiva.
_ Provavelmente você vai conhecê-lo durante a inauguração da galeria. Mas não se anime muito, pois não sei se ele é solteiro.
_ Isso a gente descobre depois. Não viu se usava aliança?
_ Não lembro – realmente ela não havia reparado nestes detalhes – Afinal eu estava a trabalho, não caçando um marido, Dona Caroline. Acho melhor terminarmos este assunto e voltar ao trabalho. Alguma novidade?
Logo, Caroline esqueceu Paole e voltou às suas atividades na agencia.

Sophia não teve coragem de ligar para desmarcar a reunião. Sua impressão era de que ele conseguiria dissuadi-la de qualquer tentativa de mudar a data do encontro. Portanto, tinha menos de três dias para preparar a exposição de suas idéias. Fez orçamentos e pesquisas sobre os melhores meios de divulgação daquele tipo de produto. Criou dois tipos de folhetos ilustrativos para mostrar a galeria de forma atrativa ao público-alvo. Falou com um amigo que trabalhava na principal rede de TV, em São Paulo, que tentaria conseguir uma entrevista com Paole.
Quando o sábado chegou, Sophia já tinha um bom material para sua campanha para promover a galeria de arte e torná-la, futuramente, o maior atrativo dentro do meio cultural da capital paulista. Tinha certeza que Stefan ficaria satisfeito com seu trabalho. Não queria decepcioná-lo, depois de toda a confiança que ele havia depositado nela.
À tarde, começou a imaginar o que teria acontecido, pois ele ainda não ligara para combinar o local do encontro ou o horário. Começou a ficar ansiosa. Será que ele havia desistido da sua agência? Será que ela fizera alguma coisa errada durante o primeiro encontro com ele? Não conseguia imaginar o quê.
Às 19 horas, o telefone tocou. Ela estava quase pegando no sono, pois havia dormido muito mal à noite, pensando em como seria aquele reencontro. Ao colocar o fone ao ouvido, a voz rouca de Stefan deu-lhe novo ânimo.
_ Senhorita Caselli?
_ Sim? – não queria que ele pensasse que estava aflita pelo seu telefonema e fez que não tinha reconhecido sua voz.
_ Stefan Paole. Espero que me perdoe pela demora em ligar, mas tive alguns problemas a resolver e só agora pude telefonar. Está pronta para encontrar-me?
_ Ah, sim...Senhor Paole. Realmente pensei que o senhor tivesse desistido de nossos préstimos.
_ De maneira alguma. Estou muito interessado ...em seus serviços – ela notou um certo sarcasmo naquela voz que a instigava do outro lado da linha.
_ Então, acho que podemos marcar um novo encontro para que eu possa demonstrar-lhe minhas idéias.
_ Dentro de duas horas eu passo para pegá-la em seu apartamento. Esteja pronta.
_ Como? – pode ouvir o clique, indicando o término da ligação – Mas que atrevimento. Liga a esta hora e nem quer saber se tenho outro compromisso? – ela estava irritada com o autoritarismo dele, mas ao mesmo tempo excitada com a perspectiva de vê-lo novamente.
Correu para o quarto para ver mais uma vez o vestido de seda azul noite, “balonet”, que comprara pensando neste reencontro. Ele era muito chique e... sexy. Não era exatamente próprio para uma reunião de negócios. Na verdade, ele era mais apropriado para um jantar romântico, à luz de velas. “Onde eu estava com a cabeça quando comprei este vestido? Vou usá-lo quando sair com Paulo, no próximo fim-de-semana, isto sim... Vou colocar um conjunto de calça e blazer que é muito mais adequado”.
Finalmente, olhou-se no espelho e achou que estava vestida de acordo com a ocasião. Lá estava uma mulher de negócios, madura, inteligente e moderna, pronta para vender um produto a um cliente. No rosto, maquiado discretamente, só faltava um óculos para completar a caracterização. Mas ela ainda não precisava deste tipo de acessório.
Surpreendeu-se ao ouvir a campainha da porta soar. O porteiro não avisara que alguém estava subindo, o que não era comum. Talvez algum vizinho?
Olhou pelo visor da porta para tentar visualizar quem estaria ali, mas não viu ninguém. Resolveu abrir a porta. À sua frente estava Stefan Paole, irresistível e elegantemente vestido num terno escuro, de Armani ou Zegna, com os olhos mais verdes do que nunca, olhando-a com certa decepção.
_ Por acaso vai a um enterro? – perguntou, olhando-a da cabeça aos pés.
Ela ficou sem ação, primeiro pela simples visão dele e, segundo, pelo seu comentário.
_ Senhor Paole, estou chocada com a sua indiscrição. Estou pronta para nossa reunião de negócios.
_ Desculpe-me, mas é um sábado à noite e vamos jantar no Fasano. Sua roupa não está muito adequada...Apesar de continuar linda, gostaria que colocasse algo mais conveniente. Talvez eu possa ajudá-la, se me permite.
Sem que ela permitisse, ele entrou em sua sala, com se já estivesse estado ali e dirigiu-se para o seu quarto, onde o vestido azul ainda estava pendurado num cabideiro. Sem cerimônia alguma, ele pegou o vestido e levou-o até onde ela estava parada, boquiaberta com a intimidade com que Stefan a estava tratando.
_ Este vestido, por exemplo, está perfeito. Pode vesti-lo, por favor?
Vencendo a inércia diante das atitudes descabidas do senhor Paole, Sophia conseguiu falar:
_ O que o senhor está pensando? Entra em minha casa, sem minha permissão, depois de criticar o modo como estou vestida, vai até meu quarto, mexe em minhas coisas...Que tipo de homem é o senhor?
Ele a olhou com expressão surpresa, para logo em seguida baixar os olhos e falar em tom de desculpas:
_ Sinto muito. Espero que me perdoe. A senhorita tem razão. O que fiz é imperdoável. Desculpe se demonstrei maior intimidade do que devia – ele aparentava estar realmente sem jeito – É que tenho a sensação de que a conheço há muito tempo por isso acabo tendo atitudes de intimidade maior. Perdoe-me – disse ele devolvendo-lhe o cabide com o vestido pendurado.
Ele a olhava de um jeito tão arrependido e humilhado que ela acabou por sentir pena dele e achar que tinha sido dura demais. Talvez ele quisesse apenar ser gentil e vê-la mais adequadamente vestida para o jantar. Ele era estrangeiro, lembrou-se. Talvez em sua terra os hábitos fossem outros. Esquecera deste detalhe, pois ele praticamente não tinha sotaque algum. Além do mais, comprara aquele vestido para esta ocasião mesmo.
_ Está bem, Stefan – os olhos dele apresentaram um novo brilho ao ouvi-la chama-lo pelo primeiro nome – Eu aceito suas desculpas. Apenas quero lembrar-lhe que nossos encontros são meramente por questões profissionais, que eu sou noiva e não ficaria bem meu noivo saber que meus clientes entram em nosso apartamento, em nosso quarto, para escolher a roupa que eu devo vestir para as reuniões de negócios, no sábado à noite.
Ele sorriu discretamente, com ar de um menino que havia sido pego no meio de uma travessura, fazendo-a derreter-se por dentro.
_ Prometo que vou ser mais comportado de agora em diante – disse, enquanto sentava-se no sofá da sala, confortavelmente, sob o olhar de Sophia, que não conseguiu esconder um sorriso discreto – Vou ficar esperando aqui, enquanto você se arruma...Ou você prefere ir vestida assim como está. Como você preferir.
Segurando o riso, Sophia foi trocar de roupa.



