30 de set. de 2008

ERIK - VIII Capítulo


Finalmente estava no porto de Dover ao lado do caixão, onde um morto desconhecido me fazia companhia. Este, pelo menos seria enterrado em um ataúde decente. A maioria destes indigentes era sepultada em vala comum, nos arredores da cidade.
Tivera algumas dificuldades para conseguir um cadáver recente, mas graças a um amigo que trabalhava no morgue da cidade, pude ir em frente com nossos planos. Também tive de recorrer a um falsário para conseguir os documento de liberação do defunto nos portos. Até aí, já cometera dois crimes. Certamente não pararia por aí. Já estava pensando em regularizar a situação de Erik, talvez com uma nova identidade. Pensaríamos nisso mais tarde.
Claro que se não fosse o dinheiro, nada disso seria possível. Mas não tinha outra maneira. Não podia arriscar a perder tudo que conseguira até agora. Para continuar minha sociedade com Erik teria de ser assim. Além do mais, gostava dele. Era um bom amigo. Sofrido, com um passado nebuloso, mas uma pessoa de boa índole. Não conseguia imaginá-lo com um criminoso procurado. Às vezes tinha curiosidade em saber o que ele tinha feito para ser perseguido depois de tanto tempo.Mas não ousaria perguntar-lhe. Nem procuraria informar-me por outros. Não importava. O passado era passado. Seria enterrado para sempre nos próximos dias. Até então, eu não tinha noção da importância do presente no futuro. Mas agora, com o aumento da entrada de dinheiro, as possibilidades eram infinitas. Pela primeira vez eu me via fazendo planos. Planos de ampliação da joalheria de meu pai, talvez filiais em outras cidades. Planos para ter minha irmã junto a mim, novamente como uma família. E isto tudo só tinha sido possível graças a Erik. Disto eu tinha plena noção. Como ele já havia declarado um dia, o dinheiro tudo comprava. Compraria nosso futuro, nossa felicidade. Ele me ensinara a ser ambicioso.
Esperava que as cartas tivessem sido devidamente entregues às destinatárias. Será que a tal viscondessa estaria a minha espera em Calais? Estava ficando ansioso. Não tinha como voltar atrás.
Erik estava seguro em Londres. Já enviara uma mensagem dando conta disto. Ficaria aguardando os acontecimentos de Paris.

Finalmente chegamos. O barco lançou sua âncora. Tentava procurar a figura feminina que meu amigo me descrevera, de uma jovem frágil, de cabelos escuros encaracolados, vestida como uma dama da alta sociedade. Não consegui achar ninguém com esta descrição. Começava a ficar preocupado, quando, ao desembarcar e colocar-me junto ao caixão na alfândega, fui abordado por um cavalheiro alto, de cabelos louros lisos, elegantemente vestido, que se apresentou:
_ Eu sou o Visconde de Chagny. Presumo que o senhor seja Paul Marback?
_ Ah, sim! Muito prazer, visconde. Vejo que o senhor fala bem o meu idioma. Que bom, pois o meu francês deixa muito a desejar.
Tentei cumprimentá-lo com minha mão direita, mas ele não correspondeu. Esnobe!
_ Estou com minha carruagem a espera. O esquife seguirá em uma carroça que aluguei especialmente para isso. Assim que o liberarem, seguiremos viagem. Quero que isto acabe o mais rápido possível.
_ O visconde não vai querer ver as provas do que estou trazendo?
_ Ah, claro! Assim que iniciarmos a ida à Paris, poderemos conversar melhor a respeito. Vou aguardá-lo na saída do porto.
Ele parecia tão apreensivo quanto eu, apesar da empáfia.
Pela segunda vez conseguira passar com os documentos falsos. O sujeito falsificava bem mesmo. Talvez viesse a utilizar seus serviços novamente.
Depois de acomodar o morto dentro da carroça de carga, entrei na nobre diligência onde eu seguiria com o aristocrata francês. Pegamos a estrada.
_ Então, como o senhor pode comprovar que este cadáver pertence àquele marginal?
_ Gostaria que o senhor se referisse a ele como Sr. Erik. Ele era meu amigo.
_ Acredito que o senhor não saiba dos atos abomináveis de seu “amigo”.
_ Nem pretendo saber. O importante agora é levá-lo em segurança a Paris e permitir-lhe seu último desejo.
_ Se é assim.
_ Aqui estão as provas de que falei em minha carta.
Dizendo isto, abri minha pequena maleta de mão e de lá retirei um embrulho. Cuidadosamente o abri e deixei que o francês visse seu conteúdo.
Pude observar que ele emocionou-se ao ver a máscara de Erik e o pequeno anel de noivado, que insistia em reluzir à luz do sol que entrava pela janela do coche. Parecia petrificado com aquela visão.
_ Então? Acha que estas são provas suficientes para acreditar que o cadáver que estou conduzindo naquele ataúde é do senhor Erik?
_ Como...como você conseguiu estes “objetos”?
_ Eles me foram dados pelo próprio, antes de falecer. Guardava-os como relíquias de seu passado. Acabaram tornando-se úteis, pelo que estou vendo.
_ É, não há dúvida de quem é o seu “amigo”.
Seu olhar endurecera-se. A emoção parecia ter abandonado sua face.
Na primeira parada que fizemos, o visconde enviou um mensageiro que nos acompanhava a cavalo, levando uma carta. Fiquei curioso para saber quem receberia a missiva. Seria sua esposa, a tal Christine? Logo saberia.
Levamos dois dias para chegar a Paris, sem paradas para dormir. Fazíamos refeições rápidas nas tavernas da estrada e prosseguíamos a viagem. Poucas palavras foram trocadas. Ele realmente estava convencido. Mais uma etapa fora ultrapassada, para meu grande alívio. Agora, só faltava o “gran finale”. O sepultamento.


ERIK - VII Capítulo

Saí de casa, ainda atordoado com a notícia da morte do “Fantasma”. Por outro lado, sentia-me aliviado por aquela história ter chegado ao fim. A certeza de que ele desaparecera para sempre da vida real, talvez o fizesse sumir de nossos pesadelos e temores mais profundos. Christine voltaria a ser somente minha.
Teria de partir para Calais no dia seguinte, se quisesse chegar a tempo de encontrar o tal Paul Marback. Precisava falar com as autoridades responsáveis pelas buscas, ainda hoje, e obter a permissão para enterrá-lo nos subterrâneos da Ópera, que já se encontrava em obras de restauração. Acabei decidindo pedir ajuda ao Marquês de Cluny, meu amigo, que mantinha ótimas relações com os funcionários da Justiça parisiense. Tinha certeza que ele conseguiria ajudar-me nesta empreitada.
Cheguei a sua casa logo após o almoço. Fui recebido efusivamente:
_ Meu caro Raoul! O que o traz à minha presença tão prematuramente após nosso jantar de ontem? Christine está bem? Melhorou de sua indisposição?
_ Ah, sim, obrigado. Ela está bem. Na verdade, vim até aqui para pedir-lhe ajuda numa situação muito delicada que surgiu hoje pela manhã.
_ Sente-se, meu amigo. Conte-me o que houve.
Sentei em uma poltrona a sua frente, na sala de fumar.
_ Aceita um? – falou, oferecendo-me um charuto.
_ Não, obrigado, Claude.
Enquanto ele iniciava a sua cerimônia de cortar, acender e dar uma bela baforada em seu charuto, comecei a contar-lhe os motivos de minha visita:
_ Em nosso jantar de ontem, havíamos comentado sobre o fato de ainda não ter sido capturado o causador da grande tragédia do ano passado.
_ E?
_ Pois hoje, recebemos a confirmação de que ele está morto. Seu corpo chegará em 5 de Abril, no porto de Calais.
_ Tem certeza disso?
_ Absoluta.
A partir daí, passei a relatar-lhe sobre a carta que Christine recebera e o seu conteúdo. Não sabia dizer quais provas seriam dadas para comprovar o fato, mas estaria em Calais no dia marcado para verificar a veracidade disto tudo.
_ Mas existem alguns problemas, meu caro Claude. Neste sentido é que precisarei da sua ajuda.
_ Quais problemas?
_ O falecido exige ser enterrado nos subterrâneos da Ópera.
_ Como assim, exige?
_ Um último desejo.
_ Mas, um criminoso não tem esse direito – ele estava indignado.
_ Claude, agora, lhe falando como amigos que somos, gostaria que relevasse este pedido e conseguisse a permissão para tal.
_ Porquê?
_ Por Christine. Ela está muito abalada com o que ocorreu. Como você sabe, ele foi seu professor de canto. Apesar de ser um louco, ele representou uma fase importante de sua vida. Ela acreditava que ele era um anjo enviado por seu pai, para ajudá-la após sua morte. Não podia saber da mente insana que estava por trás disso.
_ Pobre Christine. Eu entendo. Bem, vou fazer o possível. Por Christine e por você, meu bom amigo. Ela não pode incomodar-se no atual estado em que se encontra. Temos que pensar no seu herdeiro. A minha pobre Dauphine não conseguiu me dar filhos, apesar de ter sido uma esposa maravilhosa. Fique tranqüilo, Raoul. Nós vamos conseguir que o último desejo do crápula seja realizado. Não por ele, mas por sua família.
_ Fico extremamente grato por sua compreensão, Claude.
_ Você parte para Calais amanhã, eu presumo?
_ Sim. São dois dias de viagem de carruagem. Quero estar lá quando o corpo chegar.
_ Bem, assim que você retornar, avise-me, que eu estarei com tudo preparado para dar um fim a esta história lamentável.
_ Estarei em eterno débito com você, Claude.
Nos despedimos com um caloroso aperto de mãos. O Marquês de Cluny sempre tinha sido um verdadeiro amigo. Sabia que poderia confiar nele numa hora como esta. Naqueles tempos, ainda era uma boa coisa ser nobre. A revolução não conseguira acabar totalmente com alguns privilégios.
Agora que conseguira resolver meu problema, sentia-me melhor. Melhor seria quando visse o “Anjo da Música” enterrado, definitivamente.
Já na rua, depois de minha visita, fui até um café próximo a Sainte-Chapelle. Fiquei degustando uma taça de conhaque, relembrando todos os momentos que passara desde o reencontro com Christine, na Ópera, até os momentos em que vimos Erik pela última vez, no meio das chamas. Como gostaria de acreditar que tudo voltaria ao normal.
À tardinha, ao voltar para casa, encontrei Christine com melhor aspecto, carinhosa como sempre, mas ansiosa para saber se tinha conseguido permissão para o enterro.
_ Não se preocupe, querida. Tudo vai ser como ele pediu. O marques de Cluny me garantiu que conseguirá a permissão.
_ Ah, Raoul, muito obrigada. Sei que é duro para você vivenciar tudo isso, mas agora este assunto estará encerrado.
_ Você jura? Acredita realmente nisso?
_ Claro. Você duvida disso?
_ Não sei, Christine. Às vezes sinto que os seus pensamentos vão para o seu “Anjo da Música”. Sinto-me sozinho.
_ Você está imaginando coisas, Raoul. Eu te amo muito. Nunca duvide disso.
Ela aproximou-se de mim e abraçou-me, repousando a cabeça de cabelos longos e cacheados em meu peito. Ah! Como eu amava aquela mulher. Seria capaz de qualquer coisa por ela.
_ Amanhã parto para Calais, pela manhã. Espero estar de volta em cinco dias. Melhor não falar com ninguém sobre isso. Não sei como Claude vai conseguir estes favores ou com quem. Assim, é melhor manter o sigilo. Está bem?
_ Está bem.
Daquela noite até o momento de minha partida, na manhã seguinte, não tocamos mais no assunto Erik.

