1 de out. de 2008

ERIK - XI Capítulo

Paul Marback...Um homem admirável. Erik teve muita sorte em conhecê-lo. Enfim ele fizera um amigo fora das paredes de seu teatro. Assim que o vi sumir na escuridão das ruas de Monmartre, fechei a porta. Logo ouvi os passos ágeis de Meg, descendo pela escada.
_ Mamãe? É você?
_ Sim, minha filha, sou eu.
_ A senhora está bem? Como foi? Estou morrendo de curiosidade. Queria ter ido junto, mas a senhora não deixou. Agora quero que me conte todos os detalhes.
_ Calma, Meg, calma. Deixe-me tomar um copo de água, tirar meu chapéu e estes sapatos que estão me martirizando. Aí, lhe contarei tudo – “ou quase tudo”, pensei.
Assim que relaxei um pouco, não pude escapar do olhar inquiridor de Meg, que estava ávida pelos fatos ocorridos naquele final de tarde.
_ Sente-se, Meg! Ou você vai ficar a esvoaçar a minha volta desse jeito? Pelo menos, podia respeitar a dor deste momento. Afinal, ele era meu amigo de muitos anos.
_ Desculpe, mamãe. Sinto muito por ele, também. Só queria saber...
_ Está bem. Vou lhe contar.
A partir daí, tudo o que acontecera naquelas últimas horas veio a minha mente.
Estava ansiosa a espera do aviso de Christine, conforme ela me prometera. Eram 5 horas da tarde, quando ouvi o trotar de cavalos aproximando-se de nossa casa. Corri até a janela da frente e vi o coche com o brasão dos Chagny. Um rapaz uniformizado desceu e bateu a nossa porta. Era um mensageiro. Rapidamente abri o envelope e pude ver a delicada caligrafia da nova viscondessa:
“Cara Madame Giry,
Peço-lhe que acompanhe este mensageiro. Ele a levará até a Ópera. Estarei esperando-a para o enterro.
Christine”

Como já estava pronta, imediatamente fechei a porta e segui o rapaz, entrando na carruagem. Após alguns minutos, que pareceram uma eternidade, chegamos à frente daquela obra monumental, que era a antiga Ópera de Paris. Ainda podia-se ver a movimentação de uns poucos operários, provavelmente encarregados da reforma. Em seguida, vi Christine, com um belo vestido, digno de uma nobre, mas coberto por uma capa preta , com capuz, que quase lhe cobria o rosto. Veio ao meu encontro, acompanhada por Raoul, demonstrando um pouco de nervosismo. Ele, por sua vez, tentava disfarçar a irritação e a ansiedade para que aquele “circo” , como se referiu mais tarde, terminasse o mais rápido possível. Seguimos para o interior do teatro onde começamos a descida aos subterrâneos, juntamente com o Marquês de Cluny, o chefe de polícia, o arquiteto Garnier, um jovem cavalheiro desconhecido e o caixão, carregado por dois homens vestidos como trabalhadores comuns. Mesmo coberto pela poeira, com andaimes e caixotes espalhados por todo o lado, a Ópera mantinha-se majestosa. Senti uma saudade muito grande dos momentos passados entre aquelas paredes e um arrepio na espinha ao lembrar dos acontecimentos que precipitaram a interdição daquela casa de espetáculos.
Finalmente chegamos até a área onde estavam os túneis alagados. Lá, próximo ao local onde Erik fizera a sua morada, em um dos paredões, havia sido feita uma cavidade profunda, onde o caixão, provavelmente, seria colocado. Após alguns minutos de tenso silêncio, o chefe de polícia, M. Focault, pediu que os homens colocassem o esquife para dentro do buraco. Pode-se ouvir um suspiro escapar do peito pesado de Raoul. Christine estava com olhar tristonho, olhando para baixo, provavelmente lembrando de seu mestre. Achei que tinha visto uma lágrima tímida rolando por sua face. Logo ela passou um pequeno lenço, de delicada renda, sobre a face, discretamente, simulando um súbito calor, retirando qualquer vestígio de choro que pudesse ser visto por seu marido ou pelas pessoas que ali estavam.
Logo em seguida, um dos trabalhadores, passou a colocar uma espécie de massa arenosa, cobrindo toda frente da tumba, lacrando para sempre o corpo de Erik nas entranhas do suntuoso prédio. Não se ouviu nenhuma palavra de pesar ou oração, nem olhares de condolência. A tristeza por aquela perda, certamente, estava apenas nos pensamentos daqueles que tinham conseguido vislumbrar a genialidade que existia naquele homem transfigurado, apaixonado pela música e por sua musa... Christine, o desconhecido, que mais tarde apresentou-se como sendo o Senhor Marback, e eu.
Terminada a “cerimônia”, após uma breve troca de cumprimentos entre as “autoridades”, Marback veio ao meu encontro apresentar-se, seguido por Raoul e Christine.
_ Graças aos céus, o “circo” terminou – louvou Raoul – Que descanse em paz, já que em vida não pode desfrutar de tal. Vejo que M. Marback já se apresentou. Acho que podemos ir, não é mesmo, Christine?
_ Claro, querido. Como você quiser – resignou-se Christine.
O grupo seguiu em silêncio, atrás do senhor Garnier, que nos levou para fora daquele labirinto.
Já na saída, pelos fundos do teatro, após mais algumas reverências, o grupo dispersou-se, ficando apenas nós quatro, numa situação quase constrangedora. Só nos restou a despedida.
_ M. Marback, espero que tenha uma boa viagem de volta a Dover.
_ Muito obrigado, visconde. Viscondessa – disse, reverenciando Christine. Foi um prazer conhecê-los.
_ Madame Giry, é uma pena que tenhamos voltado a nos reencontrar numa situação como esta.
_ Madame, espero que possamos nos ver em breve. Vá nos visitar e leve a Meg, por favor. Não vamos nos afastar novamente – sabia que Christine falava de coração, mas achava difícil podermos voltar a ter a relação íntima que tínhamos anteriormente.
_ Claro, meu bem, é claro – falei sem muita convicção.
Os dois seguiram em direção a carruagem que os aguardava e partiram.
_ Casal estranho, não? – perguntou Marback.
_ Quando o senhor volta para Dover? – perguntei, evitando tecer comentários a respeito daquele casal.
_ Provavelmente amanhã. Antes, precisamos conversar, madame Giry. Posso convidá-la para um café?
_ É sobre Erik?
_ Sim. Tenho muita coisa para contar-lhe. Sei que posso confiar na senhora. Erik me passou esta certeza.
Os últimos raios de sol tingiam de tons alaranjados as poucas nuvens que havia nos céus, quando entramos num café próximo à Ópera e sentamos num lugar mais reservado, a pedido de Marback.