Mais emoções nos próximos capítulos...prometo. Beijos!!!

26 de fev. de 2009

Encontro Noturno

Capítulo 2


Durante o breve café da manhã, ainda buscava uma explicação para o sonho daquela noite. Não lembrava de ter um sonho tão sensual como aquele. Teria sido o telefonema de Paulo?
Duvidava disto. Paulo jamais a deixara excitada daquela maneira. Nem em sonhos.
Chegou ao escritório ainda ligeiramente aparvalhada, mas logo começou a ocupar-se de suas campanhas publicitárias e esqueceu as sensações da noite anterior.
Quase próximo à hora do almoço, Carolina a procurou para dizer que um novo cliente a procurara.
_ Que tal sairmos para almoçar aqui perto e conversarmos sobre ele?
_ Como você quiser. É importante assim?
_ Talvez...
_ Então, vamos – disse Sophia, pegando sua bolsa e dirigindo-se para a saída.
Já acomodadas na mesa do restaurante próximo, na área dos Jardins, após fazerem seus pedidos, Carol entrou no assunto.
_ Nosso novo cliente é um pintor.
_ O quê? – perguntou Sophia curiosa com sua profissão e o tipo de ajuda publicitária que ele poderia querer delas.
_ Também achei estranho, mas depois achei que seria interessante variarmos um pouco o nosso meio de atuação.
_ Estou ouvindo...- disse, enquanto bebericava o seu refrigerante gelado.
_ Ele é um artista muito conhecido no meio e abriu uma nova galeria na Alameda Berlim. Esta galeria é, não só para expor suas obras, mas também terá um espaço para novos talentos. Ele quer divulgar este local e o trabalho que vai realizar lá.
_ Está bem. Agora só me diga o porquê de tanto mistério. Acho que será um cliente como qualquer outro.
_ Porque acho que ele a conhece.
_ Como assim?
_ Sim. Ele fez questão de pagar o dobro da tabela para que você fosse a responsável pela conta.
_ Você sabe que eu estou cheia de serviço por um bom tempo. E tenho certeza que não conheço nenhum pintor nesta cidade ou em outra qualquer.
_ A gente dá um jeito, Sophia. Eu assumo algumas de suas contas menores ou pedimos para um dos rapazes assumir.
_ Mas, afinal, quem é esse pintor tão famoso?
_ O nome dele é Stefan Paole. Parece que veio do Leste Europeu. Acabou ganhando muito dinheiro com suas obras na Europa e mudou-se para cá.
_ Nunca ouvi falar dele.
_ Eu já tinha lido alguma coisa nas colunas sociais. É coisa recente, esta mudança dele para cá.
_ Bom, se ele está pagando bem, vamos lá. Eu assumo. Só gostaria de saber o porquê do interesse em que seja eu a cuidar de sua campanha.
_ Talvez ele tenha ouvido falar do seu talento publicitário.
_ Bobagem. Nós estamos juntas nesta empreitada. Ambas somos talentosas, senão não estaríamos conseguindo crescer.
_ Bom, talvez ele a tenha visto em algum lugar e tenha se apaixonado por você... – satirizou Carol.
_ Lá vem você com os seus romances. Tudo tem uma explicação prática.
_ Está bem. Você vai poder descobrir isto hoje mesmo.
_ Hoje?
_ Sim. Ele pediu uma reunião com você hoje, no final da tarde.
_ Ótimo! Não tenho nenhum compromisso neste horário.
_ O Paulo não voltava hoje de viagem?
_ Não. Ele ligou ontem para avisar que vai ter de ficar o final de semana na Bahia. Em que horário ele virá à agência?
_ Ele não virá. Você é que vai até ele.
_ Como? Porque isso? Não é o habitual.
_ É uma exigência dele.
_ Este senhor é exigente demais. Só porque vai pagar a mais não quer dizer que seja meu dono. Estou começando a ficar preocupada.
_ Ouça, Sophia, talvez ele seja um destes pintores excêntricos. Estes caras do Leste Europeu tem fama de serem esquisitos, ainda mais sendo um artista famoso. Não custa ceder um pouco e lhe dar esta chance. Afinal quem manda é o cliente. Ou não?
_ Você tem razão, Carol. Talvez eu esteja errada mesmo. É que odeio homens machistas.
_ Onde eu devo encontrá-lo? – perguntou contrafeita.
_ Na galeria dele, às 18 horas.
- Ok! Quando eu o encontrar saberei como domar a fera – disse rindo para Carol.