ERIK - VI Capítulo



Um ano já se passara. Nenhuma notícia de Erik. O reinício tinha sido difícil. Esperava que ele tivesse conseguido recompor sua vida. Pelo menos não tinha sido capturado. Meu trabalho atual não era dos mais gratificantes, mas eu continuava atuando junto a espetáculos de dança. Conseguira um emprego no Folies Trévise, um teatro de variedades, onde realizavam operetas, óperas cômicas e audições musicais. Nada que se comparasse com a Ópera, mas muitos políticos eram atraídos para lá. Não só pelas óperas em si, mas pelas dançarinas. Eu atuava como coreógrafa e ensaiava as meninas. Terminava meu trabalho e ia embora. O que elas faziam depois dos espetáculos não me interessava. Não pretendia me envolver com estes “problemas”. Parece que, antes do final do ano, o nome do teatro seria modificado. Estavam pensando em algo como Folies Bergère. Queriam melhorar a qualidade das apresentações. Talvez melhorasse meu salário também.
Quanto a Meg, resolveu abrir uma pequena escola de balé para crianças. Esvaziamos o primeiro andar da casa que meu irmão deixara, colocamos barras nas paredes e voilà. Ali, ela passava a tarde a dar aulas às filhas dos comerciantes do bairro. Com isso, conseguia complementar nossa renda. Precisávamos sobreviver.
Quantas mudanças a partir daquela noite. Quantos perderam seus empregos. Meg e eu havíamos tido muita sorte em ter onde morar e por ter conseguido formas de sustentar-nos.
A reconstrução da nova Ópera já saíra dos planos e começava a manifestar-se na restauração das estruturas antigas. O incêndio havia sido controlado a tempo, poupando as fundações e a estrutura principal de teatro. Um arquiteto desconhecido de nome Charles Garnier assumira o comando dos trabalhos. Ainda tinha esperança de um dia voltar a reassumir meu antigo emprego. Quem sabe?
De novo perdida em pensamentos. Mon Dieu! Vamos trabalhar, mulher! Já estava na hora de ensaiar aquelas tresloucadas do Folies.
Saí para a minha caminhada diária de quase três quilômetros para chegar ao trabalho. Não podia dar-me ao luxo de pegar um coche. Considerava aquilo como um aquecimento antes dos ensaios. Já não tinha mais tanto medo da volta, em torno das 23 horas, pois já era conhecida nas redondezas e os malandros do bairro me respeitavam.
Ao voltar para casa, estava tão cansada que nem tive ânimo para comer qualquer coisa, apesar de Meg ter deixado meu prato pronto. Minha querida filha. Sempre tão prestativa e companheira.
No dia seguinte, pela manhã, enquanto estava arrumando nossos quartos, ouvi a voz de Meg, chamando por mim:
_ Mamãe, chegou uma carta para a senhora.Parece que é da Inglaterra?
_ O quê? – desci as escadas correndo e, por pouco não tropeço nos últimos degraus.
_ Olhe, mamãe! De quem será? Algum admirador secreto que a conheceu no Folies?
_ Olha o respeito comigo, menina! Onde já se viu?
Peguei o envelope e fiquei tentando imaginar quem teria escrito. Será que finalmente eu teria notícias de meu amigo?
_ Abra, mamãe! Estou curiosa!
_ Calma... – cuidadosamente, abri o envelope e comecei a ler seu conteúdo.
Bastaram poucos segundos de leitura para que minhas lágrimas viessem à tona. Uma grande tristeza abateu-se sobre mim. Não era o tipo de notícia que eu esperava.
_ O que houve, mamãe? Porque está chorando? Quem escreveu?
Não conseguia encontrar palavras para responder a minha filha, por isso deixei-a ler a carta.
Ele finalmente tinha encontrado paz. Parece que, pelo menos tinha feito um amigo. Paul Marback. Quem seria ele? Pedia para encontrar-se comigo assim que chegasse a Paris.
Precisava encontrar Christine. Erik desejava que estivéssemos juntas durante o funeral.
Será que ela já sabia do ocorrido? Como ela reagiria a esta notícia? Provavelmente com alívio.
_ Erik...ele morreu. Ah, mamãe, sinto muito. Sente-se aqui. Vou buscar um copo de água para a senhora.
_ Ele queria ser enterrado sob o teatro. Como vão conseguir isto? O prédio está em obras. Preciso falar com Christine – Tomei um gole da água que Meg me oferecia.
_ Coitado. Pelo menos não viveu seus últimos dias dentro de uma prisão infecta.
_ Tem razão, minha filha.
Enxuguei minhas lágrimas. Nunca mais falara com Christine, desde que ela se tornara Viscondessa de Chagny. Evitara procurá-la para não fazê-la sofrer mais com recordações. Ela devia estar tentando esquecer o passado. Mas, agora...Teríamos de nos reencontrar pela memória de Erik. Como reagiria Raoul?
Dezenas de pensamentos vieram atordoar-me a cabeça.
_ Mamãe, fique descansando aqui. Deixe que eu preparo nosso almoço. Logo as crianças vão estar chegando para a aula. A senhora vai trabalhar?
_ Claro, filha! Imagine! Não posso me dar ao luxo de ficar chorando por um amigo em casa. Vai ser bom trabalhar para distrair-me um pouco desta dolorosa notícia.
_ Então, fique sentadinha aqui, enquanto preparo algo para comermos. Está bem?
_ Claro, meu anjo. Obrigada.
Beijei suas mãos e ela saiu em direção à cozinha.
Ali fiquei. Sentada, inerte, tentando imaginar o que teria acontecido com Erik desde a sua saída de minha casa até este triste desfecho. Como teria conhecido o senhor Marback?
Talvez Christine soubesse mais detalhes. De repente, veio uma vontade incontrolável de chorar. Chorei baixinho para não incomodar Meg. Chorava por Erik, por Christine, por minha filha, por mim.
À tarde, fui trabalhar. Pelo menos, enquanto ensaiava com as dançarinas, esqueci por alguns momentos da carta.
Naquela noite, mal consegui pegar no sono, apesar do cansaço. Ao levantar pela manhã, sentia a cabeça pesada e o corpo todo dolorido. Tinha de aprontar-me para procurar Christine. Como seria o nosso reencontro?
Meg insistiu em ir comigo ver a antiga grande amiga. Apesar de não achar conveniente, devido à motivação que nos levava a fazer aquela visita, permiti que ela fosse.
Logo após um breve café da manhã, seguimos as duas rumo ao nobre bairro Champs-Elysées, onde moravam os Viscondes de Chagny.


ERIK - V Capítulo


Eu ainda podia vê-lo, em meio às chamas, as lágrimas em seu rosto, sinceras, chorando o amor perdido. Não sei como conseguira forças para continuar a viver. Em grande parte, claro, pelo amor de Raoul. Mas uma parte de mim ficara naqueles subterrâneos, enterrada com a dor do Fantasma. Aquele beijo... aquele beijo, que devia ser apenas uma súplica por liberdade, transformara-se, naquele momento, na dúvida que passaria a carregar por toda a vida. O fogo da paixão acendeu-se em mim. Um fogo que consome a alma e trai nossos sentidos. Diferente do amor que sentia por Raoul - calmo, seguro, pueril. A razão acabou falando mais forte. Fiquei feliz por libertar meu companheiro de infância, meu amor adolescente. Por outro lado, deixara minha idolatria, meu Anjo da Música, abandonado em meio ao inferno.Ao olhar para trás, meu coração despedaçou-se ao vê-lo tão arrasado em meio ao caos.
Desde então, a vida continuava. O casamento fora marcado, em data que não ofendesse aos afetados pelo incêndio. Muito adequado. Não voltei a cantar. O encantamento me abandonara. Minha voz perdera sua motivação maior. Meu professor se fora.
_ Christine! Meu bem! O que está fazendo aí? Nossos convidados chegaram.
_ Ah! Estava pensando em um nome para o bebê. Temos que resolver logo, para começar a bordar as iniciais nas roupinhas – tão fútil, tão frágil. Era assim que esperavam que eu me comportasse. E assim eu seria. Não, não era ruim. A vida estava sendo boa comigo. A escuridão só chegava até mim em sonhos, pesadelos que eram bem compreendidos por meu esposo. Acho que ele sabia de como eu me sentia dividida, mas nunca comentou nada a respeito, como cavalheiro nobre e educado que era. Talvez tivesse medo do que eu teria a dizer se perguntasse.
_ Não se preocupe com isso agora. Venha! Você está linda, como sempre – dizendo isso, depositou um beijo carinhoso em minha face direita. A face direita...a deformação de meu mestre. Pare de pensar nisso, Christine! A sua vida é ao lado de Raoul. Você o escolheu. Ele merece o seu respeito e o seu amor.
Os dias corriam tranqüilos, apesar dos recentes confrontos com a Prússia, quando vivia amedrontada com a possibilidade de Raoul ser chamado para o campo de batalha. Mas, logo fui tranqüilizada. Sua família era bastante influente. Bastante o suficiente para deixar o filho de fora dos conflitos. A gravidez viera alegrar nossa união. Uma nova vida estava sendo gerada, trazendo novas expectativas. A notícia havia chegado como um bálsamo para acalmar meu espírito angustiado. Mal sabia eu que, em breve, notícias viriam do outro lado do canal, para reacender minhas aflições e ofuscar minha alegria gerada pela maternidade.

Lá estavam o Conde e a Condessa de Vincenne, o Duque e a Duquesa de Orleans e o Marquês de Cluny, que enviuvara recentemente. Esta, aparentemente, era sua primeira aparição em um acontecimento social. Todos sorriam e davam suas congratulações pela chegada do mais novo herdeiro dos Chagny. Nenhum problema parecia afetá-los. Os assuntos eram amenos. Provavelmente, após o jantar, quando os homens estivessem fumando seus charutos, no salão destinado a eles, longe de suas frívolas mulheres, os assuntos tornar-se-iam menos suaves. Certamente a política de Napoleão III seria criticada, a perda da Alsácia e de Lorena para a Alemanha e...sobre as novas meninas nos prostíbulos de Monmartre. Neste último assunto, acreditava eu, que Raoul não estivesse interessado. Pelo menos por enquanto.
Porém, durante o jantar, as conversas acabaram por retornar ao velho assunto, ainda não esquecido, da tragédia da Ópera de Paris. As buscas pelo facínora responsável pela destruição daquele monumento e pela morte de, pelo menos, duas pessoas, continuavam sem resultados.
Senti um aperto no coração. Deus queira que ele esteja bem longe daqui. Estaria vivo? Meu coração dizia que sim. Comecei a sentir náuseas. Meu filho, recém gerado, já me ajudava a escapar de momentos pouco convenientes.
_ O que houve, Christine? Você está pálida. Não está se sentindo bem?
_ Coitadinha... Deve estar enjoada – falou a bondosa Duquesa de Orleans, Terése. – Vocês insistem em tocar nestes assuntos desagradáveis durante o jantar.
_ Por favor, perdoem-me, mas a duquesa tem razão. Quero dizer, a respeito do enjôo – dei um sorriso amarelo – Não tenho sido uma boa companhia, ultimamente. Com licença...
_ Quer que eu a acompanhe até seus aposentos?
Raoul, como sempre meigo e preocupado comigo.
_ Não, querido. Fique com nossos convidados. Mais uma vez, me perdoe. Boa noite.
Fiz uma reverência com a cabeça e retirei-me, tentando conter a ânsia a todo custo.
Consegui chegar ao meu quarto, mas não contive a náusea. Esta era a pior parte da gravidez. Os vômitos. Como um ser tão desejado podia provocar tanto mal estar?
Depois de lavar-me, coloquei minha camisola e recostei-me na cama. Peguei um livro, com o intuito de ser levada ao sono. Desde a tragédia, tinha certa dificuldade em adormecer. Às vezes, depois de conseguir, acordava no meio da noite, em sobressaltos , com palpitações.
Não se passaram mais que duas horas, ouvi os passos de Raoul subindo as escadas que levavam ao nosso dormitório. Provavelmente nossos convidados já haviam se retirado.
A porta abriu-se:
_ Ainda acordada?
_ Não consigo pegar no sono.
_ Quer que eu durma no quarto de hóspedes?
_ Não, meu amor. Prefiro que fique aqui comigo, por favor...
Seu rosto iluminou-se. Ele também precisava de atenção. Havia sido atingido por aqueles acontecimentos dramáticos tanto quanto eu. Só tentava ser mais forte.
_ O que você acha do nome Gustav? Pensei em fazer uma homenagem ao meu pai.
_ Acho uma belíssima escolha, querida. Concordo. Gustav de Chagny...Gostei.
_ Que bom que lhe agradou a minha escolha. Boa noite, querido.
_ Boa noite, Christine.
Dormimos abraçados. Apesar de tudo, eu o amava muito. Como era possível ter amor por dois homens ao mesmo tempo? Talvez porque o outro estivesse perdido na distância, no tempo. Quando aquela lembrança me deixaria livre para viver minha vida com Raoul e nosso filho? O tempo. O tempo tudo apagaria. Pelo menos era o que eu esperava.
Quando acordei , na manhã seguinte, Raoul já havia saído para os seus compromissos do dia.
Acabara de tomar meu desjejum, quando o mordomo trouxe a correspondência. Mais convites para festas, jantares, chás com as senhoras da nobreza e uma carta sem lacre, comum, originária de Dover, na Inglaterra? Endereçada para mim?
Rapidamente, desprezei as demais e voltei toda minha atenção para aquele simples envelope, sem brasões nobres. Abri-o com cuidado e comecei a ler seu conteúdo, escrito em francês perfeito, apesar de sua origem:

