27 de fev. de 2009

Encontro Noturno

Capítulo 3


Já faziam mais de 10 minutos que Sophia tentava conseguir um táxi, mas ainda não tivera sorte. Não se dera conta que o tempo passara tão rápido. Já era quase 21 horas. Começou a ficar com medo. Tentou ligar de seu celular para uma empresa de táxi conhecida, mas ninguém atendia. Enquanto estava na galeria, o tempo havia mudado. Nuvens cinzentas e espessas haviam tomado seu lugar no céu poluído e a tempestade de verão era inevitável. Quando começou a sentir os primeiros pingos grossos da chuva, viu uma Mercedes conversível, preta, com a capota fechada, parar diante dela, no meio fio, buzinando. O vidro elétrico foi aberto e ela pode ver o motorista. Era Stefan.
_ Vamos! Entre aqui antes que fique encharcada.
“Será que ele é sempre autoritário assim?”, pensou, enquanto entrava a contragosto dentro do carro, cuja porta já tinha sido aberta.
_ Eu lhe disse que não seria fácil pegar um táxi a esta hora, nesta rua. Você é sempre teimosa assim? – perguntou, com os lábios mostrando um sorrisinho irônico.
_ Eu não tinha percebido que já era tão tarde. Não queria lhe dar este trabalho – ela falava tentando não olhá-lo nos olhos.
_ Eu tinha um compromisso e tinha de sair de qualquer jeito. Portanto não está me dando trabalho algum. Apenas um prazer...
“Porque ele tem de ser tão sedutor?”
_ É melhor me dizer o seu endereço, caso contrário serei obrigado a levá-la ao meu compromisso... – disse ele alargando ainda mais seu sorriso.
_ Pensei que pudesse ler meus pensamentos... – murmurou ela, sem querer.
_ Vou tentar manter a sua privacidade – disse ele, olhando em frente.
_ Como? – perguntou ela surpresa.
_ Vai me dar o seu endereço ou não? – ele continuava divertindo-se muito com a conversa.
Ela acabou por rir, pensando em como estava sendo idiota, agindo daquele jeito. Acabou por dizer o nome da rua e o número de seu prédio.
_ Desculpe. Você deve estar pensando que sou meio doida.
_ Não estou pensando nada – ele agora olhava para a rua, cuidadoso com o trânsito a sua frente.
Após alguns minutos de silencio, ele perguntou:
_ Seu noivo não fica preocupado com você andando sozinha por esta cidade?
_ Não. Ele sabe que sei me cuidar muito bem.
_ Sabe mesmo? – continuou sem olhar para ela – Esta cidade é muito perigosa para uma mulher como você ficar andando por aí desacompanhada.
_ De que século você veio? Temos que trabalhar e enfrentar estes riscos do dia-a-dia, homens ou mulheres.
Ele se calou e assim, em silencio, permaneceram até chegarem ao prédio onde Sophia morava. A chuva já tinha parado e dela só sobraram as poças de água refletindo o brilho das luzes da rua.
_Bom...Muito obrigada pela carona.
_ Foi um prazer, como já disse antes – disse, cravando seu olhar sobre ela, deixando-a sem palavras.
Sophia abriu a porta do carro e saiu forçando-se a não olhar para trás, pois ainda sentia o olhar penetrante de Stefan sobre ela.
Quando conseguiu fechar a porta atrás de si e sentir-se “segura” dentro de seu apartamento, sentou-se em seu sofá e começou a perguntar-se o que estava acontecendo com ela. Sempre fora tão segura em relação aos homens, nunca deixando as emoções tomarem conta, conseguindo lidar perfeitamente com clientes que jogassem charme sobre ela, como era inevitável em alguns casos. Mas com Stefan tinha sido diferente. Ele não tentara nada, pelo menos não diretamente. Mas ele conseguira mexer com ela, de uma maneira totalmente inesperada, deixando-a sem ação, controlando a sua vontade. Marcara uma reunião de negócios em pleno sábado à noite! E ela permitira! O que ele estava pensando? Daria um jeito de marcar outro dia. Daria a desculpa de que o noivo havia chegado de viagem e que teriam um jantar inadiável com a família dele. É...Faria isso.
Tomou um banho, comeu uma das refeições congeladas que tinha para emergências no freezer e resolveu dormir mais cedo. Pegou um livro, mas seu pensamento fugia para a Galeria Paole. Não eram exatamente pensamentos a respeito do seu trabalho, mas dirigidos ao dono da galeria.
A muito custo conseguiu pegar no sono. Naquela noite não foi “incomodada” por sonho algum.