**

Às 17 horas encerrou suas atividades na agência, despediu-se de Carol e dos outros colegas e funcionários que lá trabalhavam e foi ao toalete para retocar a maquiagem e colocar um pouco de perfume. Pensava no que a aguardava. Este tal de Stefan devia ser um tipo convencido, prepotente, chato e cheio de vontades. Não tolerava pessoas como ele, que se achavam donas do mundo, mas como era um cliente, não poderia mostrar sua indignação abertamente.
Conseguira obter algumas informações sobre ele na Internet, quando voltaram do almoço. Pouca coisa havia. Parecia ser realmente excêntrico. Nascera na Romênia, mas fora criado em Praga, ainda na época do comunismo. Apesar disso não tivera problemas com sua arte por lá, o que se podia considerar no mínimo estranho. Talvez ele ou a família tivessem boas relações com os camaradas do partido. Após a abertura, viera para o Ocidente onde sua obra passou a ser reconhecida e suas telas passaram a render pequenas fortunas. Não encontrara nenhuma foto ou entrevista dele.
Pegou um táxi e deu o endereço da galeria na Alameda Franca. Desceu em frente a uma linda casa antiga, provavelmente reformada recentemente. A fachada havia sido mantida, bem como as portas de madeira pesadas. Apenas os “banners” nas laterais da entrada denunciavam ser uma galeria de arte: “Galeria Paole”.
A porta estava aberta. Pensou que ainda não estivesse aberta ao público, mas pelo visto estava enganada. Lá dentro, a penumbra predominava. Apenas as telas, onde os tons de vermelho, laranja e preto preponderavam, encontravam-se iluminadas Elas eram impressionantes. Sophia olhou em volta e viu apenas três pessoas andando pelo imenso salão. Provavelmente curiosos em conhecer a galeria recentemente aberta. Não viu ninguém que pudesse ser o tal Stefan. Não havia uma recepcionista, o que denotava uma falha no local. Teria de alertar o senhor Paole a respeito disso.
Acabou por distrair-se olhando os quadros expostos. Tinha chegado mais cedo que o previsto, faltando ainda 10 minutos para horário combinado para sua reunião. Estava deslumbrada com as cores e as imagens que inundavam as paredes. Os traços ágeis criavam vultos que se uniam em pequenas multidões revoltas, explosões, fogo, perseguições. Tinham o poder de levar o observador mais atento até o núcleo de um país devastado e sofrido. Várias emoções podiam ser compartilhadas com o autor dos quadros. Começava a admirar o artista a quem ainda não conhecia pessoalmente. Foi quando estava diante de uma das telas maiores que ouviu uma voz muito próxima que a fez estremecer.
_ O que achou destas pinturas?
Sophia estava tão encantada com a tela a sua frente que não fez questão de virar-se. Achou que era um dos curiosos que vira antes. A voz era rouca e muito agradável.
_ Muito impressionante...
_ Acho ele meio exagerado – sentiu algum sarcasmo na voz.
_ O pintor deve ser muito sensível e sofrido.
_ Como você chegou a esta conclusão?
_ Pelos traços e cores usados e pelas imagens amarguradas que saem da tela.
_ Você consegue ver tudo isto?
_ Sim...
A voz silenciou, mas Sophia sentiu a presença mais próxima. Podia quase ouvir a sua respiração. Sentiu um novo arrepio ao escutar seu nome:
_ Senhorita Caselli? Sophia Caselli?
Ela virou-se imediatamente, como que acordada de um devaneio.
_ Sim? – perguntou, ao mesmo tempo surpresa diante da figura masculina que a interpelava.
Era um homem alto, de fartos cabelos negros e ondulados, pele muito clara, num rosto másculo, de lábios cheios, queixo marcado e os olhos verdes mais profundos e expressivos que ela já vira. Sentiu-se despida por aquele olhar, não só de suas roupas, mas de qualquer outra barreira. Era como se não pudesse esconder nada daquele homem. Não havia mais ninguém na galeria, além deles.
_ Muito prazer. Eu sou Stefan Paole – apresentou-se, galantemente.
Imaginara-o mais velho, talvez uns 60 anos, mas aquele homem não tinha mais que 40. Trajava uma calca jeans escura e uma camisa preta, aberta, de forma a deixar entrever um peito forte e viril.
Refeita do susto, conseguiu responder:
_ Muito prazer...Sophia.
_ Eu sei... – ele sorriu, divertido.
Ela ruborizou. Claro que ele sabia quem ela era. Ele tinha um belo sorriso, também.
Recuperando-se do mal estar, perguntou:
_ Bem, senhor Paole, onde podemos nos reunir para discutir a sua campanha?
_ Vejo que tem pressa... Por aqui, por favor – respondeu, indicando a direção que deveriam seguir – Tenho uma sala privativa para este tipo de encontro.
Ela o seguiu. Observava como ele era elegante. Devia ter cerca de 1.90 m de altura e andava silenciosamente, como um felino. Levou-a até uma pequena sala nos fundos da galeria, onde havia uma bela e antiga escrivaninha de madeira de lei e duas poltronas de couro.
Ele indicou uma das poltronas e sentou-se na outra, atrás da mesa. Cruzou as mãos e fixou o olhar novamente sobre ela.
_ Então, senhorita Caselli. Já tem alguma idéia para promovermos a minha galeria?
_ Na verdade eu gostaria de saber quais as suas pretensões. O que o senhor gostaria de ressaltar na campanha.
_ Em primeiro lugar, por favor, não me chame de senhor. Meu nome é Stefan. Apenas Stefan, para você.
Ela o olhou por alguns instantes, pensando se deveria pedir que a chamasse de Sophia, mas resolveu que senhorita era um termo melhor para mantê-lo a distância. Pelo menos nestes primeiros contatos, até ela conhecê-lo melhor. Teve certeza disso quando ele, inesperadamente, perguntou:
_ A senhorita é noiva? – desviando o olhar para o anel de diamante que ela trazia em seu dedo anular direito.
_ Sim – ela respondeu secamente.
_ Onde ele está?
_ Está em viagem de negócios – respondeu, sentindo-se incomodada com suas perguntas – Mas, senhor Paole, voltando a sua campanha, o senhor não respondeu a minha pergunta.
_ Desculpe se pareço indelicado, mas não resisti. Perdoe-me... – desculpou-se lançando-lhe um olhar de sincera súplica – Como a senhorita deve saber, abri esta galeria com o intuito de expor minhas telas e dispor um espaço para a divulgação de talentos desconhecidos, sejam eles estrangeiros ou locais. Acredito que este seja um dos grandes atrativos da galeria. O inusitado, o desconhecido.
_ Creio que podemos fazer folders para distribuição em hotéis, teatros, museus, livrarias e escritórios de turismo, para tentar atingir um público culto. Pelo menos para começar. Estes folders podem trazer fotos da galeria, de alguns de seus quadros e informações a respeito. Isto sem falar na divulgação na mídia, TV e FMs.