“Cara Viscondessa de Chagny

Meu nome é Paul Marback. Apesar de não nos conhecermos, tínhamos um amigo em comum. Infelizmente, é com pesar que venho informar-lhe o falecimento do Sr. Erik. Sua saúde encontrava-se muito debilitada, devido a graves ferimentos, o que provocou a sua morte.
Ele próprio, antes de falecer, solicitou-me que escrevesse para repassar-lhe seus últimos desejos. O primeiro era ser enterrado nos subterrâneos da antiga Ópera de Paris, local onde passou a maior parte de sua vida. Seu segundo desejo era o de que seu esquife não fosse aberto, em hipótese alguma. Tenho em meu poder provas de que o corpo pertence a ele mesmo e que somente a senhora, e talvez seu esposo, possam reconhecer, junto às autoridades legais.
Chegarei com o corpo de nosso amigo, no porto de Calais, no dia 05 de Abril , pela manhã.
Espero contar com seu apoio.
Respeitosamente,
Paul Marback”

Senti perder minhas forças e o quarto passou a rodopiar a minha volta. Deixei cair a carta ao chão. Uma forte opressão no peito fez com que tivesse dificuldade para respirar. Tudo escureceu a minha volta.
_ Christine...Christine...Acorde, meu amor. Por favor, responda.
Meus olhos pareciam ter chumbo nas pálpebras. Com grande dificuldade consegui abri-los e vi a expressão preocupada de Raoul.
_ Raoul... Você voltou para casa?
_ Fui chamado às pressas. Você desmaiou.
Só então lembrei do que tinha acontecido. Minha cabeça latejava. Veio uma imensa vontade de chorar, que tentei reprimir. Quis levantar-me da cama onde estava, mas fui impedida por Raoul.
_ Fique deitada. Já descobri a causa do seu mal estar. Não se preocupe com nada. Vou cuidar de tudo.
_ Raoul...Ele está morto... – não consegui mais evitar as lágrimas.
_ Foi melhor assim, meu bem. Agora, não existirão mais sombras entre nós.
_ Ele quer ser enterrado nos subterrâneos. Chegará em quatro dias, em Calais.
_ Já disse para não se preocupar. Eu, pessoalmente irei até lá e encontrarei o Sr. Marback, para trazermos o corpo “dele”. Fique tranqüila.
_ Raoul...obrigada. Desculpe por lhe dar mais este fardo.
_ Será um alívio poder encerrar este caso. Tenha certeza disto. Agora, descanse. Tente não pensar mais nisso. Pense em nosso filho.
_ Com licença, visconde. Trouxe um chá de ervas para a senhora – falou nossa camareira, Marie.
_ Ah! Obrigada, Marie – agradeceu meu marido.
_ Tome, amor. Vai lhe fazer bem. Vou sair novamente, para começar a tratar deste assunto. Descanse.
Deu-me um beijo na face e saiu, não sem antes recomendar máximos cuidados à Marie.
Conseguira acalmar o choro, mas aquela angústia no peito não me deixava. Será que Raoul tinha razão? As sombras iriam embora, finalmente? Talvez sim, talvez não...

29 de set. de 2008

ERIK - IV Capítulo


Os dias foram passando e a minha recuperação era visível, graças aos cuidados de meu jovem amigo. Durante este tempo, passei a receber algumas aulas de inglês, para melhorar nossa comunicação, e também, a acompanhar o seu trabalho. Era interessante vê-lo trabalhar com o ouro, a prata e as pedras preciosas. Porém, faltava-lhe imaginação na confecção das peças. Passei a dar sugestões e arrisquei-me a fazer alguns desenhos. Surpreendentemente, ele aceitara de bom grado meus conselhos e rabiscos. Mais surpreendente ainda foi quando as novas jóias passaram a não permanecer mais que um dia na pequena vitrine. O movimento da joalheria começou a aumentar e os novos pedidos já não eram mais minguados, como antes.
_ Erik, acho que formamos uma bela dupla. Você como designer imensamente criativo e eu com minha habilidade em transformar sua criação em jóia.
_ Eu estava pensando em partir. Você sabe que já estou plenamente recuperado. Não vou esperar que você me expulse daqui. Pretendia partir antes disso – falei sorrindo.
_ Olhe. Vou te propor uma sociedade. Você entra com a sua inventividade e eu com o trabalho braçal. Dividimos os lucros meio a meio. O que acha?
Ele parecia bem empolgado. Não seria má idéia. Meu medo era ainda estar muito próximo da fronteira com a França e ser descoberto. Era arriscado continuar ali. Mas não podia descartar este convite. Talvez pudesse ganhar dinheiro com esta sociedade. Não precisava aparecer muito. Deixaria o brilho para o jovem Paul e guardaria meus lucros. Sentia uma certa culpa por não contar toda a verdade a meu novo amigo. Talvez um dia.
_ Está certo, Paul! Se você não se importar de dividir sua casa com um pobre deformado - quando imaginei que poderia brincar com minha maior miséria, daquela maneira.
_ Acho que nossa sociedade vai ser um sucesso. Logo, logo, poderemos comprar uma casa maior, onde a gente não se cruze a todo o momento e eu não precise ver esta sua cara feia a toda o instante – deu um amplo sorriso e abraçou-me.
Apesar de tudo, continuei a usar minha venda negra sobre o lado direito do rosto. Ela substituíra a velha máscara da Ópera. Já conseguia sair às ruas sem atrair tanta atenção. Começava a sentir-me integrado aquela comunidade. O sucesso de nossa sociedade era evidente. O dinheiro passou a entrar mais facilmente a cada dia. Ao final do primeiro ano, mudamos para uma loja maior, num bairro mais nobre de Dover e nossos clientes passaram a vir em carruagens elegantes. Ricos comerciantes e alguns nobres eram nossos clientes, na aquisição de presentes para suas esposas e... para suas amantes. Como havia exigido de Paul, que não quis entrar em detalhes sobre meu pedido, meu nome não aparecia de maneira alguma. Todos os louros eram para ele. Não me importava o sucesso pessoal. Meus planos iniciais, de ganhar muito dinheiro pareciam estar dando certo. Isto é o que importava.
O medo do passado parecia estar ficando longínquo. Até os pesadelos já não visitavam minhas noites com tanta freqüência. Até o dia em que, passando em frente à cadeia municipal, vi fixado um cartaz, que fez todos meus temores serem arrancados do limbo em que se encontravam até então. Era o retrato de um homem, com uma máscara que cobria seus olhos, como aquela em que eu usara na primeira e última apresentação de “O Triunfante Don Juan”, na Ópera de Paris. Em grandes letras, lia-se a palavra “Procurado”. Em letras mais miúdas, indicava que o sujeito era de nacionalidade francesa e de extrema periculosidade.
Corri para casa. Acho que chegara a hora de partir. Logo agora, que tudo ia tão bem. Porque? Já não sofrera o suficiente para pagar minha dívida?
Teria de contar a Paul minha verdadeira história. Certamente ele me expulsaria de sua casa. Com toda a razão. Eu não o culparia.
Como sempre, ao chegar, Paul encontrava-se debruçado em sua mesa de trabalho, sobre um lindo broche, desenhado por mim, em forma de borboleta, em ouro, cravejado de pequenas esmeraldas e brilhantes, que davam uma delicadeza e uma leveza esplêndida à pequena relíquia.
_ Paul, precisamos conversar...
_ Sente-se aí e fale. Algum problema? Sua voz está estranha.
Parou seu trabalho e levantou um olhar preocupado em minha direção.
Sentei-me, e sem conseguir enfrentar sua face inquiridora, falei:
_ Há cerca de um ano, quando cheguei aqui e fui bondosamente acolhido por você, estava fugindo de meu país natal, a França.
_ Até aí, Erik, não vejo novidade alguma.
_ Como? Você sabia que eu era um foragido?
_ Podia ter alguma dúvida? Uma pessoa que chega no estado em que você chegou, num dos principais portos ingleses e sem falar uma palavra de nossa língua, faria pensar em que? Que você estava aqui a passeio?
Tive que rir de minha ingenuidade ao subestimar a inteligência de meu sócio.
_ Porque você nunca quis saber de meu passado?
_ Não achei que fosse importante. O tempo me deu razão. A nossa parceria tem sido um sucesso. Nós estamos indo bem, não?
_ Estamos, Paul. Mas, infelizmente, meu passado pode voltar para atrapalhar nossos planos.
_ Deve haver algo que possamos fazer.
_ Estão a minha procura. Hoje vi um cartaz, com um retrato falado. Muito mal feito, é verdade, mas que mostra um homem com uma máscara, igual a que eu usava antes de fugir, cobrindo meus olhos e parte da desfiguração. Dizem que o homem é muito perigoso. Oferecem uma recompensa. Logo alguém vai lembrar de mim e fazer a ligação. Preciso ir embora, Paul.
_ Vamos pensar, Erik. Tem que haver uma maneira. Talvez você pudesse viajar – enquanto pensava, vi sua face transformando-se, de uma expressão preocupada para um sorriso maroto.
_ Já sei!! Olhe, já venho pensando há algum tempo que Dover já está ficando pequena demais para nós. Temos tido alguns clientes de Londres, que vêm para comprar nossas jóias. Talvez esteja na hora de mudarmos para um centro maior e expandir nosso negócio. Para isso, preciso que alguém que vá na frente para conseguir um lugar para abrir a nova loja, ter contatos com clientes, enfim, preparar o terreno. O que acha?
_ Acho uma boa idéia, mas o problema só seria adiado. Eles vão continuar a caçada. Um dia vão chegar a Londres. Se já não chegaram.
_ Então temos que dar um jeito para eles pararem com esta caçada.
_ Como? Eu errei muito, Paul. Um dia você vai saber de meus crimes. Arrependi-me profundamente de todos eles e acho que já sofri o bastante para redimir-me. Mas, a maioria das pessoas não pensa assim, e só vão descansar quando me virem com a cabeça dentro de uma cesta de palha.
_ Tem que haver uma maneira. E...Se você morresse?
_ Como assim?
_ Claro! Eles não o querem morto? Achamos um corpo qualquer, o que não é difícil hoje em dia, e o enterramos como se fosse você.
O que ele estava dizendo parecia um absurdo total, mas quem sabe? Talvez não fosse uma idéia tão absurda assim.
_ Paul, estou começando a pensar num plano tão louco quanto sua idéia e que pode dar certo. Vou precisar da sua ajuda, de qualquer maneira.
Durante mais de duas horas arquitetamos um esquema, que aparentemente seria perfeito.
Revisamos os riscos, todos as arestas possíveis, de forma a não deixar nenhum detalhe de fora.
Ao final deste tempo, ficou resolvida minha ida para Londres, onde ficaria isolado de tudo por alguns dias, até que minha “morte” estivesse definida.
Naquela noite, tive pesadelos mais terríveis que os anteriores. Acordava aos sobressaltos, suando frio. Meus sonhos sempre me encontravam num labirinto escuro. O barulho de água interminável, águas escuras e malcheirosas, que escorriam das paredes, vozes, murmúrios ameaçadores. Eu correndo, meu rosto sangrava, embaçando minha visão...Os sussurros tornavam-se mais audíveis... “Filho do demônio, filho do demônio...peguem-no !!!” Finalmente, sentia mãos, como garras, forçando-me a parar. Neste ponto, acordava, ainda com a sensação daquelas mãos frias cravando suas unhas em meus ombros.
No dia seguinte, bem cedo, uma carruagem me aguardava nos fundos da joalheria. Paul havia dado uma ordem bem clara de que não devíamos parar por motivo algum. Indicou ao cocheiro o hotel, discreto segundo ele, nos arredores de Londres, para onde devia levar-me. Lá, eu aguardaria suas notícias .Se tudo corresse conforme o planejado, receberia, em breve, notícias suas de que já estaria livre para circular novamente e cuidar de nossa mudança. No mesmo dia, duas cartas atravessariam o canal da Mancha, em direção a Paris, endereçadas a duas mulheres: Madame Giry e Viscondessa de Chagny.