_ E então, como foi de reunião com o nosso pintor? – perguntou Carol assim que encontrou com Sophia no dia seguinte.
_ Normal...
_ Só isso? Quero detalhes, amiga!
_ A galeria é muito bonita, apesar de ainda estar terminando uma reforma na casa antiga onde ela está instalada. O “nosso pintor” é muito talentoso e seus quadros são muito interessantes. Combinamos de nos encontrar para que eu mostre o que criei para a campanha de divulgação.
_ Só isso? E ele? Como é? Muito chato, muito velho? – Carol não conseguia esconder sua curiosidade sobre Paole.
_ Nem chato nem muito velho. Normal ... – falou Sophia escondendo da amiga sua verdadeira opinião sobre Stefan Paole.
_ Assim...Normal... Isto é descrição que se faça de alguém? Você costumava descrever melhor seus clientes.
_ Está bem, Carol... Ele é um homem elegante, educado, surpreendentemente fala quase sem sotaque, e... muito culto – queria encerrar logo aquela conversa – Satisfeita?
_ Ele é bonito ou feio? Solteiro? Você sabe que é isto que eu quero saber. Você já está praticamente casada. Eu ainda estou na corrida. Quem sabe não aparece um cliente interessante e... Sei que você não gosta de misturar trabalho e vida pessoal, mas está cada vez mais difícil de arranjar um namorado.
_ Você não tem jeito, Carol. Ele é, digamos, bastante atraente. – disse, lembrando das sensações que Stefan havia provocado nela.
_ Ah, então você vai ter que apresentar a ele a sua sócia aqui, logo, logo – Carol estava excitadíssima com a perspectiva.
_ Provavelmente você vai conhecê-lo durante a inauguração da galeria. Mas não se anime muito, pois não sei se ele é solteiro.
_ Isso a gente descobre depois. Não viu se usava aliança?
_ Não lembro – realmente ela não havia reparado nestes detalhes – Afinal eu estava a trabalho, não caçando um marido, Dona Caroline. Acho melhor terminarmos este assunto e voltar ao trabalho. Alguma novidade?
Logo, Caroline esqueceu Paole e voltou às suas atividades na agencia.