_ Acho uma ótima idéia. – cortou-a, com grande sorriso e já se levantando, saindo de trás da escrivaninha.
_ Não quer saber mais detalhes? – pareceu a ela que Stefan ficara repentinamente entediado com o andamento da conversa.
_ Senhorita, eu a contratei porque tenho excelentes referencias a seu respeito e por isso sei que posso confiar plenamente no seu discernimento.
_ Agradeço a sua confiança, mas preciso saber se minhas idéias correspondem aos seus anseios – ela não sabia se ficava lisonjeada pela confiança ou se irritada com a falta de vontade em ouvi-la.
_ Realmente confio na senhorita – parecia estar respondendo aos pensamentos de Sophia, o que a fez ruborizar mais uma vez – Gostaria de conhecer minha galeria?
_ Claro.
_ Pretendo deixar as obras dos iniciantes no salão principal, que a senhorita já teve a oportunidade de conhecer. Tenho outro ambiente onde deixarei minhas telas a vista do público que por elas se interessar. Queira me seguir, por favor.
Sophia pensou que deveria ser o contrário, pois seus quadros certamente eram muito atraentes e atrairiam maior público que os artistas desconhecidos.
Foram na direção de um elevador, que os levou ao segundo piso da casa. Lá havia outro grande salão. Provavelmente ele mandara destruir as paredes que faziam a divisa entre os quartos e uma ou outra sala menor, ampliando desta forma o andar superior. Ainda mostrava sinais de reforma, com latas de tinta, escadas de madeira e fios de eletricidade expostos em vários pontos das paredes. A luz fraca vinha de um ponto no alto do teto e dava um aspecto lúgubre ao lugar. Provavelmente depois de tudo pronto ficaria muito bom.
_ Vai haver algum recanto para uma coffee shop ou para as pessoas se reunirem?
_ O arquiteto já planejou um local onde funcionará uma pequena cafeteria para receber os visitantes. Será no andar de baixo, onde era a cozinha original da casa. Já está quase pronta. Posso mostrar-lhe quando descermos.
_ Isto é muito bom, pois é mais um conforto para os apreciadores de arte. Dependendo da qualidade do serviço, do café e acompanhamentos, pode virar um local de encontro interessante. Um “point”, como dizem, que torna a galeria ainda mais atrativa.
_ Vou anotar este seu conselho. Vejo que você sabe desempenhar bem seu trabalho, por isto é tão conceituada no seu ramo.
_ Quem indicou meu nome para o senhor?
_ Um bom amigo, comprador de várias de minhas obras, o marchand Cyro Zimbro.
_ Estranho. Não o conheço... – Sophia tentava revirar a memória para lembrar deste nome, mas nada havia registrado.
_ Ele teve a indicacão de outros amigos, os quais eu não saberia citar o nome. Sinto muito.
_ Não precisa desculpar-se. É só uma questão de curiosidade minha e possibilidade de agradecer a indicação. Não se preocupe.
_ Mas de uma coisa posso assegurá-la: a senhorita e sua agencia gozam de uma excelente reputação.
_ É muito bom saber disso. Obrigada.
_ Podemos descer agora? Vou mostrar nossa futura cafeteria – Stefan deu um belo sorriso, mostrando os dentes brancos e perfeitamente alinhados. Ela começava a sentir-se segura com ele, considerando o local em que estavam. Apesar do linguajar polido, sem ser afetado, Stefan não lhe parecia prepotente ou esnobe, como tinha sido sua idéia original. Na verdade, ele era uma presença muito agradável e...sexy.
_ Por aqui..._ ele a tocou de leve em seu ombro direito, o que a fez sentir uma onda de calor emanando do ponto do toque até suas coxas. Não conseguia entender o que aquele homem provocava nela. Por fora, estava tentando manter-se o mais profissional possível, mas por dentro sentia-se bastante perturbada.
Desceram no mesmo elevador, e seguiram para o espaço atrás do salão principal.
O arquiteto dele realmente devia ser muito bom. Conseguira criar um ambiente aconchegante onde antes devia ser apenas uma cozinha velha. A nova cafeteria com certeza ficaria linda. Ela seria um dos pólos dentro da galeria, logicamente depois das telas de Stefan. Ele notou o ar de admiração dela e falou:
_ Pelo jeito ficou satisfeita com o nosso trabalho.
_ Realmente o seu arquiteto é um excelente profissional.
_ Muito obrigado. Agradeço em nome dele.
Sophia notou um ar divertido na expressão de Stefan, e ficou tentando imaginar o porquê.
_ O motivo de meu riso é que o arquiteto sou eu mesmo. Por isso me sinto envaidecido com o seu elogio.
_ O senhor? É sério? – Continuava a ter a impressão de que ele conseguia ler seus pensamentos.
_ Eu estudei arquitetura. A pintura sempre foi um robe, que acabou por tornar-me mais conhecido e ...rico. Assim, deixei meus estudos arquitetônicos de lado... até agora – ele parou por um momento e olhou-a de modo perturbador – Até quando você vai me chamar de senhor?
_ Costumo tratar meus clientes desta forma. Acho mais profissional – ela começava a ficar agitada sob o olhar insistente de Stefan.
_ Além de uma relação comercial, não podemos ser... amigos?
_ Talvez... – balbuciou ela, quase hipnotizada pelos lindos olhos verdes – Bem, senhor Paole, foi um prazer conhecê-lo. Quando podemos nos encontrar novamente para que eu possa apresentar o meu projeto para a campanha e os folders?
Ele sorriu, divertindo-se com a maneira como ela tentava fugir dele.
_ Que tal no sábado à noite?
_ Sábado à noite? Esperava que nosso próximo encontro fosse em horário comercial – respondeu, surpresa.
_ A senhorita acha que já terá conseguido todo o material necessário para demonstrar como pretende fazer a minha campanha? – seu tom de voz tornara-se mais ríspido.
_ Sim, claro...
_ Então, estamos combinados. No sábado, eu ligo para a senhorita para acertarmos os detalhes da nossa segunda reunião – em tom autoritário, Stefan praticamente encerrava a conversa, sem margem para discussões.
Pegou a mão direita de Sophia e depositou um suave beijo em seu dorso, o que a fez ficar ligeiramente tonta. “Este perfume...De onde eu conheço este perfume?”, pensou ela, por um instante.
_ Se desejar, posso levá-la até em casa - sua voz tornara-se súbita e estranhamente doce.
_ Não. De forma alguma. Consigo um táxi. Não precisa se incomodar – Sophia foi saindo, nervosa, fugindo, sem saber bem do quê – Até sábado, então.
Conseguiu chegar até a porta principal e saiu, sob o calor do olhar de Stefan.
_ Até sábado – disse ele, mantendo uma expressão de quem estava se divertindo com a atrapalhação dela.