Volto amanhã com mais capítulos do ERIK.
Beijos!!

ERIK - III Capítulo


O centro de Dover ficava distante cerca de 3 km a nordeste. Segui na direção indicada. Desta vez teria de fazer o percurso a pé. Tinha que agüentar. Agora faltava pouco. Pelo menos conseguira cruzar a fronteira. Por enquanto, seria mais seguro. Provavelmente teria dificuldades com a língua. Talvez pudesse passar por mudo, ao menos no início.
Tentava imaginar o que poderia fazer para começar minha nova vida. Com isso tentava esquecer a febre que atordoava meus sentidos e a pontada insistente em meu dorso. Consegui chegar a Dover, mas já estava sentindo-me muito mal. Sentia calafrios, apesar do corpo queimar. As pernas fraquejavam. A bolsa de couro pesava como se lá tivesse colocado chumbo. As pessoas que transitavam nas ruas deviam pensar que eu era mais um estrangeiro bêbado. Logo, cambaleei e, sem forças, caí. Conseguia ouvir o burburinho à volta. Alguém me arrancou a bolsa de couro das mãos. Não tinha forças para segurá-la. Mais alguns gritos. Uma voz sobressaiu-se das demais. Era a voz de um homem. Tentaram me reerguer, mas acabei soltando um grunhido de dor, pois as mãos pressionaram diretamente meu ferimento.
_ Sangue! – disse a mesma voz de antes. Pude entender que minha ferida reabrira e sangrava.
_ Você! Ajude-me a levar este homem para dentro de casa. Ele está ferido! My God! Ninguém tem misericórdia nesta cidade. Eu mesmo o levo. Além de roubá-lo, ficam olhando para ver o homem morrer.
Entendi que o rapaz estava fazendo um esforço sobre-humano para poder tirar-me do solo. Assim, juntei o resto de forças que ainda achava que tinha e levantei meus braços, para que ele entendesse que estava consciente e que tentaria ajudar a levantar-me.
_ Vamos! Venha! Se continuar aqui vai acabar sendo depenado por estes ladrões inúteis e, provavelmente atropelado por alguma carroça desavisada.
Com muito esforço, conseguimos atravessar a rua e entramos por uma porta que me pareceu ser de uma loja. Havia uma pequena vitrine na frente. Teria visto algo reluzente por trás do vidro? Mal conseguia abrir os olhos. Devia estar tendo alguma alucinação. Era uma joalheria?
Passamos pelo pequeno recinto da frente e fomos para o que devia ser os fundos da casa.
_ Você consegue ficar sentado?
Gesticulei, para que ele soubesse que eu não estava entendendo o que ele me dizia.
_ Você é surdo? – falou, cobrindo os ouvidos.
Acenei negativamente com a cabeça.
_ Você não fala minha língua? É isso? Será?
_ François... – disse com voz quase inaudível.
_ Francês?
A partir daí, ele conseguiu falar algumas palavras em meu idioma, tentando fazer-se entender.
Ele queria que eu ficasse sentado para ver meu ferimento.
Ao permitir isto, ouvi sua exclamação horrorizada:
_Oh, God! Acho que precisamos de um médico.
Pensei ter entendido a sua intenção e balancei a cabeça negativamente, vigorosamente.
_ É, meu amigo. Não se preocupe. Não tenho dinheiro mesmo, para chamar este tipo de ajuda. Já vi que você não vai querer gastar o seu. Vamos ter de nos virar com o que tenho em casa e rezar para que o seu organismo dê conta de recuperá-lo. Melhor deitar-se, enquanto pego água e panos para limpar esta ferida - Ficou falando comigo, enquanto pegava o material de higiene.
_ Já vi que você é um homem prevenido. Carrega seu dinheiro colado ao corpo. Sua sorte, pois se aqueles ali fora soubessem, você já estaria sem um tostão e morto há estas horas. Ainda bem que eu estava em frente à loja e vi tudo. Só não consegui segurar o malandro que arrancou a sua bolsa.
Ele parecia não dar muita atenção para o meu rosto, curiosamente.
_ Agora, fique firme. Vou começar a limpar este corte e acho que vai doer.
Ele falava muito enquanto fazia o seu trabalho de limpeza. Alguma coisa podia entender.
Paul. Este era o seu nome. Paul havia herdado a pequena joalheria de seu pai, ourives conhecido da região. Tinha aprendido o ofício com ele, mas não tinha o seu talento. Assim, quando o pai morreu, a procura por suas jóias foi diminuindo. Agora, poucas encomendas eram feitas. Considerava-se um criador de “bijuterias” finas, sem grande valor, a preços módicos. Parecia ser uma pessoa bem humorada, falante, humilde, sem grandes aspirações na vida. Vivia o presente, sem ligar para o futuro. Conseguia uma pequena renda mensal na loja, que lhe permitia viver com simplicidade, sem extravagâncias. Só sentia não ter o suficiente para trazer a irmã caçula para viver em Dover com ele, pois se sentia muito só. Ela morava numa cidade do interior, distante uns 150 km dali, ao norte, com uma tia rabugenta, irmã de seu pai, desde que este falecera, há 2 anos.
Mais uma pessoa que me tratava como ser humano. Parece que o destino resolvera compadecer-se de mim nesta nova trilha de minha vida.
Só depois de alguns dias, quando viu seu paciente em melhor estado, sentiu maior intimidade para perguntar-me sobre meu rosto. Resolvi contar-lhe a verdade. Senti que não havia necessidade de mentir para ele. E, realmente, tinha razão. Não notei pena em seu comentário, apenas um toque de tristeza por esta fatalidade.
_ Deve ser difícil agüentar os olhares dos curiosos.
_ O pior são os olhares que o fazem sentir-se monstruoso. Nesta minha viagem, descobri uma bela falsa explicação para este meu “defeito”. Ferimento de guerra.
_ É, talvez seja uma boa opção para fugir de várias explicações.

ERIK - II Capítulo


Na manhã seguinte, fui acordado por batidas fortes na porta, no andar debaixo.
_ Abram, é a polícia!
Levantei-me da cama, com dificuldade, devido à dor, mas pude chegar até a porta do quarto, abrindo-a, para tentar escutar as vozes lá embaixo.
_ Calma! O que está havendo? Porque a pressa?
Annie abriu a porta.
_ Bom dia, madame. Fomos informados que um homem estranho, usando uma capa, foi visto andando por estas ruas. Pode ser um assassino.Estamos a sua procura. Deve ter ouvido falar do incêndio na Ópera, há duas noites atrás, não?
_ Sinto muito, mas não posso ajudá-lo. Não vi ninguém com esta descrição.
_ Tem certeza?
_ Claro! Se souber de alguma coisa, avisarei.
Fechou a porta. Respirou fundo, com olhar preocupado.
_ Eu falei, mamãe. Vamos ter problemas.
Ela tinha razão. Se eu continuasse ali, elas poderiam ser intimadas e presas por cumplicidade. Precisava deixá-las. Não podia lhes causar mais este sofrimento.
Annie abriu a porta e surpreendeu-se ao me ver em pé.
_ O que você está fazendo aí? Não pode levantar-se.
_ Vou embora esta noite. Precisam conseguir-me roupas e algum disfarce para o meu rosto.
_ Mas, você não pode sair. Você vai acabar sangrando até morrer, se não cuidar.
_ Vocês estão correndo perigo enquanto eu estiver aqui.
_ Está bem. Vou ver o que posso arranjar.
_ Obrigado, Annie. É o melhor para todos nós. Você sabe disto...
A noite chegou. Um chapéu de abas largas e uma venda preta sobre o olho direito serviram para disfarçar minha face desfigurada. Annie conseguira retirar meu dinheiro do banco, guardado em seu nome, a meu pedido. Era uma quantia razoável, produto do salário pago, por anos a fio, pelos administradores da Ópera. Com ele poderia iniciar algum negócio, em outro país. Resolvi guardar a maior parte dentro de minhas botas e numa faixa usada junto ao corpo. Mais tarde, veria que tinha sido uma sábia decisão.
_ Boa sorte, Erik! Deus o proteja. Aqui estão alguns mantimentos para a sua viagem. – falou, entregando-me uma bolsa de couro.
_ Obrigado, Madame Giry. Nunca vou esquecer o que você fez por mim.
_ Por favor, assim que possível, escreva e mande notícias.
_ Adeus.
_ Adeus, Erik – e abraçou-me, como a um irmão.
_ Erik... – falou Meg. - Eu peço desculpas pelo meu comportamento nestes últimos dias. Desejo que você seja feliz. Tenho uma coisa para lhe dar, que achei nos seus aposentos durante a confusão daquela noite – dizendo isto, alcançou-me a minha máscara que cobria a metade de meu rosto desfigurado.
_ Eu não a culpo pelos seus pensamentos, Meg. Você tem toda a razão em ter medo. E obrigado por recuperar o meu “rosto”. Adeus.
Saí pela porta dos fundos. Já era madrugada. Só os bêbados e as poucas prostitutas que ainda não haviam conseguido completar a féria da noite, ainda perambulavam pelas ruas. A dor na ferida já recomeçara.. Não podia arriscar-me a pegar um coche.
Tinha de seguir para o Norte. Calais? Não, muito movimentado. Talvez Boulougne fosse melhor.
Estava próximo ao mercado, que já começava a movimentar-se com a chegada das mercadorias, vindas em carroças, das pequenas propriedades da periferia da cidade. Se eu conseguisse pegar um daqueles cavalos. Um pequeno furto não mancharia muito mais a minha ficha policial.
Aproximei-me, cuidadosamente, ainda coberto pela escuridão da noite, do bebedouro público onde os cavalos saciavam sua sede. Consegui desatrelar um deles e silenciosamente afastei-me do local sem ser percebido. Quando o dono deu-se conta, já era tarde demais. Já cavalgava livremente pela estrada, rumo a Beauvais. De lá seguiria para Boulougne. Apesar da dor, não podia arriscar-me a parar para descansar. Eram cerca de 250 km a percorrer a cavalo. Não seria fácil, considerando meu ferimento. Contudo, cheguei a Beauvais no início da tarde.
Apesar do bom trabalho de Annie, o esforço de cavalgar era grande e uma pequena hemorragia insistia em voltar. Coloquei minha capa por cima do corpo, para esconder o sangramento. Logo na entrada da cidade, encontrei uma velha taverna, onde pude beber um copo de vinho, com pão e queijo. Sentindo-me observado pelos poucos freqüentadores do lugar, tentei não lhes dar atenção. O taverneiro não resistiu à curiosidade e perguntou:
_ Foi ferimento na guerra?
Percebi que esta seria uma bela desculpa para aquela deformidade.
_ Sim. Lembrança de uma batalha.
Iniciamos uma conversa muito animada, principalmente por parte de meu interlocutor, que viu em mim um companheiro de lutas. Passou a contar das batalhas que participara. Minha sorte foi que ele gostava mais de falar do que de ouvir. Quando terminou seu monólogo, pude pagar e despedir-me. Já não via desconfiança ou horror nos rostos a meu redor. Sentiam admiração e pena pelo herói que supunham eu ser.
A partir daí, decidi não fazer mais paradas nas localidades por onde passasse. Poderia ser reconhecido. Não tinha idéia de como estava a caçada ao Fantasma. Havia visto alguns policiais andando pela cidade, sendo que um deles ficou olhando-me suspeitamente. Provavelmente, devido ao meu aspecto e por curiosidade em relação ao meu “ferimento” no rosto, mas eu não podia arriscar. Resolvi manter a venda preta e não minha antiga máscara, para não chamar mais a atenção.
Foram três dias de longo e cansativo trote, tentando evitar as estradas principais, com a dor nas costas a me infernizar. Noites mal dormidas em meio ao mato, alimentando-me com o pão, a geléia de maçã e alguns biscoitos que Madame Giry colocara na bolsa de couro. A água, para saciar a sede, vinha dos córregos por onde passava. Estava exausto, sentindo-me fraco e febril. Precisava de um banho. Precisava trocar os curativos.
Finalmente, ao final do terceiro dia, as poucas luzes de Boulogne surgiram no horizonte, misturando-se ao lusco-fusco do anoitecer.
Podia sentir o cheiro de peixe em minhas narinas. Se pudesse achar um lugar para repousar à noite. Poucas luzes acesas. Consegui encontrar uma pequena pousada próxima à praia. Ao entrar, mais uma vez o olhar desconfiado do caseiro. Em tom de gracejo, comentei sobre o presente de Napoleão III em meu rosto. Fiquei impressionado com a simpatia que veio substituir a expressão de horror que havia segundos antes. Passei a surpreender-me com a maneira como as portas se abriam diante deste argumento.
Consegui um modesto quarto, mas com uma cama limpa e uma bacia com água para a higiene. Claro, que tinha um preço alto, além do cavalo que ficaria para completar o pagamento. Mas, considerando o cansaço e as dores que sentia, foi bem pago. Tentei cuidar de meu curativo da melhor maneira possível, mas, pela localização, tive dificuldades em fazer uma limpeza adequada. Como já não estava sangrando, apenas lavei-o como pude. No dia seguinte, colocaria uma camisa limpa. Não consegui dormir direito. Sentia a ferida latejante. Certamente estava infectada. Mantinha-me em estado de alerta constantemente pelo medo de ser descoberto e ter meus planos jogados por terra.
Tão logo amanheceu, levantei-me e desci para comer alguma coisa e procurar uma embarcação que me levasse para Dover. Se não estivesse ferido, eu mesmo poderia remar e atravessar La Manche. Porém, no estado em que me encontrava, seria assinar o meu óbito em meio às ondas do mar.
Conversando com o dono da pousada, consegui descobrir que seu irmão estava saindo dentro de uma hora, com seu barco a vapor, para atravessar o canal , levando algumas mercadorias para o território inglês. Como as coisas funcionavam a contento quando havia dinheiro para gastar... Esta seria a minha orientação a partir de então. Ganhar dinheiro. Todas as barreiras eram superadas na presença de algumas moedas. Não havia preconceito ou dificuldades.
Após um brevíssimo“petit déjeuner”, fui apresentado a Jean, irmão de meu hospedeiro. Era um homem de meia idade, forte, queimado pelo sol, de poucas palavras, diferente do seu consangüíneo. Pareceu-me meio desconfiado.
_ Espero que você seja discreto a respeito deste nosso “passeio”.
_ O mesmo espero de você. Portanto, não teremos problemas.
Após este breve entendimento, partimos mar adentro. Pude entender que o seu carregamento era ilegal e que não passaria por tarifa alfandegária. Isto ficou mais claro, quando, ao chegarmos ao outro lado do canal, o barco aproximou-se de uma praia deserta, onde dois homens aguardavam, para descarregar a mercadoria, num pequeno barco a remo, que logo alcançou-nos. Após uma breve apresentação, fui levado com a primeira série de caixotes.