Quando ele terminou sua conversa, eu estava pasma e ao mesmo tempo feliz por saber que meu amigo encontrava-se bem de saúde e de espírito. Paul, como ele insistiu em ser chamado, revelou-se uma pessoa de excelente índole e amigo sincero de Erik, em sua nova fase. Disse que tinham muitos planos, apesar de não relatar quais. Mas a idéia de sabê-lo são e salvo, tentando levar uma vida normal, era muito confortante.
_ Uma última coisa, que nosso amigo pediu-me para fazer. Entregar-lhe este dinheiro e estes objetos pessoais. Ele sabe de suas dificuldades econômicas e sente-se culpado por elas. Por isso encarregou-me de deixá-la em melhor situação. Quanto aos objetos, pediu que lhe entregasse para que a senhora fizesse o uso que melhor lhe aprouvesse.
_ Diga a ele que não tem porque se sentir culpado de nada. Não posso aceitar este dinheiro. Diga que minhas finanças já estão em ascensão e que agradeço muito a sua preocupação.
Ao abrir o embrulho de couro que M. Marback lhe dera, sentiu-se estremecer.
_ Diga a Erik que guardarei estes objetos até o dia em que ele os quiser de volta.
Saímos do café e Paul levou-me até em casa num coche alugado.
_ Desejo-lhes toda a sorte do mundo. Obrigada por ser amigo de Erik. Ele precisa muito disso.
_ Madame, foi um imenso prazer conhecê-la.
Assim, despedimo-nos, sem prazo de reencontro.

2 comentários:

Pati disse...

Nossa!
fic da Ro + Fotos do filme = Pati no pronto socorro!!!!!!

Lucy disse...

Eu que não queria estar na pele de algum desses personagens que foram ao enterro.

Mas que situação mais constrangedora... Mas também, depois de tudo o que todos passaram, principalmente as últimas cenas vivenciadas no mesmo teatro em que todos se encontravam agora...

É complicado mesmo.

Sinto pela Christine porque, na verdade, está sofrendo muito, mas não pode deixar transparecer, para não magoar mais ainda o seu marido que - mesmo sufocado por tanta raiva daquele que achava ser maldito - estava tentando fazer o melhor para trazer alívio a sua esposa. Mas imagino a tamanha dor que ela estava sentindo, não é nada fácil...
Beijinhos