Gostaram do Stefan? Espero que sim...Continua amanhã...

25 de fev. de 2009

Depois do Carnaval...

Alô, meus amores, fãs do grande Gerard Butler,

Agora que o Carnaval passou e o período de férias chega realmente ao fim, pensei em sair da secura em que ando em relação a publicação de fics. Aproveitando a onda do livro e filme "Crepúsculo" (que aliás eu não li nem vi), resolvi resgatar a minha paixão por este tipo de assunto e escrever uma nova fic, colocando, é claro, um personagem com as características físicas do nosso querido. Assim, quando conhecerem o meu Stefan, lembrem-se do Gerry. Espero que gostem e comentem a respeito deste pequeno romance que inicio hoje e que promete ter vários capítulos.
Um grande beijo para todos os leitores deste blog e para minhas queridas amigas.



Encontro Noturno




Sophia voltava cansada de seu trabalho na agência. Resolvera ir a pé para casa para relaxar um pouco do stress do dia. Mal tinha anoitecido, apesar de já ser 21:30 horas. Coisas do horário de verão. “ Precisava voltar a exercitar-se. Parecia achar sempre uma desculpa para escapar da academia e das caminhadas que antes era uma rotina para ela. Com o aumento dos clientes no trabalho, andava esquecendo-se de cuidar de si”. Estava tão absorta em seus pensamentos que não notou quando entrou numa rua errada, completamente deserta àquela hora da noite. Quando se deu conta do erro de percurso, tentou voltar. Foi aí que surgiu um desconhecido, com um gorro de meia enterrado na cabeça. Ela não conseguia definir seu rosto devido à fraca iluminação no local. Ele conseguiu agarrá-la pelo braço e começou a tentar tirar sua bolsa. Assim que conseguiu o que queria, pareceu mudar de idéia e passou a querer algo mais, para desespero de Sophia. Ela passou a lutar desesperadamente, contra seu agressor, que tentava rasgar suas roupas. A ação desenrolava-se, quando subitamente o homem pareceu assustar-se com alguma coisa que surgira atrás de Sophia. Alguns segundos depois, ele a jogou ao chão, deixando-a atordoada por alguns instantes. Ela pode apenas ouvir um grito aterrorizado. Quando voltou a olhar em frente, não viu mais seu atacante. Ele sumira como por encanto. Assustada, recompôs-se rapidamente, olhou para todos os lados, pegou a bolsa que estava caída ao seu lado e fugiu, correndo o mais que podia, em direção a rua iluminada mais próxima. Sentia-se observada até alcançar a entrada de seu prédio. Pensou em ligar para seu noivo, que estava em viagem de negócios, mas desistiu ao pensar que só iria preocupá-lo à toa. Felizmente tudo acabara bem. Não fora roubada nem ferida. O que continuava a incomodá-la era o que teria assustado o marginal, fazendo com que ele a largasse daquele modo. De qualquer jeito, ela conseguira se safar. Não queria nem imaginar o que poderia ter acontecido.
Durante a noite, teve sonhos estranhos com um homem a quem não conseguia vislumbrar o rosto. Não sentia medo dele, mas sim atração por aquele estranho sem face. Acordou várias vezes naquela madrugada, bastante excitada...de todas as formas.

No dia seguinte, acabou por perder a hora, chegando atrasada à agencia. Por sorte não tinha nenhum compromisso logo cedo, que não pudesse ser resolvido por sua sócia, Caroline. Carol, como costumava chamá-la, era sua amiga desde os tempos de colégio. Tinham passado por todas as transformações e confusões da adolescência juntas. Acabaram por separar-se na época da faculdade, apesar de terem cursado cursos semelhantes, mas em cidades diferentes.
Há três anos tinham uma agência de publicidade em São Paulo. Vinham trabalhando muito, desde então, para conseguirem colocar-se competitivamente no mercado. Aos poucos começavam a surgir como uma das agencias promissoras na capital paulista.
Naquela manhã, Caroline a procurou logo que entrou em sua sala.
_ O que houve? O despertador não tocou? – perguntou Carol brincando com a amiga.
_ Nem brinca. Por pouco você não perde a sua sócia ontem – respondeu, enquanto se ajeitava para iniciar o trabalho.
_ Mas o que houve? Foi assaltada? Eu sabia...Quando você disse que ia a pé para casa àquela hora...Eu te avisei...
_ Pois é. Esta cidade está cada vez mais perigosa...
_ Mas me conta. O que aconteceu.
Sophia passou a relatar o ocorrido na noite anterior.
_ Mas você não viu o que fez o homem gritar e desaparecer? – Carol estava impressionada com a história da amiga.
_ Não e nem quis esperar para ver. Podia ser outro bandido pior que o primeiro. Você esperaria para agradecer?
_ Não sei... De repente, algum justiceiro forte e bonitão... Que sabe?
_ Você e as suas idéias românticas, Carol – ficou rindo do comentário da amiga – Isto só acontece naqueles romances que você costuma ler e nos filmes americanos. Aqui em São Paulo a estória é outra.
_ Você que é realista demais. O Paulo e você são o casal mais sem imaginação que eu conheço. Ele nunca lhe manda flores? Não liga durante o dia só para dizer que está com saudades?
_ Carol...Acho que temos coisas mais importantes para nos preocuparmos do que com estas bobagens de flores e romantismo.
_ Ai, Sophia, no tempo do colégio você não era assim. Você bem que gostava de um romance. O que aconteceu?
_ Amadureci. O trabalho não deixa tempo para estas baboseiras.
_ Não são baboseiras, Sophia...São o que dão sabor à vida.
_ Está bem, Carol, está bem...Podemos trabalhar agora?
_ Sim, senhora. É pra já – resolveu dar uma folga para a sócia e voltar à dura realidade – Olhe tenho uns problemas para resolver na conta das Lojas Aguiar. Você pode me ajudar?
¬_ Assim que eu verificar o meu e-mail, vou até sua sala para vermos esta conta.
_ Tudo bem. Vou tomar um cafezinho para acordar. Quer um também?
_ Quero sim. Obrigada, Carol.
Aquele foi mais um dia estressante e corrido, mas com bons resultados.
Ao chegar em casa, Sophia, que desta vez resolvera voltar de táxi, encontrou um recado na secretária eletrônica. Era de Paulo, seu noivo. Ele era um workholic também, formado em ciências econômicas e que prestava aconselhamento para várias pessoas importante, como políticos e empresários. Eles haviam se conhecido numa festa na casa de um cliente em comum. A partir deste encontro, passaram a sair juntos, trocar mensagens por e-mail e conversas no MSN. Quando não estava enterrados no trabalho aproveitavam para jantar ou ir a algum espetáculo à noite. Durante um ano ficaram conhecendo-se desta maneira, até que há seis meses ele sugerira que morassem juntos. Ela achou a idéia interessante. Ele era uma companhia muito agradável, inteligente, educado, de gostos parecidos com os seus e parecia gostar dela também. Sophia vislumbrava uma vida tranqüila e segura com Paulo. Talvez esta fosse a oportunidade de ser feliz ao lado de alguém.
O som estridente do telefone soou, interrompendo seus pensamentos.
_ Alô? Sophia?
_ Paulo? Tudo bem, querido?
_ Tudo. Estou ligando só para lhe avisar que vou demorar mais do que pensei. Só poderei voltar no início da próxima semana, segunda ou terça-feira. Não queria que ficasse preocupada comigo.
_ Acabei de ouvir o seu recado na secretária. Obrigada por me avisar. Mas o que houve? Trabalhos inesperados?
_ Pois é. Indicaram meu nome para um fazendeiro aqui na Bahia e ele me convidou para passar o final de semana na sua fazenda, para tratarmos de negócios.
_Que bom. Espero que corra tudo bem
_ Prometo que no próximo final de semana ficaremos juntos. Vá planejando o que fazer.
_ Pode deixar. Vou aproveitar e me dedicar à campanha de um novo cliente.
_ Então, até a volta, meu bem. Tenha uma boa noite.
_ Tchau, Paulo. Uma boa noite para você também. Um beijo.
_ Outro, querida! – e desligou.
Largou o fone e olhou em torno. Mais um fim de semana passado sozinha. Mas tinha que entender. Paulo estava começando a ser conhecido e ter sucesso na carreira escolhida. Não podia agir como uma esposa mimada, exigindo sua presença, impedindo-o de crescer, neste momento.
Tomou um bom banho, preparou uma salada de atum e resolveu que dormiria mais cedo naquela noite. Estava quente, por isso deixou a janela aberta na esperança que alguma brisa entrasse por ela, apesar de isso ser muito difícil na sua cidade. Não gostava de usar o ar condicionado no quarto, pois o ar seco provocava-lhe crises de rinite durante a noite.
Depois de apagar as luzes e deitar a cabeça no travesseiro, viu um brilho estranho entrando através da janela. Luar? Em São Paulo? Não era possível...Levantou-se da cama e foi ver o que estava provocando aquele facho de luz. Deslumbrou-se diante de uma grande lua cheia que pairava num céu estrelado. Uma brisa fresca afagou-lhe o rosto, fazendo-a arrepiar-se. Percebeu alguma coisa aproximando-se às suas costas. Tentou virar-se, mas estava paralisada. A presença era cada vez mais evidente. Podia sentir o calor de um corpo e um odor estranho e agradável que penetrava em suas narinas, deixando-a excitada. Ainda tentava livrar-se daquela paralisia, quando a sensação de um hálito quente percorrendo sua nuca a deixou inebriada. Queria virar-se para ver quem estava provocando-a daquela maneira, mas não conseguia. Fechou os olhos. Foi quando sua nuca foi tocada de leve por lábios quentes e macios, que sussurraram seu nome. Ao ouvir este chamado, abriu os olhos imediatamente. Procurou pelo responsável por todas aquelas sensações que a perturbavam tanto, mas constatou que estava em sua cama, banhada em suor. Tinha sido um sonho... Mas parecera tão real... Sentou-se na cama. A janela continuava aberta, mas nenhuma luz prateada entrava por ela. Apenas a brisa quente e o ar pesado devido à poluição, como era de se esperar. Restara a umidade entre suas pernas e o desejo de sentir aquela boca novamente roçando seu corpo. Abandonou-se entre os lençóis da cama de casal e demorou um bom tempo antes de entregar-se novamente ao sono.