28 de set. de 2008

ERIK

Minhas(meus) queridas(os) fãs do Gerry:

Há pouco tempo atrás, a Pati me pediu para postar a minha versão para a continuação do Fantasma da Òpera, que fiz baseada no filme maravilhoso, encenado pelo Gerard Butler como protagonista. Assim, para animar um pouco o nosso blog coletivo, resolvi iniciar com o primeiro capítulo no dia de hoje. Sei que a maioria já deve ter lido anteriormente lá no Orkut, mas se tivermos novos leitores, espero que a minha versão agrade a todos. Eu escrevi esta continuação algum tempo depois de ler "O Fantasma de Manhatan", do Frederick Forsythe. Apesar dele ser um escritor excelente, na época achei que ele não tinha conseguido realizar um grande romance e, modestamente achei que poderia escrever algo mais interessante. Voces me dirão se consegui ou não...

ERIK

Novamente em fuga. De volta aos esgotos. Mais uma vez, rejeitado. Christine me abandonara definitivamente. Tinha esperanças que ela ficasse comigo, mas seu amor por Raoul era maior. Devia saber que ela não trocaria o belo visconde por um deformado como eu. Ela não merecia o meu amor. Em nosso único beijo pude perceber que ela faria qualquer coisa para salvar seu amante. Eu podia entender agora. O amor nos faz cometer loucuras. Agora, seguiria meu caminho. Começaria do zero, mais uma vez. Esta era a minha vida, minha sina, meu destino. Quando poderia dar sossego a minha alma atormentada? De tudo que aconteceu, levara uma lição...nunca mais colocaria alguém acima de mim mesmo. Tudo que conseguira ao longo dos anos, perdidos numa só noite, por causa de uma mulher. Uma mulher...Christine...
Ouvi as vozes dos soldados ao longe. Gritos de pavor vindos das ruas, acima de mim. O calor das chamas. Podia senti-lo, queimando toda a beleza daquele teatro magnífico, que por tantos anos fora meu lar. Um lar de sombras, de noite eterna, mas um lar.
De repente, ouvi em forte estrondo e alguns destroços caíram sobre mim. Entre as pedras que desabavam, enfraquecidas em suas ligas, pelo fogo, havia estacas de madeira. Uma delas, precipitou-se rapidamente sobre minhas costas, cravando-se em minha carne, provocando uma dor intensa. Devo ter perdido os sentidos naquele momento, pois não lembro de ter visto mais nada depois disso. Não sei quanto tempo ali fiquei, deitado, naquelas ruelas fétidas , subterrâneas, até recuperar a consciência. Levantei-me e continuei minha fuga. Agora, sentia muita dor. Minha camisa estava colada ao corpo. Não pelo suor ou pela água, mas por sangue, que fora perdido em grande quantidade. Sentia-me fraco. Precisava sair daquele lugar, antes que alguém me encontrasse. Todos deviam estar ansiosos por encontrar este “ser maligno, deformado, homicida sanguinário”. Ninguém sentiria compaixão por mim, nem ouviria minhas explicações. Nada explicaria aquela violência e aquela raiva contida numa só pessoa. Talvez Christine compreendesse. Vi nos olhos dela que sim. Outra pessoa já tinha entendido este meu lado. Não podia esquecê-la. Madame Giry. Annie Giry. Minha salvadora. Talvez...Quem sabe ela não pudesse ajudar-me agora. Seria ela capaz de arriscar-se novamente por mim? Depois de tudo que ocorrera naquela noite?
Ao encontrar uma saída para o ar livre, cobri-me com minha capa. A máscara que usava ficara perdida no meio dos escombros. Para onde Annie e sua filha poderiam ter ido? Seu lar também fora destruído. Lembrei que, certa vez, ela havia falado na casa de um irmão em Monmartre, próxima a Sacré-Couer Talvez tivesse ido para lá, até encontrar um lugar definitivo. Segui em sua direção. Lembrei do endereço. Não era difícil de achar. Com dificuldade, andei, esgueirando-me pelas ruas de Paris, como facínora perseguido que era. Cerca de quase duas horas depois, estava lá. Havia uma fraca lamparina acesa. Procurei a porta dos fundos. Consegui abri-la com facilidade. Entrei silenciosamente, indo na direção da luz. Num instante, ouvi vozes femininas, sendo que uma estava chorando. Era Meg. Pareciam estar sozinhas. Não queria assustá-las.A dor nas costas estava incomodando muito. Tropecei num pequeno tapete, não visualizado no escuro.
_ Quem está aí? – perguntou a voz conhecida.
Ela pegou um pesado candelabro que estava sobre a mesa e levantou-o no ar, pronta para desferir um golpe no intruso oculto nas sombras da sala.
_ Sou eu, Annie! Erik! - Minha voz saía fraca. Perdia as forças rapidamente.
_ Erik! Meu amigo! O que houve com você?
Ela ainda me considerava seu amigo. Era uma pessoa especial. Tinha muito a aprender com ela. Desperdiçara meu tempo com vingança e um amor tolo, ao invés de prestar atenção a quem tinha algo de valor a ensinar. Talvez fosse tarde demais para isso.
_Annie, me perdoe. A culpa foi toda minha. Fui um estúpido. Deveria ter morrido naqueles subterrâneos. Só agora vejo que você tinha razão.
_ Erik.! O que aconteceu? Você está sangrando muito.
_ Mamãe! Nós não podemos ajudá-lo! Ele está sendo perseguido pela polícia. Se souberem que o ajudamos, seremos presas como cúmplices!
_Cale-se, Meg! Não foi assim que a ensinei! Ajude-me aqui, agora!
Com muito esforço, conseguiram levantar-me do chão e levar-me até um pequeno sofá, onde, após despir-me da capa e de minha camisa, puderam ver um ferimento cortante, amplo, com uma séria hemorragia.
_ Meg, traga-me água quente, panos limpos , agulha de bordar e uma linha de algodão. Rápido!
_ Melhor deixar que eu morra. Já prejudiquei muita gente.
_ Cale-se, você também, Erik. Agora vou dar um jeito neste ferimento. Não quero vê-lo morrer dentro de minha casa, na frente de minha filha. Assim que você estiver recuperado, poderá fugir e tentar refazer a sua vida. Agora, temos de pensar numa maneira de diminuir a dor que você irá sentir quando eu tiver de costurá-lo.
Falando isso, foi a cozinha, onde pegou uma garrafa de conhaque. Fez-me beber vários goles. Em pouco tempo já estava tonto. Não estava acostumado a beber tanto.
Meg voltou com o pedido da mãe. O ferimento foi limpo e logo, ela fazia o seu trabalho de costureira. Durante o procedimento, desmaiei. Não só pela dor, mas por estar fraco demais com a perda de sangue.

Acordei. Estava deitado em uma cama, com lençóis limpos. Meu peito encontrava-se enfaixado com gazes brancas. A dor recomeçara. Não conseguia mexer-me. Ainda estava fraco.
_ Bom dia! Como está meu paciente? Sobreviveu ao meu trabalho de açougueiro? Trouxe-lhe um caldo de galinha quentinho, para recuperar suas forças.
_Annie...Como vou poder agradecê-la por tudo que está fazendo por mim?
_ Ficando bom logo, para poder ir embora daqui - falou sorridente.
_ Erik, falando sério, o seu ferimento foi bem profundo. Você tem que repousar, pois ele pode sangrar de novo. Não tente fugir. Você está seguro aqui.
_ E o seu irmão?
_ Ele faleceu há cerca de seis meses. Deixou-me esta casa como herança, pois não tinha herdeiros.
_ Eu não sabia. Porque não me contou?
_ Você estava muito envolvido com os seus planos e com a sua pupila. Não quis incomodá-lo.
_ Annie, eu sinto que tudo isto que aconteceu mudou o meu modo de pensar. Parte daquele ódio que eu sentia deu espaço para outros sentimentos. Se eu conseguir sobreviver a tudo isto, vou embora para outro país, tentar recomeçar minha vida, de outra maneira.
_ Erik, como é bom ouvir isto! Já é tempo de você deixar o passado de lado. Você é um homem muito inteligente e talentoso. Não pode deixar que um simples defeito físico atrapalhe sua vida. Você sabe que pode contar comigo...Sempre.
_ Eu sei, Annie, e sou profundamente grato a você.
Mais uma noite de sonhos terríveis me aguardava. Sempre a perseguição era o tema principal. Era perseguido por sombras demoníacas, ávidas por meu sangue. Por minha cabeça. Às vezes, Christine surgia do nada. Por vezes queria ajudar. Via suas delicadas mãos tentando alcançar-me ou puxar-me para fora da escuridão. Outras vezes, ela surgia unida às sombras ou a Raoul, vociferando contra mim. A sensação de morte iminente era quase real.
Ao final, acordava banhado em suor e com as têmporas latejantes.

19 de set. de 2008

Frase pra ser lida todos os dias e acreditar!!!!


Olá Meninas!!!


Recebi esta frase e pensei em compartilhar....