Sophia não teve coragem de ligar para desmarcar a reunião. Sua impressão era de que ele conseguiria dissuadi-la de qualquer tentativa de mudar a data do encontro. Portanto, tinha menos de três dias para preparar a exposição de suas idéias. Fez orçamentos e pesquisas sobre os melhores meios de divulgação daquele tipo de produto. Criou dois tipos de folhetos ilustrativos para mostrar a galeria de forma atrativa ao público-alvo. Falou com um amigo que trabalhava na principal rede de TV, em São Paulo, que tentaria conseguir uma entrevista com Paole.
Quando o sábado chegou, Sophia já tinha um bom material para sua campanha para promover a galeria de arte e torná-la, futuramente, o maior atrativo dentro do meio cultural da capital paulista. Tinha certeza que Stefan ficaria satisfeito com seu trabalho. Não queria decepcioná-lo, depois de toda a confiança que ele havia depositado nela.
À tarde, começou a imaginar o que teria acontecido, pois ele ainda não ligara para combinar o local do encontro ou o horário. Começou a ficar ansiosa. Será que ele havia desistido da sua agência? Será que ela fizera alguma coisa errada durante o primeiro encontro com ele? Não conseguia imaginar o quê.
Às 19 horas, o telefone tocou. Ela estava quase pegando no sono, pois havia dormido muito mal à noite, pensando em como seria aquele reencontro. Ao colocar o fone ao ouvido, a voz rouca de Stefan deu-lhe novo ânimo.
_ Senhorita Caselli?
_ Sim? – não queria que ele pensasse que estava aflita pelo seu telefonema e fez que não tinha reconhecido sua voz.
_ Stefan Paole. Espero que me perdoe pela demora em ligar, mas tive alguns problemas a resolver e só agora pude telefonar. Está pronta para encontrar-me?
_ Ah, sim...Senhor Paole. Realmente pensei que o senhor tivesse desistido de nossos préstimos.
_ De maneira alguma. Estou muito interessado ...em seus serviços – ela notou um certo sarcasmo naquela voz que a instigava do outro lado da linha.
_ Então, acho que podemos marcar um novo encontro para que eu possa demonstrar-lhe minhas idéias.
_ Dentro de duas horas eu passo para pegá-la em seu apartamento. Esteja pronta.
_ Como? – pode ouvir o clique, indicando o término da ligação – Mas que atrevimento. Liga a esta hora e nem quer saber se tenho outro compromisso? – ela estava irritada com o autoritarismo dele, mas ao mesmo tempo excitada com a perspectiva de vê-lo novamente.
Correu para o quarto para ver mais uma vez o vestido de seda azul noite, “balonet”, que comprara pensando neste reencontro. Ele era muito chique e... sexy. Não era exatamente próprio para uma reunião de negócios. Na verdade, ele era mais apropriado para um jantar romântico, à luz de velas. “Onde eu estava com a cabeça quando comprei este vestido? Vou usá-lo quando sair com Paulo, no próximo fim-de-semana, isto sim... Vou colocar um conjunto de calça e blazer que é muito mais adequado”.
Finalmente, olhou-se no espelho e achou que estava vestida de acordo com a ocasião. Lá estava uma mulher de negócios, madura, inteligente e moderna, pronta para vender um produto a um cliente. No rosto, maquiado discretamente, só faltava um óculos para completar a caracterização. Mas ela ainda não precisava deste tipo de acessório.
Surpreendeu-se ao ouvir a campainha da porta soar. O porteiro não avisara que alguém estava subindo, o que não era comum. Talvez algum vizinho?
Olhou pelo visor da porta para tentar visualizar quem estaria ali, mas não viu ninguém. Resolveu abrir a porta. À sua frente estava Stefan Paole, irresistível e elegantemente vestido num terno escuro, de Armani ou Zegna, com os olhos mais verdes do que nunca, olhando-a com certa decepção.
_ Por acaso vai a um enterro? – perguntou, olhando-a da cabeça aos pés.
Ela ficou sem ação, primeiro pela simples visão dele e, segundo, pelo seu comentário.
_ Senhor Paole, estou chocada com a sua indiscrição. Estou pronta para nossa reunião de negócios.
_ Desculpe-me, mas é um sábado à noite e vamos jantar no Fasano. Sua roupa não está muito adequada...Apesar de continuar linda, gostaria que colocasse algo mais conveniente. Talvez eu possa ajudá-la, se me permite.
Sem que ela permitisse, ele entrou em sua sala, com se já estivesse estado ali e dirigiu-se para o seu quarto, onde o vestido azul ainda estava pendurado num cabideiro. Sem cerimônia alguma, ele pegou o vestido e levou-o até onde ela estava parada, boquiaberta com a intimidade com que Stefan a estava tratando.
_ Este vestido, por exemplo, está perfeito. Pode vesti-lo, por favor?
Vencendo a inércia diante das atitudes descabidas do senhor Paole, Sophia conseguiu falar:
_ O que o senhor está pensando? Entra em minha casa, sem minha permissão, depois de criticar o modo como estou vestida, vai até meu quarto, mexe em minhas coisas...Que tipo de homem é o senhor?
Ele a olhou com expressão surpresa, para logo em seguida baixar os olhos e falar em tom de desculpas:
_ Sinto muito. Espero que me perdoe. A senhorita tem razão. O que fiz é imperdoável. Desculpe se demonstrei maior intimidade do que devia – ele aparentava estar realmente sem jeito – É que tenho a sensação de que a conheço há muito tempo por isso acabo tendo atitudes de intimidade maior. Perdoe-me – disse ele devolvendo-lhe o cabide com o vestido pendurado.
Ele a olhava de um jeito tão arrependido e humilhado que ela acabou por sentir pena dele e achar que tinha sido dura demais. Talvez ele quisesse apenar ser gentil e vê-la mais adequadamente vestida para o jantar. Ele era estrangeiro, lembrou-se. Talvez em sua terra os hábitos fossem outros. Esquecera deste detalhe, pois ele praticamente não tinha sotaque algum. Além do mais, comprara aquele vestido para esta ocasião mesmo.
_ Está bem, Stefan – os olhos dele apresentaram um novo brilho ao ouvi-la chama-lo pelo primeiro nome – Eu aceito suas desculpas. Apenas quero lembrar-lhe que nossos encontros são meramente por questões profissionais, que eu sou noiva e não ficaria bem meu noivo saber que meus clientes entram em nosso apartamento, em nosso quarto, para escolher a roupa que eu devo vestir para as reuniões de negócios, no sábado à noite.
Ele sorriu discretamente, com ar de um menino que havia sido pego no meio de uma travessura, fazendo-a derreter-se por dentro.
_ Prometo que vou ser mais comportado de agora em diante – disse, enquanto sentava-se no sofá da sala, confortavelmente, sob o olhar de Sophia, que não conseguiu esconder um sorriso discreto – Vou ficar esperando aqui, enquanto você se arruma...Ou você prefere ir vestida assim como está. Como você preferir.
Segurando o riso, Sophia foi trocar de roupa.