Aguardem o próximo capítulo...
Beijos da Rô!

8 de fev. de 2009

Inglaterra e Escócia

Antes de continuar o relato da viagem, pensei em postar algumas fotos que tirei ainda em Londres, que são de dois lugares que achei interessantes e outra que adorei por causa das cores.

Cores vermelhas...



Lembram do filme "Um Lugar Chamado Notting Hill", com a Júlia Roberts e o Hugh Grant? Pois é. A livraria dele continua lá no bairro. È uma gracinha. Aqui está ela:


No mesmo Notting Hill, encontramos uma loja escocesa, que vendia trajes típicos, mantas, blusões, kilts...Já estava no aquecimento...


A saída de Londres no dia 7 de Janeiro gerou uma certa angústia. Isto porque alugamos um carro para continuar o passseio pelo interior da Inglaterra até a Escócia, para ter mais liberdade no caminho. Como voces sabem lá funciona a "mão inglesa", ou seja, o motorista dirige à direita no automóvel e tudo fica invertido. O pior foi quando, na locadora, nos disseram que o melhor caminho para chegar na auto-estrada era atravessando o centro de Londres. Era um dia de semana, no horário em que as crianças estavam indo para a escola e as pessoas indo para o trabalho, ou seja, grande movimento. Não bastasse isso, existem áreas em Londres que são proibidas de serem usadas por outros veículos que não residam nestas áreas. São chamadas de "congestion charging" e são representadas por grandes letras "C" em placas e no chão das ruas. Em caso de entrar numas destas áreas é cobrada uma multa de 80 libras. Isto foi feito para tentar diminuir os congestionamentos e restringir o numero de carros no centro. Nos deram um mapa mostrando qual o melhor caminho. Por sorte, o rapaz da locadora era brasileiro e foi extremamente simpático, nos orientando super bem. Saímos naquela expectativa. Aí devo dar os parabéns ao meu marido querido, que dirigiu perfeitamente e cruzou a cidade sem problemas. A sinalização lá é excelente. Não tem como a gente se perder. Com cuidado e paciência, saímos de Londres sem dificuldade. Seguimos para Stratford-upon-Avon, a terra-natal de Shakespeare. Só posso dizer que é uma cidade medieval, muito pequena e agradabilíssima. Foi como se voltássemos no tempo. Visitamos a casa onde ele nasceu, a casa da filha dele que era casada com o médico John Hall (que, segundo nos contaram, fez Shakespeare falar melhor dos médicos em suas peças). Ele era um médico mais humano e contribuiu muito para amenizar as barbaridades que eram feitas na época pelos seus colegas, optando por tratamento mais naturais, a base de ervas, e sendo contra as famosas sangrias.
Muitos locais ali podem servir de inspiração para romances, tipo um cemitério localizado no pátio da Holy Trinity Church, onde Shakespeare está enterrado. Infelizmente não conseguimos entrar na igreja para ver seu túmulo, pois ela estava fechada. Tudo por lá fecha muito cedo. No inverno, em torno de 17 horas o comércio, os museus, etc, estão fechando, pois a noite já chegou uma hora antes. Isto se repetiu por todo o lado, inclusive na Escócia, onde a noite começa a chegar em torno de 15 horas.
Aqui estão as fotos, que traduzem melhor o que falo:


Mão Inglesa na estrada


Nosso hotel em Stratford - construído no século XV


As ruas de Stratford




A casa onde Shakespeare nasceu




Que tal encontrar o nosso Drácula predileto aqui?



Salão de café do nosso hotel

Atrás daqueles vidros iluminados, eles conservam as paredes originais da casa



Pub "The Old Thatch Tavern" onde jantamos um delicioso "fish and chips", o prato predileto do Frankie. Claro que pedimos com o fish...rsrsrs