"Os que acreditam no impossível são os mais felizes."


Eugenie de Guerin



Por isso.... somos felizes e não podemos deixar de sonhar nunca!!!


Beijos a todas e um ótimo fim de semana!!


Cassinha



13 de set. de 2008

Capítulo Final

Tentou distrair-se durante o dia, mas estava muito ansiosa pelo encontro que teria a noite com Gerry. Já sabia qual seria sua resposta. A dúvida era como deveria agir depois. Gerry parecia corresponder a todos os seus anseios. Mas ainda tinham pouco tempo juntos para que ela tivesse certeza absoluta disso. Não queria errar novamente. Não queria sofrer. Desta vez queria estar no controle de suas emoções, o que não era fácil tendo um homem como Gerry a sua frente.
A noite chegou e já estava pronta, esperando-o, quando recebeu a ligação dele avisando-a que já estava no saguão. Havia colocado, de propósito, um vestido ligeiramente provocante, que tinha um grande decote nas costas, apesar de parecer discreto quando visto pela frente. Prendeu os cabelos, pois não queria passar uma imagem sexy demais. “Quantos preparativos, para depois querer evitá-lo. Será que não estou sendo ardilosa demais?”, foram seus últimos pensamentos antes de descer para a recepção do hotel, para encontrar-se com Gerry.
Lá estava ele, distraído, olhando o movimento do “lounge” do hotel. Estava impecável, num lindo terno escuro, provavelmente Armani ou Versace, sem gravata, com a camisa branca com os primeiros três botões abertos, que deixavam entrever seus pelos do peito. Os cabelos ligeiramente revoltos e a barba eternamente por fazer lhe davam um charme especial. Tinha uma elegância natural que chamava a atenção de todos.
Suspirou e dirigiu-se até onde ele estava. Quando ele virou-se, ao ouvi-la chamar seu nome, olhou-a com admiração. Sylvia, mais uma vez sentiu-se despida por aqueles olhos cor do mar, mas tentou abafar e disfarçar a onda de desejo que tomou conta de seu corpo. Beijaram-se como amigos e, pegando em seu braço, Gerry falou:
_ Você está linda...como sempre.
_ E você caprichou também.
_ È porque espero que esta noite seja muito especial... – lançou-lhe um olhar sedutor, mas logo em seguida, sorrindo, continuou – Afinal, não é sempre que se pode sair para jantar com uma grande amiga... È o que somos agora, não? Amigos? – e pegando em sua mão, deu-lhe um beijo no dorso, que a fez arrepiar-se – Vamos?
_ Vamos... – respondeu, apoiando-se no braço que ele lhe oferecia.
Ela estranhou quando o carro estacionou na frente de um prédio de apartamentos. Desceram e um manobrista da portaria do edifício recebeu a chave para guardar o carro.
_ Que lugar é este? Tem um restaurante aqui?
_ O melhor, para o meu gosto – respondeu sorridente – É o meu apartamento. Eu o comprei há cinco anos e só há pouco tempo consegui terminar a reforma e mobiliá-lo. Gostaria que você o conhecesse – ele notando o olhar temeroso de Sylvia, continuou – Não se preocupe. Teremos um mordomo, um garçom e uma cozinheira para nos fazer companhia. Não estaremos sozinhos. Mas se você preferir ir a outro lugar, não há problema algum. Pegamos o carro e saímos novamente. Só vou lhe adiantar que a minha cozinheira é a melhor da cidade.
_ Está bem, Gerry. Vou confiar em você. Vou conhecer o seu apartamento.
_ Pode confiar. Não farei nada que você não queira...
Sylvia engoliu em seco e acompanhou-o até os elevadores. Subiram em silêncio. Ele tocou a campainha. Um senhor calvo, uniformizado abriu-lhes a porta, permitindo sua entrada.
_ Boa noite, senhor. Boa noite, senhorita – cumprimentou-os com uma ligeira reverência com a cabeça.
Eles entraram e Gerry convidou-a a sentar-se no amplo sofá da sala.
_ Quer ouvir alguma música em especial?
_ Não, esta que está tocando está ótima – disse, referindo-se ao som do Sigur Rós que podia ser ouvido no ambiente.
_ Você conhece esta banda?
_ Sim. Adoro o tipo de música que eles tocam. Às vezes pode ser muito relaxante.
_ Que bom. São a minha banda predileta – disse com satisfação – Quer tomar alguma coisa?
_ Água seria ótimo.
Imediatamente o garçom, também devidamente uniformizado, foi acionado para atender ao pedido deles. Gerry a acompanhou na água.
Começaram a falar de músicas preferidas e a conversa passou a descontrair um pouco a tensão em que Sylvia se encontrava.
Após algo em torno de trinta minutos, foram convidados a sentar-se na mesa redonda da sala de jantar, lindamente posta, com porcelanas Limoges , cálices de cristal, talheres de prata e um lindo arranjo floral no centro. Tudo estava perfeito. Só faltaram as velas. “Talvez ele tenha evitado este detalhe para não dar um tom romântico ao jantar. Muito perspicaz...”, pensou Sylvia, que estava gostando daquele jogo, afinal. Mais pontos iam sendo somados aos vários que ela estava atribuindo a Gerry.
A comida realmente estava deliciosa e Sylvia fez questão de agradecer pessoalmente a cozinheira ao final do jantar.
Foram oferecidos licores á Sylvia, que aceitou um pequeno cálice de cassis. Ela notou que durante todo este tempo Gerry não tomara nada de álcool. Mesmo o coquetel, que lhe serviram antes de irem para a mesa, era de frutas, não alcoólico.
_ Está fazendo alguma dieta especial que o impede de beber? – perguntou despretensiosamente, enquanto ela saboreava o seu licor, já sentada no sofá.
_ Digamos que seja uma dieta para o resto da vida.
_ Como assim? – estava curiosa.
_ No passado tive alguns problemas com álcool. Foi numa fase muito ruim de minha vida, que felizmente já superei. Não foi fácil, mas não pretendo voltar a ela.
_ Você pode falar mais sobre isso, Gerry? – ela estava sinceramente interessada em saber sobre o passado daquele que mexia tanto com suas emoções – Se você não se importar, é claro.
_ Não, não me importo. Acho que será bom contar para você este meu lado negro. Assim você poderá me conhecer melhor e decidir se quer continuar minha “amiga” ou não – falou demonstrando uma certa tristeza em seu pálido sorriso.
_ Tenho certeza que isto vai servir para que eu o admire ainda mais – falou , animando-o.
A partir daí, a conversa tornou-se bastante íntima e Gerry abriu-se para ela como nunca havia feito para mulher alguma. E sentia-se muito bem com isso.
_ E foi isso tudo que me trouxe até onde estou hoje – afirmou, ao acabar de revelar as agruras por que passara desde a sua adolescência e os detalhes de como vencera estas dificuldades até conseguir descobrir o que realmente queria da vida – Hoje em dia, amo o que faço. Isto me torna uma pessoa realizada. Não satisfeita, pois ainda tenho um caminho a trilhar, muitos planos a serem cumpridos. Mas agora sei aonde quero chegar e isto é essencial.
_ Nem sei o que dizer, Gerry. Estou realmente admirada com tudo isto que você contou. Não imaginava que você tivesse passado por tudo isto. Realmente você é um vencedor.
_ Ainda não. Ainda estou na briga, mas chego lá. Acho que a insatisfação nos leva muito mais longe do que pensar que já está tudo ganho e certo. A cada meta que alcanço, crio outras. Não se pode pensar pequeno, você não acha?
_ Concordo plenamente com você – ela estava muito impressionada com tudo que acabara de ouvir.
_ Bem, agora que você já conhece todos os meus segredos, já consegue decidir se vale à pena investir em mim e aceitar o meu convite, ou não? Ainda não é meia-noite. Quer mais um tempo?
_ Não, Gerry. Acho que já me decidi.
Ela levantou-se de onde estava, colocou seu cálice vazio sobre uma das mesinhas da sala e foi na direção de Gerry, que estava sentado numa poltrona em frente ao sofá. Afagou-lhe os cabelos e disse, quase sussurrando:
_ Eu vou com você. Vou para onde você quiser me levar... – disse, ainda com as mãos em sua cabeça, acarinhando seus cabelos.
Gerry, que fechara os olhos para sentir melhor o prazer daquele carinho, abriu-os, levantou-se e olhando-a com ternura, envolveu-a com os braços em torno de sua cintura. Puxando-a contra si, disse com a voz baixa e mais rouca que o normal:
_ Prometo que não vai se arrepender, Sylvia.
Sentindo que o corpo dela deixava-se relaxar no seu abraço, e que seus lábios entreabriam-se para recebê-lo, Gerry beijou-a suavemente, começando pela testa, seguindo pela face, chegando ao queixo e, finalmente, encontrando os lábios carnudos e cálidos de Sylvia. Um beijo intenso e apaixonado, que há muito era esperado por ambos. Apesar de não mais haver necessidade de palavras, ela ouviu-o murmurando próximo a sua boca:
_ Eu te amo...como nunca amei ninguém.
Sylvia olhou-o, como que hipnotizada por aquelas palavras tão sonhadas, e segurando-o com as duas mãos em sua nuca, aproximou-o mais uma vez de seus lábios.
_ Também te amo, Gerry.
Logo, envolvidos pelo desejo contido a tantos dias, beijaram-se ardorosamente, entre carícias e suspiros.
_ Eu te quero, Gerry...Agora.
Ao ouvir o pedido de Sylvia, sorrindo, ergueu-a do chão, em seu colo e, a caminho do quarto, ainda disse:
_ Como eu esperei para ouvir estas palavras, meu amor...
Fechada a porta da suíte, entregaram-se ao amor, ansiosos por tocarem-se e beijarem-se mais intensamente. Logo, as alças do vestido de Sylvia estava caídas, deixando Gerry deslumbrar-se com os seios desnudos e perfeitos dela. Parecia que nunca haviam se conhecido intimamente antes. Viam-se com novos olhos e novos desejos. Não era mais uma aventura, mas um retorno ao lar. Suas mãos confundiam-se nas descobertas do prazer de tocar, acariciar e pressionar seus corpos. Os beijos molhados, as línguas ávidas pelos sabores do outro e a sensação de volúpia eram incontroláveis. A intimidade de Sylvia ansiava pela presença de Gerry, quando ele finalmente a penetrou, extraindo gemidos e gritos de prazer de ambos. O gozo chegou praticamente ao mesmo tempo para os dois, de forma completa e deliciosa, levando-os em alguns minutos das alturas ao Éden. Deixaram-se cair exaustos, um nos braços do outro, até normalizarem suas respirações.

Dois dias depois, partiam juntos rumo a Europa, iniciando pela Itália, onde tiveram momentos de puro romantismo, apesar de Gerry ter ido a trabalho. Porém, todos os seus momentos livres eram muito bem aproveitados. Em Londres, ela pode conhecer o terceiro apartamento de Gerry. Lá “inaugurou” com ele cada peça da casa.
Ao final, seis dias antes de sua volta a Los Angeles, Gerry lhe fez uma surpresa. Sem aviso prévio, pediu-lhe que preparasse sua mala para uma pequena viagem de quatro dias. Apesar de estranhar o seu pedido, deixou-se levar. Já confiava plenamente nele agora. Pegaram o automóvel alugado muito cedo pela manhã. Passaram o dia viajando O coração de Sylvia bateu mais forte quando o carro cruzou a fronteira entre Inglaterra e Escócia.
_ Já adivinhou onde estamos indo? – perguntou Gerry, com um sorriso malicioso.
_ Estou vendo que você está com péssimas intenções em relação a mim.
_ Pois eu já acho que elas não poderiam ser melhores.
Vencido o medo e o nervosismo por estar sendo levada para conhecer a mãe de Gerry, chegou a Paisley, onde foi cercada de carinho e boas vindas por Margareth e seu marido, padrasto de Gerry.
_ Parece que meu filho finalmente encontrou a pessoa certa para compartilhar sua vida – disse Margareth, na hora das despedidas.
Da Escócia, partiram para Londres, de onde retornaram a Los Angeles, certos de suas escolhas e com a intenção de ficarem juntos...para sempre. Ou pelo menos, por muito tempo...