Mais emoções nos próximos capítulos...prometo. Beijos!!!

7 comentários:

Cris disse...

Oí, Rosane!!!

Este terceiro capitulo esta maravilhoso,o Stefan tem mesmo todas as caracteristicas do homem,é muito safado.
Bjs.

Anônimo disse...

Aiiii...que delícia de conto!! Bjos Ro!

Ligia Bento disse...

É isso aí Sophia, tem que fazer um docinho de leve... Senão, perde a graça, kkkkkkk...

Pati disse...

Apesar de ais e uis, esse capítulo me fez rir...e muito!
Amei...
Não demora Ro....

Unknown disse...

Ro que malvada que vc é aiii quero maiiiiiisssss hahaahaha...
gente o que é esse stefan ai como essa sophia é burra meu deus kkkk se esse homem uma vez entrasse no meu quarto a gente ia fazer a nossa reuniazinha particular ali mesmo uahsuahsuahsauhs ploft...
to adoooraaaannndooo esse conto, como disse a me delicia de conto!
aguardando os proximos capitulos e comendo todas as unhas de curiosidade kkkkkk..
beijos minha escritora preferidaaaaaa..

Anônimo disse...

Cassinha disse....

Meu marido qeu safenou mas sou que vou infartar.... ploft....
Jesuis amado... são muitas emoçoes por meu pobre e velhinho coração!!!rsrsrsrsrs

Quero maissssss......

Beijão amiga... continua logo!!!!

Lucy disse...

Tadinha da moçoila já tá doidinha pelo Stefan... tadinha é de mim, ela é um sortuda!!!

Malandrinha ela... vestido sexy né... sei... reunião de negócios... sei bem para que tipo de negócios ela estava pensando... Mas, amiga, deixa a coitada ir com o vestido sexy!!! Nessa altura do campeonato o Paulo já rodou faz tempo!!!

Hummm... no fim ela vai trocar de roupa... sei... aposto que vai caprichar na lingerie tb... hehehe... a noite promete...

Beijinhos