Seguimos para York,no dia 8. Outra linda cidade medieval, onde se encontra a maior catedral gótica ao norte dos Alpes, segundo dizem, cuja origem remonta ao ano de 627, quando no local foi batizado o rei-santo Eduíno. Foi palco de vários casamentos e funerais de reis e rainhas ingleses. A catedral atual começou a ser construída em 1220. Lembram do filme "Coração Valente", com o Mel Gibson? Foi esta a cidade que ele venceu o cerco e dominou, despertando ainda mais o ódio do Eduardo I.
Foi nesta cidade histórica, que serviu tb como cidade estratégica para os vikings(tem até um museu mostrando a vida deles na cidade - o JORVIK), que sua amiga aqui foi convidada a participar de um show ao ar livre. Foi assim...
Descobrimos que haveria um encontro na Rua Shambles (a rua mais estreita e antiga da cidade),para uma caminhada à noite, chamado "Ghost Hunt". Pouco antes das 19:30h encontramos por lá outro bando de curiosos (umas 30 pessoas) que aguardavam o nosso "guia". Pontualmente às 19:30, apareceu um homem alto, elegantemente vestido de fraque e cartola pretos, aparentando uns 50 anos, de barba, frios e misteriosos olhos azuis, trazendo em uma das mãos uma maleta (tipo Jack, o estripador) e uma escada de dois degraus na outra. Primeiro ele olhou um por um dos presentes com um olhar arrepiante e, finalmente, falou um sonoro:
_GOOD EVENING! - provocando o maior susto em todos nós. Talvez por isso mesmo, a resposta saiu fraca e ele, com olhar intenso, repetiu a pergunta, representando que queria ouvir uma resposta mais forte. Depois de satisfeito, começou o seu discurso, tentando explicar o que faríamos naquela noite, sempre com ar de mistério. Percorreríamos vários locais da cidade, ouvindo estórias de fantasmas(verídicas, segundo ele). A partir daí, passamos a seguí-lo. A cada parada, ele armava sua escada, subia nela para sobressair-se aos demais, e fazia o seu discurso. Foram feitas várias parada, onde ele contou estórias de terror locais. Ele demonstrou ser um ótimo ator e ter um grande senso de humor. Durante o passeio ele pegava no pé de algumas das pessoas. Os preferidos dele foram o jovem mais alto entre os presentes e...eu. Primeiro ele implicou com o meu nome, que ele não conseguia pronunciar. Até que eu disse que ele poderia dizer "Rose Ane". Daí em diante ele me chamava para tudo e ainda reclamava do meu nome esquisito. Quando paramos diante de uma coluna romana, localizada em frente à catedral, ele contou alguns fatos históricos e, olhando para mim disse:
_ Rose Ane - naquele sotaque britânico carregado.
Achei que ele ia me perguntar algo importante e por um momento pensei que tivesse perdido alguma coisa do monólogo dele, ficando com medo da pergunta que ele faria a seguir. Neste instante, ele apontou para a grande coluna e disparou:
_ Rose Ane...Voce já viu uma ereção como esta?
Não tive como segurar o riso. Quando me acalmei, disse:
_No!
Ele olhou diretamente para o meu marido (ele já tinha percebido que estávamos juntos)e disse, em tom de censura e escárnio, repetindo a minha resposta:
_ Nooooo!!!
Todos cairam na gargalhada.
E assim foi. Várias vezes ele pedia a minha ajuda ou a do rapaz alto. Ao final, ele pediu que fossemos aplaudidos. Foi muito engraçado. Das brincadeiras, acabei ganhando de lembrança um lenço sujo de sangue(tinta vermelha) que ele usou durante a encenação de um esfaqueamento de uma mulher (claro que eu representei a mulher, por isso levei a recordação).

Chegada em York, sobre uma de suas pontes


Catedral de York (York Minster)


Interior da Catedral


Ruas de York...

Olha outra loja escocesa na Rua Shambels!





Vendedor de cachorro quente... Já viram algo assim aqui no Brasil?


O guia misterioso de "Ghost Hunt"




A coluna romana em frente a York Minster

Ela está meio fora de foco, mas dá para ver a atriz coadjuvante rindo feito uma louca, não dá?



Finalmente, no dia 9, partimos para Edinburgo. Foi uma emoção só quando cruzamos a fronteira e vimos a bandeira azul com sua cruz branca tremulando ao vento.
Já estava escurecendo quando chegamos na cidade. Ela também tem construções belíssimas, da era medieval. A única diferença é que é muito escura. Não sei se por ser inverno e a noite chegar muito cedo, torna-se sombria e meio depressiva. Fiquei lembrando do Gerry, morando nesta cidade e trabalhando em uma coisa que não o satisfazia. Dá para entender o que ele passou. As pessoas não tão simpáticas, como na Inglaterra. Não que sejam grosseiras, mas me pareceram mais tristes. Não consegui ir à Glasgow, infelizmente, mas tenho a impresão de que deve ser diferente por lá. O tempo não ajudou. Choveu praticamente nos três dias que estivemos por lá. Não conseguimos visitar o interior do famoso castelo de Edinburgo devido ao mal tempo.


Edimburgo

Esta é uma livraria de livros antigos(sebo). Notaram a foto de Burns na primeira prateleira da vitrine, ao centro? Em todos os lugares, principalmente em pubs, pode-se ver fotos dele, tanto na Inglaterra como na Escócia, anunciando o "Burns Night", no dia 25 de Janeiro


Castelo de Edinburgo








Cidade vista do pátio em frente ao castelo


Ruas de Edinburgo







Por causa disso, resolvemos pegar uma excursão de onibus para visitar as Highlands. Ficamos com medo de dirigir por estradas menores, entre as montanhas. Havia o risco de neve, o que tornaria o trajeto mais perigoso. O passeio nos levaria através de Trossachs, região onde fica Stirling e Glencoe, Fort William, LochNess, Inverness e Pitlochry. Em Fort William, onde começam a surgir as montanhas altas, vimos um exemplar do Hamish, uma espécie de gado das Terras Altas. Apesar do mau tempo, pode-se ver que a região é deslumbrante. Mesmo sendo inverno e haver neve no topo das montanhas, a relva verde cobre grande parte do terreno onde as rochas não proliferam. Imagino que deva ser uma delícia dirigir nesta região, parar numa das inúmeras hospedarias que vimos pelo caminho e ficar curtindo a paisagem monumental...na Primavera ou no Verão. Com certeza, ainda vou voltar lá numa destas épocas para poder ver as Highlands em todo o seu esplendor.
Nosso motorista, que também era o nosso guia, era um senhor de seus 65 anos, baixo e atarracado,de barba branca, com um sotaque carregadíssimo. Muitas das palavras que ele dizia eram difíceis de traduzir. Eles falam muito diferente dos ingleses. É um inglês mais rústico, com pronúncia diferente.Ele falava o tempo interio. Não sei como não se cansava. Meu marido odiou, mas eu fiquei lembrando do sotaque do Gerry(quando ele ainda não tinha se americanizado tanto)e adorei. Quem dera fosse o Gerry no lugar daquele guia, mostrando pessoalmente as belezas da sua terra natal...aiai...
Mas voltando ao passeio, chegamos a Loch Ness com chuva forte. Poucos tiveram a coragem de sair do centro turístico para atravessar a estrada e chegar na beira do lago. Eu e meu marido não resistimos. Ainda bem que ele também é aventureiro como eu.
Ali tiramos fotos, tomamos um lanche e seguimos até Inverness, onde não houve parada alguma(achei uma grande falha da excursão, pois esta cidade é a capital das Terras Altas). Já era noite fechada (18:30h) quando chegamos em Pitlochry, que foi considerada pela rainha Vitória como um dos locais mais belos da Europa. Não pudemos confirmar esta afirmação, pois estava tudo escuro, ruas vazias e frias. Ficamos por ali durante uma hora, gasta num pequeno restaurante, comendo batatas fritas e bebendo refrigerante. Uma pena...
Aqui vão as fotos:

Hamish em Fort William, no início da subidas às Terras Altas


Campos de Fort William


Highlands! Lá vou eu!!