FIM





Aqui, Gerry se despede, aparentemente feliz com o final de sua estória. Acho que ele ainda espera conhecer alguém como Sylvia, que o faça feliz. Já que não pode ser comigo, que seja com outra que realmente o mereça.
Espero que tenham gostado do meu pequeno romance. Beijos a todos!!!

12 de set. de 2008

Voltei, com mais um capítulo de "A Advogada"

_ Você deve estar me achando a mulher mais idiota do mundo, mas eu preciso pensar. Na última vez que tomei uma atitude precipitada, deu no que deu.
_ Você tem até amanhã – falou sério, mas no íntimo pensou que poderia esperá-la até a última hora antes do seu embarque – Enquanto você começa a pensar, que tal conversarmos sobre outros assuntos? Você já jantou? – perguntou antes que ela reclamasse do prazo para dar a resposta – Podemos pedir um dos pratos aqui do pub. Soube que eles fazem uma Shepherd’s Pie excelente aqui. Você já provou? È feita de carne de carneiro e é típica inglesa.
_ Não estou com muita fome...
_ Então dividimos uma. Topa?
Diante do largo sorriso e da paciência de Gerry para com ela, não teve como negar o oferecimento.
_ Está bem – disse, esboçando um tímido sorriso.
Ficou observando-o, enquanto ele chamava o garçom e fazia o pedido deles. Era difícil negar qualquer coisa a ele. Gerry era um belo homem, extremamente sedutor e gentil. Precisava ser firme e dar um tempo para conhecê-lo melhor e poder certificar-se de que a sua primeira impressão, de quando o conheceu, era verdadeira. Não queria enganar-se novamente.
Quando ele voltou a olhá-la, provocou-lhe um estremecimento e um calor que lhe percorreu o corpo todo. Ficou com medo que ele pudesse ter notado. Mas ele apenas falou:
_ Sylvia, quanto ao Edward, não fique zangada com ele. Ele agiu com a melhor das intenções. Fui ameaçado de morte violenta, caso a faça sofrer. Assim, sinta-se protegida, pois não quero morrer cedo – e riu, conseguindo arrancar mais um sorriso de Sylvia – É bom vê-la sorrir para mim de novo.
_ O Ed é como um irmão para mim – retorquiu ela, fazendo de conta que não tinha ouvido a última frase dele. Ele nunca agiu desta forma antes.
_ Talvez ele ache que eu seja suficientemente bom para você. Quando nos conhecermos melhor, você vai ver que não sou tão mau assim.
_ Quando eu o encontrar vou lhe dizer que ele me enganou, me fazendo pensar que era bom farejador só de negócios.
_ E o que você acha que ele “farejou” em mim? – e começou a cheirar-se sob as axilas e a abrir a camisa e cheirar o peito.
Ela não resistiu e começou a rir.
_ Acho que ele farejou um bobo... Um bobo muito charmoso...
Apesar de ter gostado do último adjetivo, Gerry preferiu adotar a técnica de ignorar o elogio e mudar de assunto. Ela estava começando a se soltar. Apenas continuou rindo e perguntou:
_ Vocês nunca namoraram?
_ Não.
_ Por quê? Você sendo tão bonita, colega dele...Nunca pensaram nisso?
_ Realmente, nunca nos passou pela cabeça este tipo de relação. Desde o início fomos só amigos.
A partir deste momento, Sylvia passou a contar sobre como havia conhecido Edward logo após ambos terem sido chutados por seus respectivos namorados, no primeiro ano da faculdade.
A conversa começou a fluir por ambos os lados. Gerry evitava qualquer atitude de conquista, com medo de assustá-la e fazer voltar tudo a estaca zero. Não queria perdê-la novamente. Deixaria que, no momento certo, ela demonstrasse que o queria.
Após o jantar, que durou mais de duas horas, Gerry levou-a até o hotel e despediu-se dela, no saguão, com um suave beijo no rosto.
_ Te ligo amanhã para saber a sua resposta ao meu convite. Boa noite.
_ Boa noite...
Apesar da louca vontade de jogar-se nos braços dele e pedir perdão por estar sendo tão cabeça-dura, resistiu e encaminhou-se para o seu apartamento.
Foi difícil encontrar o sono naquela noite. Os pensamentos com Gerry a perturbavam constantemente. Quando finalmente chegou a conclusão de qual deveria ser a sua resposta, dormiu como uma pedra.
Na manhã seguinte acordou bem disposta e louca para tomar um belo café da manhã. O telefone tocou no momento em que ela saia do banho.
_ Que tal uma caminhada no Central Park? O dia está lindo.
Ela sorriu ao ouvir o inesperado convite.
_ Aceito.
_ Então passo para pegá-la dentro de ...trinta minutos. Está bom?
_ Está ótimo!
_ Vejo que acordou bem disposta hoje.
_ Você acha? Talvez... – ele devia estar louco para saber a sua resposta, mas o faria sofrer um pouquinho mais. “Devo estar me tornando uma sado-masoquista”, riu intimamente.

No horário combinado, Gerry estava no saguão do hotel. Ele conseguia chamar a atenção de todas as mulheres e de alguns homens pelo seu porte elegante. Estava trajando uma calça de moletom azul, sendo que a jaqueta, da mesma cor, aberta, deixava entrever a camiseta branca justa, que torneava um tórax amplo e forte, de músculos trabalhados em academia. Seus olhos pareciam mais verdes do que nunca, realçados pela pele bronzeada. Esta visão fez Sylvia imaginar o que outras mulheres diriam se soubessem que ela estava menosprezando este homem. Mas ela precisava saber se ele não era apenas uma bela aparência. Queria conhecer o que havia por trás de todo aquele charme tão irresistível.
_ Bom dia! Que pontualidade – saudou-o alegremente.
_ Bom dia. Não gosto de deixar ninguém esperando respondeu Gerry, tocando-a no ombro e curvando-se para beijá-la...no rosto – Vamos? Você gosta mesmo de caminhar?
_ Muito. Infelizmente não tenho muito tempo por causa do trabalho. Gostaria de fazer caminhadas diárias.
_ Eu gosto muito, mas ultimamente sempre tem um fotógrafo no meu pé. Aí acabo pensando duas vezes antes de sair na rua. Aqui em Nova Iorque é melhor, mas em Los Angeles é praticamente impossível.
Saíram lado a lado, conversando amenidades. Gerry era muito bem humorado. Contava piadas, fatos engraçados que aconteceram com ele. Mas também deixava espaço para ela contar coisas suas. Quem olhasse os dois caminhando juntos, diriam que eram velhos amigos. Após uma hora de caminhada, pararam para beber água num pequeno quiosque dentro do parque. Ele acabou por tirar o casaco do abrigo, pois o calor no parque aumentara e ele começara a suar. Sentaram-se a sombra de uma frondosa cerejeira e, após alguns goles de água, Gerry olhou Sylvia e, não resistindo, perguntou:
_ Já tem uma resposta para me dar sobre o meu convite?
_ Você me deu um prazo até hoje. Eu considero que hoje só acaba a meia noite. Estou errada? – falou isso sem coragem de olhá-lo, pois com certeza fraquejaria no seu intuito se assim o fizesse.
“Ela está sendo mais difícil do que eu esperava...Mas eu gosto disso”, pensou, enquanto sorria sarcásticamente para sua companheira de “jogging”.
_ Sem problemas. Eu espero a sua decisão. Sendo assim, que tal jantarmos hoje à noite? Quero estar ao seu lado para ouvir sua decisão ao vivo.
_ Você acha isso tão importante?
_ Muito... – ele a olhou de um jeito que ela sentiu um arrepio percorrer seu corpo de alto a baixo. Mais uma vez teve que desviar seu olhar do dele para não ser traída.
Depois de um período de silencio, ele retomou a palavra.
_ Você já tem algum compromisso para hoje à tarde?
_ Não... – enquanto ela tentava arranjar uma desculpa para não encontrá-lo antes do jantar, ele falou:
_ Que pena. Eu gostaria de almoçar com você e fazer algum passeio. Tem lugares lindos por aqui. Mas infelizmente tenho compromissos no horário do almoço e por toda à tarde. Só vou poder vê-la à noite.
_ Não se preocupe – respondeu, ligeiramente perturbada por ter sido rejeitada antes que pudesse negar um suposto convite para continuarem juntos. Rapidamente pensou numa saída para a situação – Eu estava pensando mesmo em visitar mais uma agencia de turismo e ver os planos de viagem...
Ela conseguira irritá-lo com esta última frase. Pode ver claramente na expressão dura que surgiu na face de Gerry. Para tentar amenizar, falou, antes que ele pudesse reagir:
_ Como ainda não resolvi como serão as minhas férias, preciso ter opções. Você não acha?
- disse-lhe com um sorriso.
“Ela está tentando me tirar do sério...mas não vai conseguir. Não vai não...”
_ Você tem toda a razão – e devolveu-lhe o sorriso, encantadoramente – Sylvia, eu preciso ir agora. Quer que eu a deixe no hotel?
_ Ah...Não, não é necessário. Vou andar mais um pouco e...pensar.
_ Isto. Pense bem... e com carinho, sobre a minha proposta. Te pego as 20 horas no hotel. Está bom para você? – perguntou-lhe, tentando aparentar indiferença com a provocação dela.
_ Está ótimo. Vou estar a sua espera.
Mais uma vez ele se aproximou e, sem deixar de mirá-la nos olhos, chegou com seus lábios muito próximos aos lábios dela, para no último momento desviar para o rosto.
_ Até mais , então – virou- se costas e saiu andando sem olhar para trás.
Ficou observando-o, até que ele desaparecesse entre as árvores do parque, e pensando até quando conseguiria manter aquele jogo de “gato e rato”.


Deixo aqui, para a babação geral, o Gerry vestido para enlouquecer a Sylvia em sua caminhada pelo Central Park...





O que voce faria se encontrasse este "monumento" vindo em sua direção, com os olhos verdes fixos em voce, durante uma caminhada no parque?
Eu prefiro não comentar...como diz a Copélia...Hihihi!

Beijinhos!!!