Ruínas do Urquhart Castle, do século 16, na margem oeste do Lago Ness


Bandeira nacional tremulando sobre as ruínas



Já nas Terras Altas
Dá prá notar a "tristeza"?


Loch Ness




Nessie e eu


Mais um pouco da paisagem próxima ao Lago Ness


Pitlochry O restaurante...Ali vi o único homem trajando kilt de toda a viagem - o garçon


Sei que devo estar passando uma imagem não muito boa do tão aguardado passeio na terra do nosso querido Gerry, mas a culpa foi realmente do mau tempo. Saímos de lá com a certeza de voltar numa época melhor e fazer tudo de carro. A Escócia é lindíssima e merece mais e melhor tempo.

De volta a Edimburgo

Uma enorme janela, não?


World's End
Este era o lugar onde ficavam as antigas muralhas da cidade


Mais ruas de Edinburgo




Na véspera de iniciar a volta para Londres, decidimos dar uma outra chance para Edinburgo e fomos conhecer o seu porto. Foi maravilhoso. O porto de Edinburgo é lindo, alegre, colorido. Ainda tivemos a sorte de ter sol por alguns momentos e a visão de um arco-íris fechou com chave-de-ouro a visita. Almoçamos num dos melhores restaurante da viagem toda.

Porto de Edimburgo...Outro astral!






Na noite do dia 11, definimos o nosso roteiro da volta. Decidimos descer pelo litoral do Mar do Norte, vendo alguns castelos, até Newcastle, e de lá seguir até Liverpool. Da terra dos Beatles, desceríamos para conhecer Windsor, que ficava bem próxima ao aeroporto de Heathrow, onde pegaríamos o vôo para Amsterdã no início da tarde do dia 14. E assim foi. Passamos a noite em Liverpool, que é uma graça de cidade, principalmente a área de Albert Dock (porto da cidade), onde passamos a noite e onde fica o museu dos Beatles. Andamos pelo centro (tudo pode ser feito à pé), conhecemos a rua onde era o Cavern Club (casa noturna onde eles se apresentaram pela primeira vez). Lá existe agora um bar com o nome de Cavern, com uma parede no exterior do prédio que foi feita com as pedras da antiga casa.Nestes tijolos estão o nome de todos os músicos e cantores que já visitaram o local. Muito interessante.

Retorno à Inglaterra

Bamburgh Castle









Ovelhas São vistas em quase todos os campos da Grã-Bretanha


Alnwick Castle



Liverpool
À noite


John Lennon e eu Dá prá ver os tijolos com os nomes dos músicos?


Albert Dock





Nos despedimos no dia seguinte de Liverpool. Estávamos na corrida para chegar à Londres, mas ainda tentando tirar o máximo proveito de tudo que pudéssemos pelo caminho. Com este espírito chegamos a Windsor, local de férias e lazer da familia real britanica. Para resumir um pouco, a cidade é um mimo. Ela cresceu em torno do castelo e suas construções em estilo georgiano estão conservadíssimas. Andando pelo centrinho descobrimos o "The Royal Theatre", onde estava sendo apresentada uma peça da Agatha Christie - "The Spider Web". Não tivemos dúvida. Compramos os ingressos e às 20 horas estávamos lá na terceira fila da platéia. O público era formado, em sua imensa maioria, por casais idosos, com idades entre 70 e 80 anos. Todos muito arrumados (até me senti mal, pois estava com a mesma roupa de viagem, louca por um banho), excitadíssimos, cumprimentando-se uns aos outros, como uma grande família. Isto é uma coisa muito interessante na Inglaterra e em grande parte da Europa. Os idosos são extremamente ativos. Pode-se vê-los nas mais diversas atividades, trabalhando, se divertindo. Em diversas lojas e até em entradas de pubs, verificando a idade dos frequentadores, eles estavam presentes, homens e mulhers(principalmente, mulheres). Por toda parte podemos ver as cabecinhas brancas agitando-se. Aliás, foi uma coisa que me chamou a atenção e me fez lembrar da D. Margareth, mãe do Gerry. As mulheres não pintam o cabelo como aqui. Depois de uma certa idade elas fazem questão de mostrar os cabelos brancos. Pelo menos foi o que me pareceu...
Foi uma noite inesquecível. A peça foi encenada divinamente. Eu que sempre fui admiradora das estórias da Agatha Christie quando adolescente, fiquei super emocionada por poder ver um de seus contos policiais em cena, na língua original.

Castelo de Windsor


Ruas de Windsor
Casa Torta (é o que mais se vê nestas construções medievais)





O dia 14 amanheceu com uma neblina, que graças a Deus só piorou depois que estávamos no aeroporto, aguardando nosso vôo. O "fog" tomou conta de Londres e todos os vôos atrasaram. O nosso teve um atraso de mais de 3 horas. Voces acham que estávamos perturbados? Não. Descobri, nas andanças pelo aeroporto, o restaurante do Gordon Ramsey, aquele que tem o programa "Hell's Kitchen" na TV a cabo. Só posso dizer que tivemos um grande almoço. O restaurante é disputadíssimo e tivemos de esperar cerca de 30 minutos para conseguir uma mesa. Valeu a pena! O melhor de tudo é que os preços eram super acessíveis. Já tínhamos ouvido dizer que ele tem um restaurante chiquérrimo no centro de Londres, onde os preços são altíssimos. Assim, deixo a dica aqui, para quem passar por Heathrow e tiver um tempo de sobra, vá comer no Gordon Ramsey.

Fog em Londres


Depois desta espera agradável, partimos ao nosso destino final...Amsterdan.
Eu já tinha conhecido esta linda cidade há dois anos atrás. Por isso escolhemos chegar lá dois dias antes da volta para o Brasil para poder revê-la. Vendo as fotos, voces vão entender o porquê.

Amsterdan
Mais uma pista de patinação


Museu do Cinema (Museunfilm)


As famosas bikes de Amsterdan tendo um descanso


As ruas da cidade







E este foi o meu sonho de férias. Espero ter conseguido passar a voces um pouco das minhas emoções, alegrias e desventuras(que foram poucas e recicladas, tornando-se boas lembranças). Pelo menos foi o que tentei fazer aqui, com meu relato ilustrado com fotos desta aventura nestes dias de Janeiro de 2009.
Adoro vocês! Beijos!!!