11 de set. de 2008

A Advogada ... continua

Dois dias depois, Edward ligou novamente. Disse que chegara há algumas horas e que estava ansioso por encontrá-la, mas só poderiam se falar á noite. Por isso deu o endereço de um pub inglês chamado “Old Castle”, que por sinal ficava bem próximo do hotel de Sylvia.
Próximo a hora combinada, Sylvia confirmou a localização do pub com a recepção do hotel e dirigiu-se para lá. Como sempre, chegou um pouco antes da hora. Sentou-se numa das banquetas que ficavam de frente para o extenso balcão de madeira do bar, de costas para as mesinhas na parede do outro lado. Não teve como fugir da lembrança daquela noite no “Lohan’s”. Pediu um refrigerante e um copo com gelo, ao invés do cálice de vinho branco que costumava pedir.
Estava distraída, ouvindo a linda música, provavelmente escocesa, devido a presença de gaitas de fole no arranjo, quando sentiu uma presença aproximar-se e ouviu:
_ Boa noite...Você vem sempre aqui?
O coração de Sylvia paralisou ao reconhecer aquela voz quente e rouca.”Não é possível! Como ele me encontrou aqui?”. Virou-se lentamente, esperando que fosse apenas sua imaginação. Quando identificou a presença real de Gerry ao seu lado e sentiu aquele perfume inebriante que ele usava, fez menção de levantar-se e fugir. Ao tentar, sentiu a mão poderosa dele segurando seu braço.
_ Fique... – rogou Gerry, afrouxando um pouco o aperto – Por favor, Sylvia...Nós precisamos conversar.
_ Eu não tenho nada a conversar com você. O que tínhamos para resolver foi resolvido no escritório da sua produtora. Se você quiser saber mais detalhes técnicos sobre a questão desta nova sociedade que Alan e você estão iniciando, pode procurar o meu sócio, Edward Michels.
_ Sylvia você sabe muito bem que não estou falando sobre a produtora. Precisa ser tão dura comigo?
_ Não sei de qual outro assunto você está falando. Aliás, Edward deve estar chegando daqui a pouco. Você vai poder falar com ele hoje mesmo, pessoalmente.
_ Ele não vêm...
_ O quê? Como?...Ed não vêm? – ela não podia acreditar que seu amigo de longa data fizera isto com ela – Vocês combinaram esta farsa toda? Como ele teve coragem de fazer isto comigo? – disse quase num murmúrio.
_ Talvez porque ele saiba de minhas melhores intenções para com você.
_ Por favor, nós não temos o que conversar. O que aconteceu foi um erro meu. Você não precisa se desculpar. Você queria uma qualquer para passar a noite e, infelizmente, eu cruzei o seu caminho.
_ Eu não queria uma qualquer. Não sou tão promíscuo assim como você está imaginando – agora ele ficara sério e tenso – Que tal nos sentarmos e conversarmos mais calmamente? – rogou, com uma voz e um olhar tão doces que amoleceu a razão de Sylvia.
Ela decidiu ceder e deixou-se levar pela mão dele até uma das pequenas mesas no fundo do pub. Sentaram-se lado a lado, pois não havia outra opção.
_ Agora, olha prá mim...- pediu Gerry.
Ela vacilou por um momento, com medo de não resistir àquele olhar, mas terminou por encará-lo.
Ele continuou, com seus olhos verdes a afrontá-la.
_ Fiquei atraído por você desde que a vi no “O-Bar”. Eu lhe disse isso naquela noite no “Lohan’s”, lembra? Quando a vi novamente, não resisti e a abordei. Realmente pensei que você era uma profissional da noite, pois é lá que elas costumam ir e é para isso que os homens vão até lá. Todos sabem disso.
_ Eu não sabia – disse Sylvia com a voz embargada.
_ Só depois eu soube disso. Deixa eu continuar... – disse ele, segurando a mão esquerda de Sylvia, que estava abandonada sobre a mesa.
Ela pensou em retirar a mão, mas o toque de Gerry era tão cálido e suave, que ela deixou-se estar.
_ Aquela noite foi uma das noites mais incríveis que já tive. Quando te deixei pela manhã, foi com pesar, pois tentava negar o que estava sentindo por você. Apaixonar-me por uma prostituta nunca esteve em meus planos. Mil coisas passaram por minha cabeça. Desde ser motivo de chacota para você, até ser explorado por um cafetão. Apesar de tudo isto, quando retornei ao apartamento naquela manhã, estava decidido a tenta tirar você daquela vida. Mas não a encontrei mais. Quando vi o bilhete amassado e o cheque intacto, aí enlouqueci de vez.
A tudo Sylvia ouvia atentamente, com os olhos marejados.
_ Por que você não conversou comigo antes de sair e deixar aquele bilhete horrível? – As lágrimas começaram a correr – Eu tive vontade de morrer ao sentir-me como uma qualquer. Eu nunca havia me entregado para alguém daquela maneira. Pode parecer desculpa para minha leviandade, mas senti que você era diferente. Não sei explicar...Aí, eu li aquela frase fria, me dispensando, e me senti uma completa tola, imunda, vulgar...
_ Sylvia, me perdoa... – ele tentou abraçá-la, mas ela resistiu. Tentava segurar o choro descontrolado que queria vir à tona.
_ A culpa foi minha, Gerry. Eu não podia ter agido por impulso, me entregando para qualquer um.
_ Não foi para qualquer um...Foi para mim. E eu amei cada segundo desta entrega...E quero muito mais – Novamente ele tentou abraçá-la e desta vez não obteve defesa. Sylvia sentia-se sem forças e necessitada de um afago, mesmo que fosse dele ou, até porque era ele. Sentia-se no meio de uma confusão de sentimentos, entre a vergonha, a vontade de que nada daquilo tivesse acontecido e a necessidade de sentir novamente aqueles braços em torno de si.
_ Me diz como eu posso curar esta ferida que se abriu em você? Me dá esta chance. A gente pode recomeçar de uma outra maneira. Vamos zerar tudo e iniciar de agora em diante. Por favor, Sylvia...
Entre lágrimas e soluços contidos, ela o olhou e sentiu sinceridade e carinho nas suas palavras. Mas ainda estava muito machucada e envergonhada com tudo que acontecera.
_ Não sei, Gerry, não sei...
Amolecendo seu abraço, Gerry aproximou seus lábios do ouvido de Sylvia e implorou baixinho:
_ Por favor...
Era quase impossível resistir àquela voz quente e suave e ao seu olhar suplicante.
Quando ele sentiu que as defesas de Sylvia estavam desabando, segurou-lhe o queixo e aproximou-se para beijá-la.
Mal tocou em seus lábios, foi repelido com delicada firmeza. Ele a olhou surpreso.
_ Não...Eu ainda não estou pronta. Se você quer realmente recomeçar do zero, vai ter de me dar um tempo.
Mesmo tendo sido rejeitado, Gerry sentiu-se animado com a afirmação de Sylvia. Ele daria a ela todo o tempo necessário para que pudesse tê-la de novo em seus braços.
_ Em três ou quatro dias vou viajar por três semanas. Poderemos nos encontrar na minha volta, lá em Los Angeles e conversar – disse, não muito convicta do que estava dizendo.
_ Pois eu tenho uma idéia melhor.
_ Idéia melhor? – perguntou Sylvia, já recuperando um pouco de seu ânimo.
_ Eu tenho de ir a Itália na próxima semana e depois terei de passar em Londres para resolver alguns problemas por lá. O que acha de ir junto comigo.
_Como assim?
_ Edward me falou que você ainda não sabia bem ao certo para onde iria nas suas férias. Que tal me acompanhar? Juro que não vou forçar nada. Podemos viajar como amigos, apenas. Seria muito bom ter a sua companhia.
_ Não acho que seja uma boa idéia...
_ Porque? Você teria suas férias e, ao mesmo tempo, nos conheceríamos melhor.
Normalmente, Gerry ficaria irritado com este tipo de comportamento em uma mulher, mas aquelas incertezas vindas de Sylvia só o deixavam mais seduzido por ela.
_ Você fala como se tudo fosse fácil assim...
_ Mas é fácil assim, Sylvia. Sei que você me entendeu. Sei também que você está com medo de abrir a guarda e ser machucada novamente. Mas eu prometo que isso não acontecerá – disse, pegando em sua mão mais uma vez e prendendo-a com seu olhar – Vamos viajar como amigos. Que tal? Quartos separados, sem segundas intenções...O que acha? Ando cansado de viajar sozinho por aí. Seria um prazer ter a sua companhia. Se depois desta viagem você definir que não quer me ver nunca mais, eu sumo da sua vida.


O que voces acham? Será que ela topa um convite como este ou não? Voces topariam?
Vou deixar aqui a expressão de dúvida do Gerry logo após a pergunta...

10 de set. de 2008

Para acalmar as ansiedades...

Eram nove horas quando o toque do interfone soou. Era da portaria para avisar que o senhor Edward estava subindo. Ela ainda estava terminando de se arrumar e colocar os últimos apetrechos na sacola de mão. Sempre ficava na dúvida se não esquecera de nada. Revisava mentalmente todo o conteúdo da mala até a exaustão. Mesmo assim, não era incomum esquecer de alguma coisa.
_ Bom dia! – saudou-a efusivamente o amigo.
_ Bom dia, Ed! Obrigada por vir no meu “bota-fora”.
_ Amigos são para isso, não acha? Já está tudo pronto? Podemos descer as malas?
_ Acho que sim. Só falta passar um batom e colocar meu perfume.
_ Por mim, não precisa de mais nada. Você está linda. Pronta para arrasar corações.
_ Não pretendo arrasar nenhum coração. De arrasado já basta o meu – disse a última frase em tom de voz tão baixo que Ed teve dificuldade em ouvi-la. Apesar disso, resolveu não comentá-la. Apenas passou o seu braço sobre os ombros de Sylvia e disse:
_ Vamos, que o avião não espera e o trânsito a esta hora está terrível.
No caminho, Sylvia manteve-se quieta. Foi Ed que rompeu o silencio torturante.
_ Você não quer saber o que eu conversei com ele?
_ Com quem?
_ Ora, você sabe com quem.
_ Você está louco para me contar, não?
_ Acho que seria bom você saber que ele está querendo desculpar-se e que não conseguiu parar de pensar em você desde aquele dia.
_ Não me interessa.
_ Puxa, Sylvia. Dá uma chance para ele – falou meio que irritado. Nunca pensou que naquela altura da vida estaria tentando bancar o cupido. “Era só o que me faltava”, pensou.
Parecia que o assunto havia sido encerrado ali, se levasse em conta a cara amarrada feita por Sylvia.
Chegaram ao aeroporto ainda com uma hora de antecedência.
_ Ao menos me diga se definiu para onde vai depois de Nova York. Ou vai manter segredo?
_ Talvez eu queira ficar incógnita...
_ Misteriosa, agora, é?
_ Não. De fato não decidi ainda. Vou procurar uma agencia lá em NY mesmo e resolver.
_ Ainda temos um tempo antes do embarque. Vamos tomar um cafezinho? – perguntou Ed, notando que sua amiga tornara-se um pouco fria.
_ Não. Acho que vou esperar o embarque lá dentro. Você tem que voltar ao seu trabalho. Não precisa mais se preocupar comigo.
_ O que houve? De repente parece que virei seu inimigo?
_ È que estou achando você muito amiguinho do senhor Butler. Além do esperado.
_ Ah, é isso, então? Estou apenas tentando ajudá-la a sentir-se melhor. Só isso! Se não percebe desta maneira, vou embora mesmo. Boa viagem para a senhora – Deu-lhe as costas e seguiu pisando duro em direção a saída.
_ Ed! – chamou-o, já arrependida do que dissera. Só faltava perder o melhor amigo por conta de sua burrice. Mas ele não ouviu, pois no mesmo instante os microfones do aeroporto anunciavam o próximo embarque para Seatlle. Ligaria para ele quando já estivesse instalada no Marriott.

O hotel ficava em pleno Times Square. Não podia haver lugar melhor e mais cheio de vida. Muitos teatros, casas de show, lojas das grandes marcas e grande movimento de pessoas de todas as partes do mundo. Era exatamente do que precisava. Já era meio tarde quando chegou. Como estava muito cansada, resolveu tomar um banho, ligar para Edward, saber se ainda eram amigos e dormir.
Acabou por não cumprir todo o seu plano de ação. Isto porque depois do banho, ao recostar-se na cama para ver um pouco de televisão, terminou por pegar no sono.

Passaram-se dois dias sem que se animasse a ligar para seu amigo. Já fizera muitas compras, já assistira a uma ótima peça de teatro e, agora preparava-se para jantar num pequeno bistrô próximo ao hotel. Sozinha, é claro. Foi quando o seu celular tocou. Era Ed.
_ E aí, desaparecida? Liguei para saber notícias, já que parece estar muito bem por aí, pois nem lembra dos amigos.
_ Oi, Ed! É que eu estava meio insegura para lhe ligar. Preciso lhe pedir desculpas pelo meu comportamento lá no aeroporto. Você me perdoa?
_ Já nem lembro mais. O que foi que aconteceu mesmo?
_ Que bom, Ed. Nem sabe o peso que você está me tirando da consciência. Além disso, precisava agradecer pelo seu presente. Estou adorando o hotel, a localização, a cidade...tudo.
_ Fico muito contente por você, querida. Ainda tenho mais uma surpresa para você. Não sei se você vai gostar.
_ O que é?
_ É que surgiu um probleminha com um de nossos clientes aí em Nova York, e eu terei de ir até aí, em dois dias. Nada grave. Pensei que podíamos nos encontrar. Não consegui reserva no seu hotel, por isso acabei ficando num executivo. Quando eu chegar, te ligo novamente para combinarmos de nos ver. Está bem?
_ Que bom, Ed. Vai ser ótimo te ver!
Conversaram mais algumas banalidades, sem nem tocar no assunto “proibido”.
_ Não, Ed. Por incrível que pareça ainda não consegui definir para onde vou na próxima semana. Vou acabar comprando passagem para algum local, tipo Brasil ou Itália e improvisar. Ficar numa praia sem fazer nada pode ser um ótimo programa.
_ Quem sabe...quem sabe. Talvez eu possa te ajudar a escolher.
_ Seria ótimo.
Ao final de mais algumas frases, despediram-se.


Até que uma praia deserta com o Gerry não seria mal, não é?...Olha só ele molhadinho, que delícia...



Beijinhos!!